A repórter da Rede Globo nem havia começado a falar: estava em uma passarela sobre a rodovia, provavelmente para gravar o que os jornalistas de vídeo tradicional costumávamos chamar de “passagem”: vídeo com parte do texto que já foi apurado pelo próprio jornalista ou demais repórteres e vai compor a versão final do vídeo, fechada na redação. A imagem de fundo da rodovia é quase um clichê, o tradicional do tradicional para todo e qualquer acontecimento em rodovia.
Mas, como dizia Daniel Boorstin, bibliotecário do Congresso dos EUA, “o maior inimigo do conhecimento não é a ignorância, é a ilusão do conhecimento”. Depois de tantas Fake News envolvendo a frase “isso a Globo não mostra” inundando os grupos de whatsapp, os caminhoneiros tinham uma certeza, a repórter estava lá para mentir e por isso não foi onde eles estavam, foi só à passarela.
Reagiram no corpo-a-corpo, expulsando a equipe do local:
Algumas das frases ditas pelos caminhoneiros enquanto pacificamente pediam à jornalista, uma mulher, que fosse ao ponto onde eles estavam parados e não ficasse na passarela: ‘Vocês são um lixo!’; ‘Se voltar de novo, essa câmera vai parar lá embaixo’; ‘Olha aí, galera, esses repórteres vagabundos falando mentira’ (para uma aglomeração adiante); ‘Vocês têm medo, pô? Vai lá babar ovo de Temer mesmo!’; ‘Aqui é etanol, isso pega fogo rápido também, pega fogo rápido’
Um dos integrantes da equipe de reportagem, ao chegar ao carro da emissora depois de ser seguido por um grupo numericamente maior que não parava de gritar xingamentos e ameaças, resolveu desabafar e dizer que eles eram vândalos. Entrou em campo o vitimismo e a negação das cenas que os próprios manifestantes gravaram e colocaram na internet:
‘Somos pacíficos, aqui não tem vândalo não’ – diz o rapaz que filmou a ação, o MESMO que disse a maioria das frases do parágrafo anterior.
O jornalismo brasileiro já viu este filme antes, com o mesmíssimo modus operandi, as mesmas desculpas de que era apenas a reação de vítimas da sociedade e a mesma complacência de aliados ideológicos: foi no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, durante o showmissa que antecedeu a prisão do ex-presidente Lula.
Poucas vezes tivemos exemplos tão gritantes a confirmar a teoria da ferradura, em que os opostos extremos são, na realidade, iguais. Qual é a diferença entre a forma de agir, a forma de se vitimizar quando flagrados e o apoio dos aliados ideológicos? Não consigo enxergar. Seja na CUT, seja nos caminhoneiros, o Brasil odeia ser responsável e disciplinado. Quer um herói macunaímico, um inimigo comum e uma baderna para se sentir valente do alto de sua comodidade sistêmica.
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