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Adriano Gianturco

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Poder

Lula, Maquiavel e a fome: por que os políticos mentem

Políticos mentem o tempo todo
Políticos mentem, e ainda há quem justifique essa compulsão pela mentira. (Foto: Marcio Antonio Campos com Midjourney)

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Recentemente, no G20, Lula repetiu para o público estrangeiro que o Brasil tinha 33 milhões de pessoas famintas, e acrescentou que os dados seriam da FAO. Em 2003, o então secretário de Estado norte-americano, Colin Powell, mentiu na ONU, mostrando falsas provas de antrax como evidência de que o Iraque teria armas químicas de destruição em massa. Antes da sua eleição, Hugo Chávez afirmou que não ia nacionalizar as empresas estrangeiras. O ex-presidente norte-americano Bill Clinton inicialmente negou ter tido relações sexuais com a estagiária Monica Lewinski. Outro ex-presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon, mentiu sobre o Watergate.

Nos anos 1970, os Pentagon Papers mostraram que o presidente e o Exército norte-americanos estavam mentindo ao afirmar que os EUA estavam vencendo a Guerra do Vietnã. Por anos, os EUA também negaram ter inserido sífilis intencionalmente na Guatemala, nos anos 1940. A China continua negando que o vírus da Covid tenha saído de um laboratório.

Quando organizam Jogos Olímpicos e Copas do Mundo, todos os governos do mundo dizem que os megaeventos irão aumentar o PIB, o turismo e as exportações. Tudo mentira. As mentiras sobre o meio ambiente são incontáveis: dizem que energia eólica é verde, que transgênicos fazem mal, que o planeta está ficando menos verde, que o número de pessoas mortas em catástrofes naturais está aumentando, e até que erupções e terremotos estariam ligados às mudanças climáticas! É aquele velho ditado transformado em estratégia por Goebbels: repetir uma mentira mil vezes, até que vire verdade.

“Um príncipe sábio não pode, pois, nem deve manter-se fiel às suas promessas quando, extinta a causa que o levou a fazê-las, o cumprimento delas lhe traz prejuízo.”

Nicolau Maquiavel

Às vezes, mentiras são tiros que podem sair pela culatra. Durante a Crise dos Mísseis de 1962, por exemplo, o ditador russo Nikita Kruschev mentiu, mas, como resultado, os Estados Unidos escalaram o confronto e a União Soviética teve de ceder.

O contexto importa. Mente-se mais nas crises e nas guerras. “Deve ter havido mais mentiras de 1914 a 1918 do que em qualquer outra época da história”, afirma Arthur Ponsonby. A área também conta: John Mearsheamer, na obra Why leaders lie, mostra que se mente mais nas relações internacionais, pois há muita assimetria informativa. A dúvida é se políticos e líderes mentem mais para outros países, pois as mentiras contadas a eles são mais toleradas; ou se mentem mais para o próprio povo, pois os outros países tendem a desconfiar, enquanto a opinião pública doméstica pode ser manipulada mais facilmente. Outros autores pensam que nas democracias se mente mais que nas ditaduras, mas na verdade é que nas ditaduras as mentiras vêm menos à tona.

Mentir humanum est, mas em política a coisa toma outras dimensões. Basta olhar a proporção das mentiras expostas por Edward Snowden, Julian Assange e os Panama Papers. Mas por que isso acontece? Especialmente por duas razões: porque quem tem poder tem também o poder de mentir; e porque alguns justificam as mentiras dos políticos para algum fim superior.

Nicolau Maquiavel já dizia: “Um príncipe sábio não pode, pois, nem deve manter-se fiel às suas promessas quando, extinta a causa que o levou a fazê-las, o cumprimento delas lhe traz prejuízo”. E ainda: “Mas é preciso mascarar bem essa índole astuciosa, e ser grande dissimulador. Os homens são tão simplórios e obedecem de tal forma às necessidades presentes, que aquele que engana encontrará sempre quem se deixe enganar”. James Mill (o pai de John Stuart Mill) alegava: “Em política, espalhar desinformação não é uma quebra de moralidade, mas um ato meritório, quando evita o desgoverno”. Segundo ele, a mentira na política é justificada “quando as pessoas fazem um mau uso da verdade” e em circunstâncias especiais, “nas quais um outro homem não tem direito à verdade”.

Essa é a típica visão utilitarista que foca nas consequências, e não nos princípios. E tem um certo paternalismo embutido. É o Estado (pai) que mente ao povo (filho) – o contrário nunca é admitido, claro! Até o comediante Bill Murray notou: “se você mentir para o Estado é crime, se eles mentirem para você é apenas política!”

Mente-se para se perpetuar no poder. Mente quem pode, acredita quem quiser.

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

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