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Praça dos Três Poderes e Esplanada dos Ministérios, em Brasília
Praça dos Três Poderes e Esplanada dos Ministérios, em Brasília.| Foto: Geraldo Magela/Agência Senado

Quem manda, sempre mandou na história e sempre mandará é a minoria em cima da maioria, são as elites politicas e não o povo. Gaetano Mosca o afirmava como uma verdadeira lei sociológica.

Todas as sociedades são organizadas hierarquicamente e piramidalmente. A política é um fenômeno top-down, de cima para baixo, e não bottom-up, de baixo para cima. Quem mostra isso é a Escola Elitista de Ciência Política. A maioria, exatamente por ser composta por muita gente, tem um custo muito grande para se organizar e um eventual retorno individual pequeno; por outro lado, as minorias têm um custo menor para se organizar e um retorno individual maior. Portanto, as minorias organizadas ganham da maioria desorganizada.

Em todos os movimentos, associações, partidos etc. tende a nascer um grupo interno, uma oligarquia que comandará. Isso ocorre por vários motivos, como a necessidade de se burocratizar ou a especialização, em cada um acaba se dedicando a algumas tarefas específicas. Consequentemente, a oligarquia tende a se preservar no poder mais do que a tentar alcançar os objetivos do grupo, pois, entre o interesse individual e o interesse coletivo, não se espera que um ser humano normal sacrifique o primeiro no altar do segundo; e a oligarquia acaba ficando mais moderada em relação aos objetivos iniciais, pois essa é uma das formas de se garantir no poder. Esta é a Lei de Ferro das Oligarquias. O cientista político Robert Michels a descobriu no caso do Partido Social-Democrata alemão, mas ela se aplica a todos os partidos, organizações, sociedades e até ao Estado mesmo.

Todas as sociedades são organizadas hierarquicamente e piramidalmente. A política é um fenômeno top-down, de cima para baixo, e não bottom-up, de baixo para cima

Sempre foi assim: no limiar entre 1800 e 1900, com a ascensão da sociedade de massa; no movimento constitucionalista; no sufrágio universal; na democracia representativa; nos partidos de massa; nos meios de comunicação. As coisas mudaram, pero no mucho: as pessoas se empolgaram, mas as elites encontraram uma forma de se manter no poder. Em resumo, “tudo mudou para que nada mudasse”. Com as eleições, o povo vota, mas o cardápio é fechado: quem escolhe os candidatos são os caciques dos partidos. “Não somos nós a elege-los, são eles a se fazer eleger”, dizia Michels; as elites continuam tendo mais poder. Desde sempre já estavam no poder; cederam um pouco, mas não totalmente, só o suficiente para aplacar a animosidade e se manter no poder.

O internacionalista Bruce Bueno de Mesquita ficou famoso por várias grandes previsões: previu o que aconteceria a Hong Kong depois da saída dos britânicos; quem substituiria Ali Khamenei; o desfecho das políticas nucleares iraniana e norte-coreana – tudo com base no estudo das dinâmicas entre as elites no poder. Atualmente, os estudiosos elitistas estudam bastante a qualidade das elites, suas opiniões e a distância entre ela e a população, cientes de que é disso que depende a trajetória política de um país.

No Brasil, o termo “elites” é muito usado, até no jargão popular, para se referir aos ricos. Não é este o caso aqui; há vários tipos de elites (econômica, cultural, militar, midiática etc.), mas de forma geral fala-se de “elite política”. É a política que manda na economia e não o contrário, como acredita o vulgo marxista. A elite não é uniforme, evidentemente; tem várias divisões internas, e isso faz com que se abram brechas e elas sejam um pouco dinâmicas. O ponto é o quanto as elites são fechadas ou abertas. É assim no mundo todo; o que muda é o grau, a intensidade, não a natureza, ainda que em alguns países seja possível “domar” um pouco mais a elite.

A política, especialmente em países pobres ou de renda média, não é explicada pela participação, pela opinião pública, pela vontade popular e por instâncias que vêm de baixo. Esse pode até ser o ideal de muitos, mas não é o mundo real. O que explica a política é a elite, que tem a caneta na mão. Não somos nós que mandamos, não somos nós que delegamos a eles o poder, eles não são nossos representantes. O poder não se delega, se toma.

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