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Alan Ghani

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Gastança

Governo Lula deve dobrar a aposta na irresponsabilidade fiscal

(Foto: EFE/André Borges)

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Recentemente, os índices de atividade econômica mostraram retração. No mês de novembro, a produção industrial caiu 0,6%, as vendas no varejo recuaram 0,4% e o setor de serviços apresentou variação negativa de 0,9%. 

Os dados do CAGED de criação de vagas CLT no mês de dezembro também foram desanimadores. O saldo líquido foi de destruição de 535,5 mil vagas formais no mercado de trabalho. Isso significa que, justamente num mês de aquecimento do varejo, as demissões superaram as contratações. A taxa de desemprego do IBGE apontou na mesma direção, passando de 6,1% em novembro para 6,2% em dezembro.  

Tudo indica que o aumento da taxa de juros começou a fazer efeito na economia real, encarecendo o crédito para pessoa física e jurídica. Com taxas de juros mais altas para empréstimos e financiamentos, o consumo das famílias e o investimento das empresas diminuem. Tanto o consumo quanto o investimento são variáveis importantes da demanda agregada do país. Se a demanda agregada do país crescer menos, significa que o PIB também terá uma menor taxa de variação. 

Além dos juros, o dólar mais alto também pode contribuir para o desaquecimento da economia. É verdade que, por um lado, o real depreciado favorece o setor exportador; mas, por outro, prejudica muitas empresas, principalmente aquelas dependentes de insumos do exterior e máquinas importadas para expandir a sua produção.

Outra variável que pode explicar a desaceleração da atividade econômica é a expectativa dos empresários e consumidores em relação ao futuro. De acordo com dados recentes divulgados pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), todos os índices de confiança apresentaram queda em janeiro. Houve maior pessimismo na indústria, no setor de serviços, no comércio, na construção civil e para os consumidores.

Tudo indica que o crescimento da economia brasileira será menor em 2025. A desaceleração só não será maior porque há uma expectativa de safra agrícola recorde para 2025. Dessa forma, a agropecuária poderia compensar o menor ritmo de crescimento da indústria e do comércio.

Houve maior pessimismo na indústria, no setor de serviços, no comércio, na construção civil e para os consumidores

Com um cenário de desaceleração econômica, aliado à piora da inflação e aumento da dívida pública, o presidente Lula terá uma decisão a tomar: fazer um ajuste fiscal para conter a alta dos preços e do endividamento Estado, ou dobrar a aposta, pisando no acelerador do gasto público a fim de frear o desaquecimento da economia.

Se fizer o ajuste fiscal – necessário para conter a inflação e possibilitar um crescimento sustentável de longo prazo com a estabilização da dívida pública -, Lula terá que enfrentar uma consequência negativa no curto prazo: arcar com o ônus político de uma desaceleração maior da economia, já em curso.

Por outro lado, se Lula dobrar a aposta, e pisar no acelerador do gasto público, o país poderá ter um crescimento maior a curto prazo; porém, penalizando o país nos próximos anos com o agravamento do problema fiscal. 

No primeiro caso, fazer o ajuste fiscal significa agir como um estadista, pensando no país a longo prazo. No segundo caso, pisar no acelerador do gasto público significa agir como um populista, pensando na próxima eleição, condenando o país ao atraso no longo prazo.

Lula aparentemente já fez a sua escolha. Colocar Gleisi Hoffman no governo e atribuir todos os problemas a falha de comunicação, dando ares de super ministro ao novo chefe da Secom (Secretaria de Comunicação Social), o marqueteiro Sidônio Palmeira, são sinalizações políticas de que Lula jogará todas as fichas para ser reeleito.

As sinalizações do lado econômico também apontam para não haver ajuste das contas públicas, pelo contrário. O governo deverá adotar políticas fiscais e monetárias expansionistas a fim de gerar crescimento econômico, mesmo que o PIB efetivo cresça acima do potencial, gerando inflação.

Uma dessas políticas é a possibilidade de utilização do INSS para contratar crédito consignado (empréstimo com desconto em folha). A medida poderá aumentar o crédito justamente num momento de inflação elevada, potencializando a alta dos preços.

Outra medida a ser lançada é a isenção de imposto de renda para pessoas que ganham até R$ 5 mil. Segundo o governo, haverá corte de despesas a fim de compensar a perda de receita tributária. Porém, é difícil acreditar nessa compensação, baseado no próprio histórico do governo. PEC de Transição, novo Arcabouço Fiscal, pacote de contenção de despesas, manobras contábeis de exclusão de gastos do resultado primário são exemplos de medidas que flertaram com a irresponsabilidade fiscal 

Política e economicamente os sinais estão claros. Lula fará de tudo para ser reeleito ou emplacar alguém de sua confiança. A lógica de governos PT em anos pré-eleitorais sempre foi esta: gastar é o passaporte para se manter no poder.

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