O impeachment de Fernando Collor foi muito mais rápido e mais dramático que o de Dilma Rousseff. As denúncias de corrupção no esquema PC Farias foram feitas pelo irmão do presidente da República, Pedro Collor, que morreu tragicamente aos 42 anos de idade, vítima de um tumor cerebral, metástase de um câncer de pele, 2 anos e meio após a denúncia.
A viúva, Thereza Collor, herdou os dois filhos e um drama familiar que teve as vísceras expostas para o Brasil. Criou os filhos, reconstruiu a vida, casou-se com o empresário Gustavo Halbreich e vive há 18 anos em São Paulo.
É uma mulher de família. O marido é companhia certa nos mais diversos eventos, fala dela com orgulho mesmo na sua ausência. Quando fala de política, ela leva em conta o que ele pensa e planeja ao relatar os planos para o futuro. O drama nacional e pessoal vividos no impeachment de Fernando Collor não deixaram rastros de amargura nem marcaram a pele. Thereza Collor parece incrivelmente jovem e livre, difícil acreditar que aquela mulher é a mesma que viveu o drama que carregou o Brasil na década de 90.
As pessoas que me cercam e que me rodeiam não merecem, né? Toda pessoa carrega sua cruz.
Nos idos de 1992, durante a entrevista coletiva de Pedro Collor denunciando os esquemas de corrupção do irmão, a primeira-cunhada aprendeu na prática o que diz Pablo Milanés em “Canción de Cuna para una niña grande” (Canção de ninar para uma menina crescida):
Luego la vida te habrá de enseñar:
con la belleza no es fácil andar
(A vida vai te ensinar rápido que não é fácil conviver com a beleza)
A saia que ela usou na entrevista foi mais comentada que a denúncia em si, algo que viria a apear do poder o presidente da República.
O que interessa de que é meu tecido, de que é minha saia, de que tamanho? Com uma questão tão grave, as pessoas passarem a dar atenção a isso.
O casal foi praticamente expulso da família Collor. Perderam também os amigos. Socialmente era conveniente dizer ser a favor do “Fora Collor” mas, na prática, muita gente achava melhor se resguardar caso a iniciativa não desse frutos.
Naquele momento, muito pouca gente ficou do nosso lado porque não era conveniente, né? Ninguém acreditava que o presidente iria ser destronado. Foi uma atitude que o Pedro iniciou e eu estava do lado, eu dividi com ele toda aquela questão, eu tomava a palavra porque o Pedro, sobre ele foi uma chuva de denúncias, de processos, cível e criminal.
Thereza Collor pensava que aquele momento seria realmente um divisor de águas, acompanhando o que a maioria do país julgou.
Eu achei que ali, foi um momento de tanta dureza, dificuldade, a vida virada, a família muito exposta, tudo o que aconteceu. A gente achava que aquilo ali fosse uma lição para a classe política. Quando você derruba um presidente, você acha que… o que pode mais? Você está no topo da pirâmide. (…) Eu achei que era o exemplo para os políticos de que você não é eterno naquele cargo, de que você tem de respeitar a causa pública, mas não aconteceu.
Menos de 25 anos depois do impeachment de Fernando Collor, o Brasil fez o impeachment de Dilma Rousseff e lida ainda com problemas gravíssimos no setor público.
O país, passados 26 anos, o nível de amadurecimento da classe política foi baixíssimo e falta amor pelo país. Eu acho que falta amor pela coisa pública, zelo. Não adianta querer estar rico sozinho, não vale a pena isso, tem de ser o todo, o conjunto.
Thereza Collor decidiu entrar oficialmente na política, onde vai encontrar personagens que reinaram no governo Fernando Collor e conseguiram sobreviver intactos a todos os outros que se seguiram.
De uma certa forma, eu sou uma pedra no sapato, né?
Apoiadora das 70 medidas contra a corrupção e conhecedora das entranhas da política, ela não tem ilusões de uma renovação absoluta do Congresso Nacional ou de novos nomes na Presidência da República, mas tem planos.
Se a gente não dominar pelo número de congressistas, vamos dominar pelo barulho. Vamos dominar por contar com a população. Vamos para a rua, vamos fazer movimentos. Quem está no Congresso está representando a população, então eles precisam ser conscientes de que tem de melhorar, de que tem de mudar.
Conta ter decidido entrar para a política agora por não conseguir mais ficar no silêncio de historiadora e no conforto da família. Não entende como as obrigações básicas de quem serve o povo brasileiro passaram a ser diferenciais que garantem uma eleição.
Candidatos que não foram cooptados por esse esquema, eles vão ser eleitos porque eles não participaram desse sistema de roubar. Então, uma grande qualidade é ser honesto quando deveria ser uma obrigação. Às vezes você nem é tão eficiente no seu mandato, não tem tantas ideias pelo Brasil, mas só pelo fato de você ser uma pessoa digna, honesta, você ganha uma eleição, por uma coisa que era obrigação de todo mundo.
Pré-candidata a deputada estadual por São Paulo, defende que se faça definitivamente uma faxina na estrutura de corrupção.
Eu servi Alagoas depois de tudo aquilo e sempre acompanhando, mas não pensava mais que estaria na cena política tão próxima. Quando a gente vê tudo o que tá acontecendo e ainda personagens daquela época atuando e esse sistema de corrupção que não acaba. Ao contrário, ele até se proliferou, se banalizou. A gente abre uma portinha… eu ia dizer que é uma caixinha de surpresas, mas não é. A gente sabe que dali vai sair escândalo.
Se é conhecida como pessoa afável que sabe receber bem, Thereza Collor também é aquela que sabe exatamente tudo o que os poderosos fizeram no verão passado. Blindada da briga em Alagoas, aguarda uma chance de entrar na política por vontade própria, sem dramas familiares e pelas vias oficiais. Não há dúvidas: é uma pré-candidatura muito incômoda.
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