Há um ano, Javier Milei foi eleito presidente da Argentina. Ganhou as eleições com um discurso disruptivo, prometendo uma grande transformação econômica no país.
Quando assumiu a presidência, a Argentina estava destruída economicamente. O cenário era de estagflação. O PIB caia 1,6% em 2023, e a inflação mensal rodava na casa de 25%, acumulando alta de 211% no ano.
Do lado fiscal, a situação também era bem complicada. O déficit primário era de 2,9% do Produto Interno Bruto, e a dívida bruta se encontrava em 155,41% do PIB, de acordo com “Fiscal Monitor do FMI”.
Após um ano de governo Milei, o cenário econômico mudou bastante. O último dado de inflação apontou para uma variação de 2,7% em outubro de 2024, acumulando alta de 193% nos últimos 12 meses. O país terá superávit primário (1,5% do PIB em 2024), e o endividamento/PIB recuou para 91,47%. Por outro lado, o desemprego aumentou de 6,2% (2º tri 2023) para 7,6% (2º tri de 2024), e o PIB deverá cair 3,4% neste ano.
De um lado, o PIB caiu e o desemprego subiu; por outro, a inflação e as contas públicas melhoraram significativamente. À luz desses números, como avaliar a gestão Milei?
Um erro muito comum entre analistas políticos é analisar o desempenho de um governo mais pelos indicadores presentes, e menos pelas reformas realizadas. Por exemplo, o governo Lula 1 teve indicadores econômicos superiores à gestão FHC. No entanto, foi beneficiado por reformas estruturais realizadas pelo seu antecessor. Sob a mesma lógica, no primeiro ano do governo Temer, o PIB caiu mais de 3%. Porém, a queda de 2016 foi fruto do descontrole fiscal do governo Dilma.
Da mesma maneira, a queda do PIB e o aumento do desemprego na Argentina não podem ser creditados exclusivamente a Milei. Isso porque, para combater a principal patologia econômica do país, a inflação; Milei precisou cortar drasticamente os gastos públicos, gerando efeitos colaterais, como a queda da atividade econômica.
Sem dúvida, o remédio é amargo, porém necessário. Evidentemente, o corte de gastos trouxe efeitos econômicos na atividade econômica. Claro, boa parte da economia argentina era sustentada por elevados gastos públicos e subsídios, gerando indução artificial do crescimento econômico.
Além disso, o elevado gasto público está ligado a uma série de políticas sociais, como transferência de renda dos mais ricos para os mais pobres, levando milhares de argentinos a preferirem viver de benesses estatais a trabalhar. Inclusive, o corte das políticas sociais explica, em parte, o aumento do desemprego, uma vez que muitos argentinos se viram obrigados a procurar trabalho, e não viver mais de renda do Estado. Enquanto não trabalhavam, vivendo de bolsas do governo, não entravam na estatística de desemprego. Agora, na necessidade de buscar trabalho, a taxa de desocupação subiu, pois o indicador mede as pessoas que não estão trabalhando e que procuram emprego.
Com esses cortes, Milei traz um choque de realidade ao país. Ao cortar na carne as despesas públicas e acabar com as mamatas estatais, o atual presidente rompe com anos de políticas populistas e assistencialistas, endossadas por governos de esquerda e peronistas, que condenaram o país ao atraso por anos.
É impossível um país prosperar sob a lógica de uma máquina pública inchada. A razão é óbvia: o Estado não produz por si só
Quem produz são as pessoas e as empresas, e o Estado somente arrecada recursos, via impostos, do setor privado. Nesse sentido, seria impossível a Argentina continuar com suas benesses estatais, porque o país não crescia de maneira sustentada, e a inflação só piorava.
Nessas circunstâncias, não havia outro caminho para Milei, a não ser fazer um duro ajuste das contas públicas. O enxugamento da máquina pública e o corte de gastos são vitais para trazer novamente o crescimento sustentável para a Argentina, isto é, aumentar o PIB sem gerar um processo inflacionário.
Se Milei continuasse com as mesmas políticas populistas – que trazem um ganho econômico artificial a curto prazo, gerando estragos permanentes a longo prazo -, ou fizesse um ajuste gradual, iria apenas prorrogar o problema.
Felizmente, Milei, com coragem, optou por romper com as políticas peronistas e desenvolvimentistas que arruinaram o país por anos. Não age como um populista, que só pensa em ganhos a curto prazo, deixando problemas para as gerações futuras. Ao contrário, Javier Milei agiu como um estadista, ao ser sincero com a população, dizendo que “a Argentina vai piorar antes de melhorar”.
A profecia tem se concretizado. O desemprego aumentou e o PIB cairá mais em 2024 do que em 2023, levando ao aumento do número de pessoas que vivem na pobreza. Por outro lado, controlou as contas públicas e reduziu a inflação de 25% ao mês para menos de 3%.
Tudo indica que esse ajuste terá efeitos muito positivos para a população argentina nos próximos anos em relação à recuperação da renda, queda da inflação e aumento do emprego. Pelo menos é o que sinaliza o índice da bolsa argentina.
Vale dizer que, academicamente, a variação média do índice da bolsa de valores de um país é o melhor antecipador de expectativas futuras em relação à economia.
Enquanto a bolsa da Argentina sinaliza um futuro promissor, com uma alta de 125% em 2024, nosso Ibovespa caiu 3,8%. A disparidade gritante entre a variação de preço dos ativos no Brasil e da Argentina diz muita coisa sobre o futuro econômico de ambos os países e sobre a diferença de um presidente que age como estadista e outro como um populista.
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