Definitivamente, Michelle Bolsonaro roubou a cena na posse. Com carisma e leveza, fez o máximo da quebra planejada do protocolo e virou o centro das atenções – tem potencial para se tornar a estrela da família.
Embora as feministas não tenham comemorado, Michelle Bolsonaro fez o que nunca antes na história desse país havia sido feito: a mulher falar antes do marido empossado, colocando como prioridade uma agenda própria, a da defesa de pessoas com deficiência.
Temos uma sucessão de presidentes homens com famílias tradicionais. São longos casamentos sem demonstrações públicas de afeto em que a mulher vem sempre depois, ainda que defenda uma agenda de igualdade das mulheres, como fazia Ruth Cardoso. A outra versão – de Collor e Temer – é a do homem mais velho casado com uma mulher mais nova que não tem voz e dedica a vida a apoiar o marido.
O primeiro governo a se eleger com uma defesa clara da família tradicional é o do presidente da República com a família menos tradicional. Casado pela terceira vez, com uma mulher bem mais nova e filhos de todos os casamentos, Jair Bolsonaro vive, na prática, uma realidade da maioria das famílias brasileiras: a busca da felicidade apesar das circunstâncias. Não há famílias perfeitas, mas há a escolha entre manter as aparências na infelicidade ou buscar a felicidade se sujeitando ao julgamento social.
O resultado é que, diferentemente dos demais casais presidenciais, Michelle e Bolsonaro são antes família e depois política. Isso dá direito a beijo na boca durante o ato de posse e a quebra do protocolo para que se deixe bem claro a importância que o presidente dá àquilo que é prioritário para sua mulher.
Se Jair Bolsonaro se intitula o mais conservador dos presidentes e defensor da família tradicional, na prática apresenta ao Brasil um modelo de vida a dois contemporâneo, muito mais próximo da expectativa do mundo de hoje, em que a mulher não é feita para viver os sonhos do marido, mas trilha um caminho ao lado dele, com brilho e escolhas próprias.
Num meio em que a palavra feminismo é demonizada, contraditoriamente, sem fazer nenhum discurso ou militância, mas com a demonstração pública e oficial de um novo modelo de família, Michelle conquista um espaço histórico para as mulheres brasileiras. Tomara que os homens fãs de Jair Bolsonaro comecem esse novo Brasil implementando nas próprias famílias o que o presidente já implementou na dele.
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