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Alguém acredita em algo pois foi condicionado a acreditar naquilo” (Aldous Huxley, em Admirável Mundo Novo)

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Pelo melhor de meu conhecimento, o Brasil nunca enfrentou tantos choques negativos como os ocorridos nos últimos 4 anos: o maior desastre ambiental de nossa história (Brumadinho), a maior pandemia de nossa história (Covid-19), a maior crise hídrica da de nossa história, uma quebra de cadeias produtivas, a maior guerra dos últimos 75 anos (guerra da Ucrânia) e o maior ciclo de aumento da taxa de juros (taxa de 2 anos) americana desde 1980 (aumento de 5pp). Adicione a isso o fato de que o período 2014-2020 consiste nos sete piores anos da história econômica brasileira.

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Vários dos choques listados acima afetaram todas as economias do mundo: a pandemia, a quebra de cadeias produtivas, a guerra na Ucrânia e o aumento da taxa de juros internacional. Esses fatores geraram profundas modificações nas relações econômicas, tal como a realocação do investimento do leste europeu e de partes da Ásia para países mais próximos e aliados às democracias ocidentais; o salto nas tecnologias digitais e de trabalho à distância; o pesado endividamento de algumas empresas, famílias e governos decorrente da pandemia, do expressivo aumento global no preço da energia e combustíveis ocorridos em 2022 e do aumento da taxa de juros internacional. O mundo mudou e novos desafios ganharam relevância.

Vários dos custos da pandemia ainda não apareceram, mas cobrarão seu preço. Evidências da pandemia de 1918 (gripe espanhola) sugerem que o prejuízo educacional desses eventos pode durar décadas, penalizando toda a geração que estava em idade escolar no período 2020-21. Na saúde pública, o atraso na realização de exames e cirurgias terá impactos negativos na população adulta. Por fim, o aumento do endividamento de famílias, empresas e países na pandemia, combinado com a elevação da taxa de juros, muito provavelmente provocará aumento na inadimplência em vários mercados.

Vários dos custos da pandemia ainda não apareceram, mas cobrarão seu preço

Há um movimento em marcha nos subterrâneos da economia. Ao mesmo tempo em que o investimento internacional procura novas oportunidades, a taxa de juros e o endividamento elevado, associados aos custos dos choques recentes, aumentam a incerteza. Adicione-se a isso a guerra na Ucrânia e a instabilidade em regiões da Ásia.

O mundo mudou. É difícil perceber uma mudança estrutural quando estamos condicionados a ver o mundo com os padrões do passado. Vários países importantes, como Alemanha e China, estão com retomada lenta na economia. Nesse momento é fundamental não aumentar a insegurança e, se possível, se preparar para um novo ponto de equilíbrio. Para o Brasil a lição é simples: avançar na agenda microeconômica para destravar o crédito, reduzir a taxa de juros, melhorar os marcos legais e aumentar a segurança jurídica do investimento. Na nova realidade mundial, retroceder em reformas pode ter um custo muito mais alto do que alguns imaginam.

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Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]