Nem ministro da Defesa de Lula classificou 8 de janeiro como tentativa de golpe de Estado.| Foto: Marcelo Camargo/EFE
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A esquerda passou anos e anos chamando a tudo de golpe e a todos de golpistas. O impeachment de Dilma Rousseff? Golpe! Houve manifestações, palestras, seminários, livros com esse termo: O golpe de 2016, A herança do golpe, A queda de Dilma Rousseff: Jornal Nacional e o golpe de 2016, e também 2016: golpe de Estado e o neoliberalismo de Temer a Bolsonaro. Até documentários foram feitos.

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A Lava Jato? Outro golpe contra a esquerda para colocar Lula na prisão. E articulado com os Estados Unidos e a CIA, ainda por cima! Referindo-se à Lava Jato e aos casos de corrupção na Petrobras, o presidente Lula disse que “tudo que aconteceu neste país foi uma mancomunação entre alguns juízes deste país, alguns procuradores deste país, subordinados ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos, que queriam e nunca aceitaram o Brasil ter uma empresa como a Petrobras”.

A cassação do mandato de parlamentar de Deltan Dallagnol foi a vingança pelo famoso power point. Lula mesmo disse querer se vingar: “Uma coisa que eu tenho muito orgulho é que o procurador entrava para ver se estava tudo bem, eu falava: ‘Não está tudo bem. Vai ficar quando eu f**** esse [ex-juiz e hoje senador Sergio] Moro. Estou aqui [na cadeia] para me vingar dessa gente, e se preparem que eu vou provar’”.

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Quando um termo é continuamente repetido sem base real, seu valor diminui

E, se a Lava Jato foi um golpe, nada mais justo que soltar e reabilitar Eduardo Cunha, Sérgio Cabral, José Dirceu, Marcelo Odebrecht, Beto Richa, André Vargas, Gim Argello, Delubio Soares, João Vaccari...

Jair Bolsonaro e os bolsonaristas foram chamados de golpistas desde o começo do governo anterior. No fim de 2022, os manifestantes diante dos quartéis também eram golpistas. Depois, veio o notório 8 de janeiro: manifestações, invasão dos palácios dos três poderes, vandalismo. Todos golpistas também, claro! Foi tentativa de golpe, “atos antidemocráticos”.

Mas até o ministro da Defesa de Lula, José Múcio Monteiro, não viu assim: “No governo anterior havia pessoas que desejavam o golpe, mas não havia um líder que dissesse assim: ‘Nós queremos, eu sou o chefe, vamos’. Não existe revolução sem um chefe”, disse. E mais: “Havia um ambiente já de confusão. Ficamos bem perto das pessoas. Não havia um líder com quem negociar. Eram senhoras, crianças, rapazes, moças. Como se fosse um grande piquenique, um arrastão em direção à Praça dos Três Poderes. Foi um movimento de vândalos, financiados por empresários irresponsáveis”. Idosas, aposentadas, donas de casa, pais de família pegaram décadas de prisão por golpe de Estado. Parece até que já tinham partido dessa premissa! Parece que queriam ligar Bolsonaro a tudo isso desde o começo.

Há até “mídia golpista”. O juiz instrutor Airton Vieira, assessor de Alexandre de Moraes no STF, enviou uma mensagem para Eduardo Tagliaferro com um pedido específico: “Vamos levantar todas essas revistas golpistas para desmonetizar nas redes”.

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No Brasil, até pequenas fraudes cotidianas são “golpe”: há golpes em bancos, pelo celular e pela internet, do bilhete premiado, dos falsos funcionários de empresas de energia... até “golpe da barriga”! Confundem golpe com golpe de Estado.

Historicamente falando, também se mente muito a esse respeito. A chamada “proclamação da República”, em 1889, foi na verdade um golpe militar que depôs um imperador; o golpe de Getúlio Vargas, em 1930, é chamado de “revolução”; desde 1992 Fernando Collor chama seu impeachment de golpe. Se não há honestidade intelectual para casos de décadas atrás, imaginem para casos recentes...

É como na velha historinha de “Pedro e o lobo”. A criança grita “lobo!”, várias vezes, mentindo; quando o lobo vem de verdade, ninguém acredita. Parafraseando James Carville, “é a inflação, estúpido”: quando um termo é continuamente repetido sem base real, seu valor diminui.

Quem chama tudo de “golpe” e todo mundo de “golpista” não poderá se surpreender depois se, quando houver uma suspeita de cogitação/preparação de golpe de Estado real, muitas pessoas não acreditarem.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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