Em entrevista ao Roda Vida, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, e vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, disse “não ver com bons olhos a privatização da Petrobras”, sob o argumento de que a empresa é muito lucrativa.
De fato, a Petrobras distribui volumosos dividendos para o governo federal, além de pagar impostos para a União. No entanto, se a Petrobras fosse privatizada, a arrecadação do governo poderia até aumentar, mesmo sem receber um tostão de dividendos da gigante do petróleo.
Talvez uma das maiores falácias econômicas é que a empresa privada não gera receita para o governo. Pelo contrário, uma empresa privada paga elevados impostos para o Estado. E quanto mais lucrativas forem essas empresas, maior será a base de tributação, elevando consequentemente a arrecadação do governo federal.
A Vale, por exemplo, depois da privatização, passou a gerar mais receita para o governo do que quando era estatal. Os impostos pagos pela Vale privatizada eram maiores do que a soma de dividendos distribuídos e tributos desembolsados pela Vale do Rio Doce estatal.
A mesma lógica pode ser aplicada para a Petrobras. Caso privatizada, a gigante do petróleo poderia se tornar mais eficiente, gerando mais impostos para o governo federal. Sem dúvida, a empresa poderia se tornar ainda mais eficiente e lucrativa com a privatização, na medida em que limparia o interesse político de dentro da empresa.
Hoje, a Petrobras é influenciada por interesses políticos que não necessariamente vão ao encontro do objetivo econômico e financeiro de uma empresa
Por exemplo, quando a Petrobras não repassa os aumentos da cotação do petróleo no mercado internacional para o preço de combustíveis e derivados, está penalizando o lucro – portanto, a própria arrecadação do governo.
Mas não seria bom para a população a Petrobras não repassar os aumentos de preços do petróleo para a gasolina? Essa política não beneficia a população brasileira?
A resposta é não. Primeiro, porque o próprio governo perderá arrecadação, que poderia ser utilizada para políticas sociais ou abatimento de dívidas. Segundo, a perda de lucros da Petrobras, e de arrecadação do governo, não beneficia toda a sociedade, mas somente aqueles que de alguma forma utilizam direta ou indiretamente combustíveis derivados de petróleo. Em outras palavras, o lucro menor da Petrobras é pago e subsidiado inclusive por aquelas pessoas não dependentes de combustíveis.
Não existe almoço grátis. Se o combustível é vendido a um valor menor do que o preço de equilíbrio de mercado, a própria sociedade paga por isso. Caso não tenha ficado claro, o governo Dilma ajuda a elucidar esta questão.
A partir de 2011, a Petrobras não repassava as altas do petróleo para o mercado interno, e a gasolina ficou artificialmente barata no país. Com o congelamento dos preços de combustíveis, não houve aumento de receita para a petroleira. Entretanto, as despesas e os custos da companhia eram crescentes. Resultado: a gigante do petróleo passou a ter prejuízos. Com perdas financeiras, o governo não teve outra alternativa, a não ser reajustar o preço dos combustíveis.
Se não tivesse reajustado, a Petrobras iria à falência. E quem iria socorrer a empresa? O Estado. Todavia, o dinheiro do Estado advém de nós, pagadores de impostos. No final, é sempre a população que paga a conta, de um jeito ou de outro.
Não é apenas pela política de preços que se dá a ineficiência estatal. Investimentos desnecessários, para atender a interesses políticos e populistas, também penalizam o lucro da empresa.
Recentemente, a Petrobras anunciou retomar os investimentos em fertilizantes e refinarias deficitárias, como a Abreu e Lima. Essas ações já foram implementadas no passado, e se mostraram desastrosas financeiramente. Porém, a Petrobras, na atual gestão, não visa apenas ao lucro, mas é entendida como uma espécie de agência estatal para induzir o crescimento econômico, atendendo às pressões da política desenvolvimentista do governo federal. Ela está baseada na expansão do gasto público e no protagonismo do Estado como motor da economia.
Esse é um dos maiores problemas da Petrobras. Afinal, ela é uma agência estatal para atender interesses políticos ou uma empresa que visa exclusivamente ao lucro? O meio do caminho, a confusão entre interesses políticos e econômicos, é o pior dos mundos, abrindo espaço para ineficiência, corrupção e perda de arrecadação do governo.
A possibilidade de maior arrecadação do governo federal não é o único argumento a favor da privatização da Petrobras. Uma vez privatizada, a empresa poderia gerar mais empregos para o país
Por exemplo, a Vale, depois da privatização, passou a gerar mais empregos para a sociedade em comparação à época em que era estatal.
Outro ponto a favor da privatização é que a empresa ficaria bem menos suscetível a esquemas de corrupção. O Petrolão mostrou como a estatal era utilizada para abastecer políticos e partidos à custa de prejuízos bilionários pagos por todos os brasileiros. Novamente, a raiz do problema é a mistura do interesse econômico com o político.
Mesmo com todas essas evidências, a esquerda continua contrária à privatização. Apelam para clichês genéricos, como “não se pode vender o país, pois o petróleo é um recurso estratégico”, para argumentar contra a privatização. Ora, gerar mais renda para a sociedade, arrecadação para o governo, e empregos para os brasileiros, não seria estratégico para o país? Segundo, no limite, esse argumento não se sustenta, pois o petróleo pertence à União, e não à Petrobras.
Outro argumento (esse da moda) contrário à privatização é o caso da Enel em São Paulo. De fato, a empresa italiana tem sido muto incompetente no restabelecimento da energia após temporais em São Paulo. No entanto, isso não é culpa da privatização em si, mas da ineficiência do poder público – de Aneel ao governo federal – em fiscalizar e tomar providências contra a empresa.
Um processo de privatização deve ser feito sob regras claras e supervisão de agências reguladoras, para não haver falhas em setores essenciais para a população como saúde, energia e saneamento.
Não se pode pegar a exceção da Enel e generalizar para todos os processos de privatização ocorridos no Brasil. No conjunto da obra, as privatizações foram benéficas ao país. Em sua maioria, geraram aumento de receita para o governo, tiraram prejuízos bilionários das costas do Estado (nós pagadores de impostos), geraram empregos, e aumento da qualidade de produtos e serviços.
Infelizmente, desde que migrou para o PSB e se alinhou a Lula, Geraldo Alckmin perdeu o pragmatismo econômico que marcou por vezes seus governos no estado de São Paulo. Parece que o ex-tucano saiu do muro, e voou rumo às visões retrógradas da esquerda.
STF decide sobre atuação da polícia de São Paulo e interfere na gestão de Tarcísio
Esquerda tenta mudar regra eleitoral para impedir maioria conservadora no Senado após 2026
Falas de ministros do STF revelam pouco caso com princípios democráticos
Sob pressão do mercado e enfraquecido no governo, Haddad atravessa seu pior momento
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS