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Mais que uma vitória de Donald Trump, o resultado das eleições de terça-feira é uma derrota de Kamala Harris e do Partido Democrata de forma geral.
Trump já perdeu uma eleição, em 2020, quando o eleitor escolheu outro candidato, Joe Biden. Apenas quatro anos atrás, a população mostrou que não o desejava. Trump tem uma rejeição muita alta; até entre votantes republicanos, muitos dizem não gostar da personalidade dele. Mas votaram em Trump mesmo assim, porque achavam que a outra alternativa seria pior – sendo os EUA bipartidários, praticamente há só duas alternativas: se o eleitor não gostar de x, só resta y.
Se por um lado Trump não é um candidato popular, os democratas têm responsabilidade pela escolha de sua candidata. Insistiram em uma segunda candidatura de Biden, que já estava senil a ponto de todos os analistas o considerarem um nome sem chances; depois, escolheram Kamala Harris não porque fosse a melhor candidata para governar ou para derrotar Trump, mas única e exclusivamente porque, fazendo parte da chapa precedente com Biden, era a única que podia continuar a campanha com os financiamentos recebidos sem ter de zerar tudo.
As primárias democratas foram apenas pro forma, mas elas são um processo importantíssimo no qual, entre outras coisas, os candidatos são forçados a debater, adquirindo habilidades que depois serão usadas na campanha eleitoral. Não por acaso, Kamala Harris foi muito mal na entrevista para a Fox News em outubro; simplesmente não soube responder às perguntas, perdendo tração nas pesquisas de intenção de voto. Kamala não tem carisma, e em eleições presidenciais isso é fundamental.
O Partido Democrata se elitizou, perdeu contato com o povo e com a classe média, e se infantilizou, focando muito na agenda woke, transformada em sua única proposta
A verdade é que os democratas não têm candidatos. O último líder popular foi Barack Obama; ele conseguiu eleger Biden (que fora seu vice) presidente porque é um kingmaker, mas esse efeito positivo não chegou até Kamala.
Um dos principais temas dessa eleição, que levou as pessoas às urnas e que favoreceu os republicanos, foi a imigração ilegal. Durante a administração Biden, a entrada de imigrantes ilegais aumentou de forma exponencial. Quem os deixou entrar foram os democratas. Kamala Harris chegou a ser incumbida pelo presidente de resolver essa questão, e faliu fragorosamente.
Durante um comício na Filadélfia (que fica na Pensilvânia, um estado-pêndulo crucial), Obama tentou convencer a comunidade muçulmana a votar nos democratas afirmando que Trump “quer deportar muitos de vocês e diz que vocês não fazem parte da nação”. Esse argumento, no entanto, não leva ninguém a votar nos democratas; no máximo, leva as pessoas a desistir de votar, já que o voto não é obrigatório nos EUA. Na mesma Pensilvânia, Kamala, que sempre foi contra o fracking, teve de rever sua posição porque há muitos interesses econômicos envolvidos neste método de extração de gás naquele estado. Mas sua reviravolta não era crível.
Os democratas também apostaram bastante na questão do aborto, mas isso levou poucas pessoas às urnas – e quem votou mobilizado por este tema já votaria nos democratas de qualquer maneira. Nas relações internacionais, os democratas foram um desastre. Durante o mandato Biden houve a vergonhosa saída do Afeganistão, a invasão da Ucrânia e o ataque terrorista de Hamas contra Israel.
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Em comparação, durante o primeiro mandato de Trump não houve nenhum novo conflito e, apesar do discurso de que ele começaria uma Terceira Guerra Mundial, o então presidente não iniciou nenhuma nova guerra.
Por fim, a estratégia democrata de apelidar Trump e, indiretamente, seus eleitores de antidemocráticos, fascistas e nazistas não ajudou a reverter o voto desses apoiadores. Foi esse discurso inflamado e desumanizante, aliás, que levou às duas tentativas de homicídio contra o republicano.
O Partido Democrata se elitizou, perdeu contato com o povo e com a classe média, e se infantilizou, focando muito na agenda woke, transformada em sua única proposta, mas que não gera interesse entre as pessoas comuns – pelo contrário, desperta até discordância. O numero de jovens de direita é minúsculo, mas crescente; a contracultura (especialmente entre jovens) é ser de direita. Ser rebelde e transgressivo é votar Trump! O Partido Democrata se encastelou, virou establishment, domina Washington, a mídia, as universidades e até a maioria do Vale do Silício. E não tem novas propostas. Está em uma fase decadente.
Essa eleição foi como um pênalti defendido, em que a responsabilidade é menos do goleiro que pega, e mais do chutador que cobrou mal
Pelo contrário, os republicanos, depois de décadas vistos como elitistas, encontraram um líder que, apesar de ser riquíssimo, consegue ser identificado com o povo. Esse líder abriu novos temas: foi ele quem disse que o inimigo não era a Rússia, mas a China; foi ele quem mudou a politica externa em direção ao isolacionismo (pescando na tradição, mas contra a praxe das ultimas décadas); foi ele quem adotou a proposta antiglobalista. O Partido Republicano é agora mais fresco.
Curiosamente, Trump era registrado como eleitor democrata de 2001 até 2008, financiou candidatos democratas e já havia dado declarações em favor dos democratas. Os democratas perderam Trump. Aliás, a gota final que convenceu Trump a entrar na política e a se candidatar em 2016 foi o fato de Obama ter ironizado uma possível candidatura do tycoon. Isso o irritou, levando-o a querer demonstrar que era capaz de ganhar as eleições.
Isso não significa que Trump não tenha méritos; ele tem vários, é muito carismático e inovou muito. Mas essa eleição foi como um pênalti defendido, em que a responsabilidade é menos do goleiro que pega, e mais do chutador que cobrou mal.
Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos