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Muita gente não entende como a taxa de desemprego cai justamente no atual governo do PT. Alguns atribuem ao aumento de beneficiários do Bolsa Família, no qual as pessoas poderiam preferir viver de auxílios governamentais a trabalhar.
O artigo de hoje responde se essa hipótese é verdadeira, além de levantar outros fatores capazes de explicar o aquecimento do mercado de trabalho atualmente no Brasil. Será que a queda do desemprego é mérito do governo ou está ligada a outras variáveis?
Inicialmente, vamos descartar a hipótese de manipulação de dados por parte do IBGE. O órgão é uma instituição séria e já demonstrou isso no passado, quando 18 coordenadores em 2014 ameaçaram pedir desoneração do cargo, após pressões do governo Dilma para segurar a divulgação de dados de mercado de trabalho desfavoráveis à gestão petista durante o período eleitoral.
Descartada essa hipótese, resta a suposição de que o aumento de beneficiários do Bolsa Família tem reduzido a taxa de desemprego. De fato, houve um aumento de beneficiados pelo programa, o que poderia explicar a queda do desemprego.
Para entender como esse efeito ocorre, é importante saber como é medido o desemprego. O conceito de desocupação (desemprego) utilizado pelo IBGE é aquele de pessoas que não trabalham e estão procurando emprego. Isso posto, se uma pessoa resolve viver de Bolsa Família, ela deixa de ser desempregada, diminuindo a taxa de desocupação.
Quando a pessoa escolhe não trabalhar, qualquer que seja o motivo, ela deixa de fazer parte da população economicamente ativa (PEA), o que reduz a taxa de desemprego
A redução, nesse caso, não advém do aumento do número de empregados, mas do fato de as pessoas saírem da base da população economicamente ativa. Em outras palavras, se você não trabalha por sua escolha, você não é considerado desempregado.
A hipótese da queda do desemprego pelo aumento de beneficiários do Bolsa Família é razoável, uma vez que houve queda na população economicamente sobre o total de pessoas com idade para trabalhar (PIA), concomitantemente com o incremento de famílias que recebem o benefício do governo, conforme apontado pelos gráficos abaixo.
A fim de medir este efeito, construí uma nova métrica de desemprego. No meu cálculo, considero desempregadas todas as pessoas em idade ativa que não trabalham. Este conceito inclui tanto aqueles que querem trabalhar e estão de fora do mercado de trabalho, como aqueles que optam por não trabalhar, como os que vivem de benefícios do governo ou de renda da família.
Por essa métrica, a taxa de desemprego no Brasil seria atualmente de 41%. Isso significa que há 72,8 milhões de pessoas em idade para trabalhar, e não trabalham no Brasil.
Neste conceito ampliado de desemprego, de fato, a taxa de desocupação recuou no Brasil. Antes da pandemia, a taxa estava em 43%, e agora, em 41%. Os dados mostram que há um aquecimento no mercado de trabalho. Agora, se esse aquecimento é mérito do governo, é outra história.
Percebe-se pelos gráficos que a queda da taxa de desemprego já ocorria no governo Bolsonaro, indicando uma tendência de recuperação no mercado de trabalho antes mesmo de Lula assumir.
Basicamente, duas razões estruturais, que nada têm a ver com o governo Lula, explicam o recuo do desemprego.
A primeira foi um dinamismo maior do que o esperado na recuperação do setor de serviços no pós-pandemia. Esse fenômeno não ocorreu apenas no Brasil, mas em vários países do mundo. Após 2 anos de restrições sanitárias, a demanda por serviços explodiu, aquecendo o setor, o que demandou muita mão de obra, reduzindo o desemprego.
O segundo motivo foi a reforma trabalhista aprovada no governo Temer, com impactos favoráveis e permanentes no mercado de trabalho nos anos posteriores à implementação da medida, segundo apontou um estudo do Insper.
Outro fator estrutural capaz de explicar o aumento do emprego foi o maior aquecimento no mercado de trabalho por conta de aplicativos de transporte e locomoção.
Esses aplicativos possibilitaram que milhares de pessoas desempregadas, inclusive de diversas áreas de formação, pudessem trabalhar rapidamente e compor a sua renda, seja com entregas ou dirigindo os aplicativos de transporte. Esses aplicativos trouxeram uma verdadeira revolução no mercado de trabalho e nas relações trabalhistas.
Por fim, a queda no desemprego pode ser explicada pela elevação do gasto público proporcionalmente ao PIB. O governo tem buscado induzir o crescimento econômico via elevação de gastos diretos e subsídios em taxas de juros e impostos.
No entanto, essa política, embora traga benefícios de curto prazo pelo aquecimento da atividade econômica, traz consequências negativas a médio e longo prazo, inclusive colocando em xeque toda a sustentabilidade do emprego atual.
De outro modo, o elevado gasto público traz consequências para a inflação e para a piora das expectativas dos empresários, levando posteriormente a um desaquecimento da atividade econômica e elevação do desemprego.
Inclusive, essa fórmula já foi adotada no Brasil durante o governo Dilma. Durante o seu mandato, a política fiscal começou a se deteriorar, levando a uma forte desaceleração da atividade econômica em 2014. Naquele ano, o desemprego também estava bem baixo, em 6,6% (dezembro de 2014).
No entanto, com a desaceleração da atividade econômica, decorrente dos problemas fiscais, o desemprego evidentemente aumentou rapidamente nos anos seguintes.
Aparentemente, conforme já escrevi em outros artigos, a história se repete. Primeiro, vem a piora fiscal. Depois, os impactos na inflação e na desaceleração da atividade econômica decorrente do enfraquecimento das contas públicas. Por fim, a piora das variáveis de mercado de trabalho, consideradas retardadas ao ciclo econômico, devido aos custos de admissão, demissão e treinamento.
Se isso ocorrer, já sabemos quem será o culpado pelo aumento do desemprego.
Conteúdo editado por: Aline Menezes