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Recentemente, a cotação do dólar disparou, rompendo a barreira de R$5,50/US$. Para entender esse movimento, é necessário analisar quais fatores são determinantes para impactar o preço da moeda norte-americana. Entre eles, estão:
- O fluxo de entrada líquidos de dólares;
- O diferencial de taxa de juros entre Brasil e EUA;
- As expectativas macroeconômicas. A forte alta do dólar está muito mais ligada à piora das expectativas macroeconômicas do que as outras duas variáveis.
O mau humor do mercado está fortemente relacionado com a deterioração do quadro fiscal. Hoje, a dívida bruta está 76,8% do PIB, o déficit nominal do setor público em R$1,046 trilhão, e a falta de comprometimento do governo só aumenta a probabilidade de calote da dívida pública no futuro.
Com o aumento do risco de crédito, o investidor corre para uma moeda forte, como o dólar
A maior demanda pela moeda americana pressiona o preço do dólar e desvaloriza o real. Além disso, numa situação de mais incerteza, quem tem dólar passa a vendê-lo mais caro.
É ingenuidade acreditar que a elevação do dólar é fruto de um mercado financeiro “malvadão”, que não gosta do governo e quer puni-lo a qualquer custo. Nada disso. O mercado financeiro não é um ente abstrato super poderoso, capaz de ditar as regras do jogo no Brasil; mas é formado por um conjunto de investidores (nós, inclusive) que compram e vendem ativos (ações, renda fixa e dólar) a um determinado preço.
Se ocorrer uma piora no valor dos ativos, significa que os investidores estão mais pessimistas em relação ao futuro. Por exemplo, quando o dólar sobe, demonstra apenas que os investidores estão agindo racionalmente tentando se proteger de um risco. Não há certo ou errado, justo ou injusto, apenas pessoas agindo de forma lógica perante a incerteza.
A procura por dólares, no atual momento, se torna ainda maior diante do desempenho do mercado financeiro norte americano. Nos EUA, a renda fixa está com taxas muito atrativas, e a bolsa batendo recordes. Para se ter uma ideia, desde quando o presidente Lula foi eleito, o Ibovespa subiu apenas 8%, enquanto o S&P500 apresentou alta de 40,5% no mesmo período.
De acordo com a teoria de finanças (modelo CAPM), o índice da bolsa é considerado a melhor proxy (variável) antecipadora de expectativas, de riscos sistêmicos. Se a bolsa brasileira está com este desempenho pífio, sinaliza que os investidores não apostam no Brasil. Em sentido contrário, se a bolsa americana e o dólar estão em alta, significa que os investidores estão otimistas com os EUA.
Integrantes do governo alegam que a disparada do dólar tem mais a ver com movimento de especulação, movido pelas taxas de juros atrativas nos EUA, e menos com os fatores internos do Brasil. Não é verdade. A taxa de juros nos EUA não ficou atrativa recentemente. Pelo contrário, está em alta faz tempo, mesmo quando, no início do ano, o mercado americano acreditava em até 6 cortes do Fed Fund Rate (taxa básica de juros da economia dos EUA).
Além disso, o diferencial de taxa de juros entre Brasil e EUA só aumentou, o que, em tese, deveria explicar uma valorização do real perante o dólar, não o contrário.
Outro ponto a se considerar é que os juros elevados nos EUA tornam os investimentos americanos mais atrativos em relação a qualquer país, e não apenas ao Brasil. De outro modo: se a taxa de juros americana é a mesma para qualquer país, então por que o Real teve uma das piores desvalorizações de moeda, comparadas a outras economias emergentes?
Uma outra hipótese que poderia explicar a alta da moeda americana seria a menor entrada de dólares em nossa balança de pagamentos. Se tem menos oferta de dólares no país, a cotação sobe.
No entanto, de janeiro a maio de 2024 contra o mesmo período de 2023, houve mais entrada de dólares a saídas em nossa balança de pagamentos. Nesse período, o déficit em transações correntes passou de US$11,7 bilhões para US$21,10 bilhões, mas foi compensado pela elevação da conta financeira, que subiu de USS$9,8 bilhões para US$24,9 bilhões. No líquido, somando as saídas das transações correntes (balança comercial, serviços e renda) com as entradas na conta financeira (aplicações em renda fixa, derivativos, ações e investimento direto), houve um fluxo positivo de US$5,7 bilhões no Brasil.
Em resumo, se o diferencial de taxa de juros no Brasil aumentou, e o resultado da balança de pagamentos mostrou mais entrada de dólares a saídas, era para o real ter valorizado perante o dólar, e não o contrário. Portanto, só nos resta concluir que a disparada do dólar tem a ver com uma sinalização de que o governo Lula 3 é pior do que Dilma 1. A alta do dólar só antecipa um futuro pior pela frente. É claro que este movimento pode ser revertido com reformas fiscais, segurança jurídica e privatizações. Mas é difícil acreditar nisso. Nem os “badalados” economistas e gestores que “fizeram o L” não compram mais esta ideia.
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