Imagem ilustrativa.| Foto: Marcio Antonio Campos com Midjourney
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David Easton define a política como “alocação autoritativa de recursos” – “autoritativo” no sentido de “coercitivo”, ou o conjunto de decisões coletivas e coercitivas de como alocar os recursos. Ou seja, quem toma o poder toma o tesouro, coloca as mãos no orçamento e decide como alocá-lo. Mas como dividir esse bolo? A Teoria dos Jogos faz várias simulações matemáticas e pode nos ajudar a entender.

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O “jogo do pirata” mostra que o líder político (presidente, prefeito, líder partidário etc.) não pode tomar tudo para si; ele tem de dar algo a seus fiéis para incentivá-los a apoiá-lo. Mas não precisa dar muito: precisa só entregar um mínimo a mais do que seu adversário daria, e só para a maioria deles, não para todos. Dessa forma, ele consegue se garantir no poder.

O problema é que geralmente os recursos são diversos, os agentes também têm preferências variadas, e a distribuição se complica. O jogo do “corte da torta” mostra que, ao se dividir entre pessoas com gostos diversos uma torta com diferentes sabores, com alguns pedaços com cereja em cima e outros não (uma analogia para bens ou serviços heterogêneos, como lotes de terra, espaços publicitários ou horários de propaganda na televisão), nunca se consegue contentar todo mundo. O ponto é que, independentemente do critério que se aplique (igualdade ou eficiência), a distribuição nunca será perfeita.

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Quem toma o poder toma o tesouro, coloca as mãos no orçamento e decide como alocá-lo. Mas como dividir esse bolo?

Até sair para jantar com os amigos é complicado. Quando se divide a conta em partes iguais, cada um tem o incentivo a pedir pratos mais caros, sobremesas, bebidas etc. Cada indivíduo sabe que o item escolhido vai encarecer a conta total, mas sabe também que o custo a mais será distribuído entre os demais; individualmente, não ficará tão oneroso. O problema é que todos os indivíduos têm esse incentivo e muitos vão se aproveitar. Logo, a conta total ficará bem maior para todos. Cada um acha que vai se beneficiar, mas na verdade todos saem prejudicados. É o dilema do jantar. Uma boa metáfora da política.

O quadrante de Friedman (Milton Friedman, Prêmio Nobel de Economia) aqui em baixo, mostra que 1. quando você gasta seu dinheiro consigo mesmo, tem incentivo a prezar pela qualidade, mas também pelo preço (baixo); 2. quando você gasta seu dinheiro com outros, o incentivo é a pensar no preço (baixo) e não na qualidade (ainda mais quando nem se conhece ou ama a pessoa, como na relação entre burocratas e cidadãos); 3. quando você gasta o dinheiro de outros com você, o incentivo é focar na qualidade e não se importar com o preço (alto); 4. quando você gasta o dinheiro dos outros com outros, o incentivo é não se importar muito nem com a qualidade, nem com o preço. E assim funciona a maioria das decisões políticas.

O quadrante de Friedman.| Foto: Elaboração própria

Por sorte, vários experimentos sociais mostram (contra as hipóteses dos pesquisadores) que, mesmo quando uma pessoa tem a possibilidade de não dar nada aos demais (caso dos ditadores ou políticos com muito poder), estando os demais totalmente passivos, essa pessoa quase sempre entrega algo aos outros mesmo assim. Isso pode acontecer por vários motivos: querer ser bem-visto, ter boas relações com seu próximo, prevenir-se contra uma eventual e futura relação contrária; ou então por ter alguma ligação pessoal com o outro jogador. Isso é o jogo do ditador.

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A política é isso: não é uma questão de competência, de altruísmo ou de amor pela pátria, mas simplesmente uma questão de incentivos. A ciência ajuda a entender, mas o velho ditado popular já sabia e dizia: “quem reparte fica com a melhor parte”.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]