“Hoje é dia 22 de abril, certo?” Foi essa a pergunta que fiz ao longo desta data em uma cafeteria, um escritório, uma agência bancária e um estacionamento. Todas as pessoas que foram questionadas checaram seus celulares, ou até mesmo o bom e velho calendário de mesa. Em geral, a resposta era mais ou menos esta: “Ih, peraí… Ah sim. É sim, 22 de abril”. E ponto final.
Vendo que nada acontecia, nos quatro casos fingi a egípcia e relembrei em uma atuação digna de um filme noir americano: “É verdade… 22 de abril, dia do Descobrimento do Brasil”. E as pessoas, do outro lado, olharam incrédulas: “É verdade?” Uma até questionou: “Mas depois da Páscoa?”. Como se houvesse alguma ligação entre os fatos. Tipo se ao invés de o Santo Sepulcro ter estado no Monte Gólgota, em Jerusalém, estivesse no Corcovado, no Rio, já que Cristo está sempre lá, de braços abertos.
Enfim, o desconhecimento das pessoas sobre a data do Descobrimento, dia em que nosso País comemora 519 anos, mostra a quantas anda o carinho das pessoas com a brasilidade. Não estou falando de nacionalismo, ufanismo, ou até mesmo militarismo. Trata-se, apenas de demonstrar interesse em lembrar, aprender e valorizar quem nós realmente somos.
Esse desinteresse pelo Brasil, de modo geral, apenas se amplia com a polarização política, a rasidade dos assuntos debatidos e o desejo de estar por cima do outro, como um encosto demoníaco.
Ora, ainda ouvi de uma das pessoas. “Pelo menos devia ser feriado. Assim a gente lembrava”. Está aí o que eu pedi: a brasilidade no jeito mais cru de ser. Ah, se fosse feriado as pessoas decorariam até o nome das caravelas de Cabral, dos pais de Caminha e até mesmo quais nomes teve o Brasil antes de ser Brasil.
E se o Descobrimento, ou seja, o aniversário do Brasil passou em Branco, que dirá o dia de ontem. Feriado que cai num domingo, ainda com a Páscoa? Pobre Tiradentes. Ele que é considerado herói nacional, justamente pelos republicanos desejarem ressignificar a identidade brasileira, foi trocado por alguns ovos de Páscoa esse ano. Enfim: o inconfidente foi parar nos cafundós.
Mas, ainda bem que tem gente pensando no Descobrimento. Tanto é que tem outro estado reivindicando ser o verdadeiro Porto Seguro da esquadra portuguesa. Pesquisadores usam documentos históricos e cartas náuticas para provar que o litoral baiano, nem de perto, foi o local do Descobrimento.
Alagoas entra no páreo, com o litoral de Coruripe. Desde 2000, nas comemorações dos 500 anos, os especialistas querem provar isso, sendo solenemente ignorados. Na verdade, desde 1938, o jornalista e escritor Jayme de Altavila, na obra “História da civilização alagoana”, afirma que as primeiras terras brasileiras avistadas seriam as falésias de Coruripe.
E vai além, dizendo que o monte batizado como “Monte Pascoal” seria a serra da Naceia, em Anadia. E segue até a carta de Caminha, que informa ao rei de Portugal, D. Manuel, “que o capitão passou o rio, com todos nós outros, e fomos até uma lagoa grande de água doce, que está junto com a praia, porque toda aquela ribeira do mar é apanhada por cima, e sai a água por muitos lugares”.
Para o jornalista e escritor Jayme de Altavila, o rio é o Coruripe e as lagoas da foz do rio Poxim ou a lagoa do Jequiá, que está ligada ao mar. Enquanto isso, nenhuma lagoa de água doce se forma na região baiana a qual se atribui o Descobrimento.
Adiante na carta, Caminha diz que “a terra traz ao longo do mar em algumas partes grandes barreiras, umas vermelhas, outras brancas”. O estudioso alagoano entende essa descrição como as barreiras de Jequiá. O pesquisador diz que a geografia do local bate com a de Coruripe. Há quem diga que as barreiras vermelhas não compõem o cenário do litoral baiano, mas muito refletem no litoral alagoano. Seriam as falésias de Coruripe, São Miguel dos Campos, Gunga e Barra de São Miguel.
Do jeito que a coisa anda, talvez teria sido melhor chegado diretamente às Índias mesmo. Ou seja: de tudo isso que somos e vivemos, resta crer que: a culpa é do Cabral.
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