Em outubro de 2024, escrevi o artigo “Dólar a 6,00 é logo ali: adivinhe de quem será a culpa”. Na época, a moeda norte-americana estava cotada próxima de R$5,70, e a projeção do relatório Focus indicava um fechamento do dólar em R$5,45 ao final de 2024.
No artigo, mencionei os fatores determinantes para levar o dólar a R$6,00. Infelizmente, minha previsão se concretizou, e agora o novo câmbio de equilíbrio brasileiro gira em torno de R$6,00. No entanto, por vários motivos, é perfeitamente possível a moeda norte-americana subir ainda mais, podendo chegar a R$7,00 ao final de 2025.
A primeira razão para a guinada do dólar é externa. O mercado acredita que as políticas econômicas de Donald Trump poderão trazer mais inflação para os EUA. E aqui pouco importa se o mercado está certo ou errado – eu mesmo não concordo com essa visão, conforme escrevi no artigo “Trump é melhor para a geopolítica – portanto, para a economia” ,mas o fato é que essa crença tem impulsionado o dólar perante as demais moedas.
Uma das políticas econômicas defendidas por Trump seria a adoção de barreiras protecionistas para produtos importados, encarecendo as mercadorias exportadas de outros países para os EUA.
Outra fonte inflacionária seria a deportação de imigrantes ilegais em massa. Como eles ganham, em média, menos que os americanos e residentes legalizados, a deportação dos imigrantes ilegais encareceria o preço da mão de obra norte-americana. A elevação dos salários para as empresas seria repassada no preço final de mercadorias e serviços.
Por fim, a desregulamentação das atividades econômicas poderia aquecer a economia, trazendo uma elevação da demanda agregada com impactos inflacionários.
Com essas crenças, o mercado se antecipa, acreditando em mais inflação, com a consequente elevação de juros pelo Fed (Banco Central dos EUA) para conter a alta de preços. Os juros mais elevados no mercado americano elevam a demanda por dólares, fazendo a cotação subir contra outras moedas.
No entanto, não é apenas o cenário externo que tem impulsionado a alta da moeda americana. Sobretudo, é o cenário interno que explica a forte desvalorização do real, principalmente pela piora fiscal
O elevado endividamento, associado ao forte déficit primário, e a falta de comprometimento do governo em cortar gastos – vide o fraco pacote fiscal – aumentaram significativamente o risco de crédito do Brasil, ou seja, a probabilidade de o governo não pagar a sua dívida futuramente. Num cenário de mais incerteza, o investidor corre para uma moeda forte para se proteger. O aumento da demanda por dólares eleva a sua cotação perante o real.
É curioso que, mesmo com o diferencial de taxas de juros entre Brasil e EUA abrindo – Selic em alta e Fed Fund Rate em queda -, o dólar sobe. De acordo com a teoria econômica, com juros mais atrativos no Brasil em relação aos EUA, era para o dólar cair, e não subir.
Também é intrigante que, mesmo com leilões do Banco Central, o dólar não cede significativamente. Neste mês, a mesa de operações do Bacen ofertou mais de US$27,7 bilhões para segurar a desvalorização do real. Mesmo aumentando a oferta de dólares no mercado brasileiro, a cotação da moeda norte-americana não cedeu fortemente com os leilões.
Tanto a forte elevação da Selic, quanto os leilões de venda de dólares, não fizeram efeito para conter a guinada da moeda norte-americana. A possível explicação para a alta é que talvez já estejamos em dominância fiscal, situação pela qual um aumento de juros não faz efeito no combate à inflação por conta da piora das contas públicas.
Nesse cenário, a alta dos juros aumenta o custo da dívida, elevando o risco, e consequentemente, o dólar. Dólar mais elevado potencializa aumentos de preços ao produtor e ao consumidor. Em dominância fiscal, o dólar bater R$7,00 é perfeitamente plausível.
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