O ano de 2024 começou com um otimismo por boa parte do mercado financeiro com relação ao dólar, juros e inflação. De acordo com o relatório Focu
s do Banco Central, do dia 05/01/2024, a previsão de câmbio, IPCA e Selic para o final deste ano era respectivamente de R$ 5,00, 3,90% e 9%.
Os números projetados ficaram bem longe da realidade. A Selic encerrou 2024 em 12,25% a.a, o dólar gravita em torno de R$ 6,10, e a inflação deverá subir próxima de 4,80%.
Por outro lado, o mercado estava mais pessimista em relação ao crescimento econômico. Inicialmente, os economistas previam um crescimento do PIB em 2,0%, e provavelmente o país crescerá em torno de 3,5% em 2024.
Apesar do aumento do PIB acima do esperado, e da queda do desemprego (de 7,4% no 4º trimestre de 2023 para 6,10% no trimestre móvel encerrado em novembro), não há muito o que comemorar. Aparentemente, há um descompasso do desempenho desses indicadores com a percepção de uma melhora econômica concreta por parte da população. Talvez, porque a recuperação da renda tenha sido corroída pela inflação.
A elevação de preços de alimentos e serviços tem sido a principal responsável pela insatisfação da população com a situação econômica do país. A cada ida ao supermercado, o brasileiro volta com o carrinho menos cheio. Com R$ 100 não é possível comprar a mesma quantidade de produtos adquirida há um ano.
A sensação de empobrecimento não é apenas dentro do próprio país, mas ocorre principalmente quando nos comparamos com outras nações
Com a popularização do turismo após os anos 2000, a classe média brasileira passou a viajar cada vez mais para o exterior. Nas últimas décadas, Paris e NY passaram a ser destinos não apenas de ricos, mas também da classe média brasileira. Porém, com o dólar a R$ 6,00, se torna cada vez mais difícil para o “afegão médio” desfrutar umas férias no exterior.
Para se ter uma ideia do nosso empobrecimento, gasta-se, em média, 20 dólares para tomar um café da manhã tipicamente americano em NY, o que significa um desembolso de aproximadamente R$ 130,00 por pessoa (conversão pelo câmbio turismo).
Se a família for composta por um casal e dois filhos, o desembolso será de R$ 520 por refeição matinal. Em uma semana, o dispêndio chegará a R$ 3640 - somente de café da manhã!
Essa é justamente a perversidade da inflação. Continuamos trabalhando, mas com a sensação de empobrecimento dentro e fora do país, com a queda do nosso poder de compra para consumir bens e serviços, seja no Brasil ou no exterior.
Infelizmente, a percepção de que ficamos mais pobres deve continuar em 2025. É improvável um recrudescimento da inflação e do câmbio no curto prazo frente às perspectivas fiscais do país.
Por enquanto, de acordo com o último boletim Focus do Banco Central, o mercado projeta para o final de 2025, inflação de 4,84%, dólar a R$5,90 e Selic a 14,75% a.a.
Mas o que chama mais a atenção nas projeções do relatório é o mercado projetar, em média, um crescimento de 2% para 2025, mesmo com a piora das expectativas de juros, inflação e câmbio.
Certamente, há fundamentos para o crescimento ser menor do que o esperado. Com a Selic projetada em 14,75%, é possível que a taxa de juros comece a desaquecer a economia real pelo encarecimento do crédito. Com empréstimos e financiamentos mais caros, há uma diminuição do consumo das famílias e dos investimentos das empresas.
Além disso, a diminuição do consumo e do investimento poderá também ocorrer pela própria piora das expectativas fiscais. Num ambiente de maior incerteza, é natural que empresários diminuam seu apetite ao risco, contendo custos e investimentos, sem gerar aumento de produção nas empresas.
Com relação ao dólar e a inflação, é improvável que essas variáveis cedam significativamente no curto prazo, dada a falta de vontade política do governo e do Congresso Nacional em resolver a situação fiscal do país.
Pelo contrário, a fim de atender lobbies de empresários e do alto funcionalismo público, os políticos abrem brechas para concessão de subsídios a determinados setores e penduricalhos para a elite do poder Judiciário.
Sem a disposição de encarar a questão fiscal de frente, como medidas que passam por reforma da previdência, desvinculação dos gastos de saúde e educação com receitas da União, redução de subsídios, enxugamento da máquina pública, corte de privilégios e flexibilização orçamentária, o aumento do déficit e do endividamento só tendem a aumentar, elevando o dólar e, consequentemente, a inflação.
É questão de tempo para a piora fiscal se transformar em estagflação – queda do PIB com elevação dos preços -, como ocorreu no governo Dilma
As políticas econômicas são as mesmas. Os resultados dos indicadores macroeconômicos e o comportamento do preço dos ativos são idênticos. Tem cara de Dilma, parece Dilma, e será Dilma.
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