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O título “advisor” invadiu o Linkedin. Basta uma busca na plataforma para observar milhares de profissionais que adotam essa credencial. Mas será que todos entendem o que significa ser um advisor? Ou mais, será que alguém já definiu o que são, comem, vestem e onde vivem?
Reflexo dos novos tempos: não somente os ciclos empresariais encurtaram-se como os ciclos profissionais também. O cofundador do LinkedIn, Reid Hoffman, acredita que atualmente as carreiras são “missões de serviço”: tanto empresas quanto profissionais entendem que elas permanecerão apenas alguns anos. Os dias de uma carreira estável e contínua ficaram no passado.
A palavra “ciclos”, aliás, poderia estar no título desta coluna. Estando no meu terceiro ciclo profissional, hoje sou, entre outras coisas, um advisor. Começa aqui uma característica desse papel: advisors não são só advisors; eles são alguma outra coisa e, aparentemente, nas horas vagas, por hobbie, necessidade, desenvolvimento pessoal (ou ego), apresentam-se também como advisors.
Então, o que há por trás de pessoas com mais ciclos profissionais, variadas competências e que se intitulam advisor? Talvez seja melhor começar dizendo o que advisors não são: consultores, pela perspectiva clássica dessa atuação; conselheiros de administração formais, daqueles que tomam cafezinhos em grandes salas de companhias listadas na bolsa; experts alocados em projetos complexos de grandes clientes de companhias Big Four; ou ainda gente boa e experiente que arruma mentorias ou investe pontualmente em startups - ambas ações válidas para se atualizar -, mas que imediatamente cravam uma fábula no Linkedin.
Advisors são profissionais “raiz”. Já empreenderam, faliram, investiram, ganharam e perderam. A maioria são empreendedores, investidores ou experientes em alta gestão. Eles vivem um Shark Tank na vida real: investem e apoiam ideias interessantes, inovadoras, que despertam sua atenção e propósito. Isso os lapidou a serem absolutamente diretos e, às vezes, até mal educados. Habitam um mundo sem tempo a perder com reuniões periódicas, templates e agendas imutáveis. Fazem parte de um universo hiperconectado, sinônimo de quebra de formalidades mesmo na alta gestão.
Em meu novo livro, “Advisors: agora são outros conselhos” busco lançar luz sobre a importância do tema tanto para empresas como para startups. Grande parte dos advisors pode ser dividida em duas categorias: mentores práticos que criaram suas próprias empresas do zero ou profissionais do setor com experiência e contatos significativos no seu nicho. Idealmente, startups precisam de orientações dos dois tipos. Já empresas estabelecidas precisam mais do primeiro.
O livro é na verdade uma coletânea de provocações e insights desses dois tipos de advisors que orbitam o Programa MasterClass em Governança & Nova Economia. Temos aprendido que os canais de diálogo para tomada de decisão podem agora ser estabelecidos em qualquer lugar e a qualquer momento. Então advisors ganham espaço como uma resposta à demanda de conhecimentos e competências específicas, aplicados “on demand”; sua atuação tem tudo a ver com a velocidade das empresas modernas: competências múltiplas, abordagem arrojada e ritmo acelerado.
Há cuidados que precisam ser tomados ao buscar um advisor: o primeiro passo é saber ouvir. O empreendedor precisa ser individualista para acreditar e entregar um negócio independente do que as pessoas dizem, mas não pode fazer isso sozinho.
Outro desafio desse tipo de papel é que ele deve ser muito personalizado: ser capaz de dar bons conselhos requer conhecimento da empresa, bem como compactuar em certa medida com seus propósitos e futuro. Tem que rolar um clima. É, também, crucial capturar as nuances do mercado e a interação da companhia e de seus concorrentes.
Por outro lado, a noção de que advisors são donos de toda sabedoria é equivocada e não corresponde à realidade. Os advisors não têm as respostas para todas as perguntas e desafios. Não são gurus disruptivos e messiânicos. De início, eles podem saber o básico ou ainda saber quem indicar, mas o mais importante é pensar a relação como uma parceria, um time trabalhando junto. Na verdade, se um advisor disser que tem uma resposta óbvia para uma pergunta difícil, é melhor encarar com algum ceticismo. Cada empresa é uma empresa. Bons advisors tratam desiguais como desiguais.
Ainda assim advisors certos podem melhorar substancialmente uma empresa, desde questões operacionais, passando por melhores métricas e até mesmo funding. O crescimento inicial do Spotify, por exemplo, foi impulsionado por seu relacionamento com o Facebook: o Spotify não apenas aproveitou a rede social para aumentar o número de pessoas que usam o aplicativo, mas também Sean Parker, cofundador do Facebook, atuou como advisor da plataforma de streaming musical entre 2009 e 2017.
De fato, advisors podem fazer sua empresa ou startup alcançar muitos dos seus objetivos mais rapidamente – este é o benefício de aproveitar outros profissionais experientes e “hands on”; eles atendem às dores dos negócios e se esforçam para oferecer ideias não convencionais, mas extremamente diretas e eficazes. Doa a quem doer. Ocorra quando ocorrer.