A saída do antigo CEO da Petrobras, Jean Paul Prates, gerou desconfiança no mercado. O preço das ações da empresa despencou 6% após o anúncio de sua demissão pelo presidente Lula. A queda do valor de mercado da estatal decorre mais das incertezas na condução da empresa pela nova CEO e menos de um apreço dos investidores pela gestão Prates.
Os investidores nunca morreram de amores pela condução da Petrobras pelo antigo indicado de Lula. Pelo contrário, quando Prates assumiu o comando da estatal, também houve forte queda no preço das ações. O temor aumentou quando, logo de início, ele abandonou a política de preços do PPI (Paridade de Preços de Importação). Naquele momento, o mercado desconfiou que a Petrobras seria utilizada para controlar artificialmente o preço da gasolina, como ocorrido no governo Dilma.
Porém, com o passar do tempo, Prates demonstrou algum grau de alinhamento com o mercado. Embora não houvesse um critério claro de como seria o repasse das variações do preço internacional do petróleo para o mercado interno, não se verificou um congelamento do valor da gasolina como ocorrido no governo Dilma.
Além disso, no episódio dos dividendos extraordinários, Prates foi favorável pela distribuição de lucros para os acionistas, e não pelo reinvestimento dos recursos na estatal como gostaria o presidente Lula.
Foi justamente esse não alinhamento total às ideias de Lula que resultou na demissão de Prates. O gesto mostra a visão de Lula sobre o papel da Petrobras. O presidente quer no comando da petroleira alguém que enxergue a Petrobras como uma espécie de agência do governo, seja para induzir o crescimento econômico via investimento, seja para segurar as altas dos preços da gasolina, mesmo com elevação do petróleo no mercado internacional.
É exatamente esse o problema da Petrobras. Ela fica no meio do caminho entre os interesses econômicos dos acionistas privados e dos anseios políticos do governo. De um lado, o acionista privado comprador dos papéis da Petrobras quer a lógica liberal: empresa eficiente que maximize os lucros. Do outro, o atual presidente da República quer que a Petrobras atenda aos interesses do governo, não necessariamente maximizando o lucro dos acionistas.
O problema é que a Petrobras é uma empresa, e não uma agência estatal. Sob a lógica empresarial, ela deve maximizar o lucro, atendendo aos interesses dos acionistas - e isso não é ruim, pelo contrário.
Infelizmente, num país dominado em que a doutrinação ideológica de esquerda começa no ensino básico, é natural que as pessoas enxerguem a busca pelo lucro como algo egoísta e insensível, baseada naquela falácia de que economia é um jogo de soma zero no qual só há ricos com a exploração dos mais pobres.
Na verdade, é exatamente o contrário. Quando uma empresa maximiza o seu lucro, cresce, gera empregos e mais receitas para o governo por meio de impostos. Por outro lado, quando a empresa não busca o lucro, agindo com políticas de preços artificiais ou investimentos desnecessários, prejudica toda a sociedade.
Como toda política populista, as pessoas acreditam que o congelamento de preços da gasolina é algo bom, sem entender que pagarão mais caro pelo combustível no futuro. O governo Dilma é o exemplo perfeito de como se deu o desastre da interferência estatal na Petrobras. Mantiveram o preço da gasolina inalterado, mesmo com os custos da companhia crescentes. Com a receita estagnada e com as despesas em elevação, o resultado não poderia ser outro: a Petrobras passou a ter prejuízos e quase quebrou.
Os prejuízos da Petrobras tiveram consequências para toda a sociedade. A primeira foi a fuga de investidores da empresa, levando a uma brutal queda no valor de mercado da companhia. A combinação do alto endividamento, prejuízos e queda do valor de mercado quase levou a gigante de petróleo à falência. Obviamente, caso esse cenário se concretizasse, o governo não deixaria a empresa quebrar. No entanto, o dinheiro do governo é do contribuinte pagador de impostos. No final das contas, quem pagaria essa conta? Nós, claro.
Aliás, mesmo sem a falência da estatal, a sociedade pagou essa conta. Como a Petrobras teve prejuízos de 2014 a 2017 e não distribuiu dividendos para o governo (também acionista da empresa), houve queda na arrecadação e piora nas contas públicas. A deterioração fiscal tem consequências concretas para a vida das pessoas, como pagamento de mais impostos, inflação alta e elevação dos juros - fatores que pioram a atividade econômica, corroem a renda e geram desemprego.
Diante dos prejuízos acumulados de 2014 a 2017, a operação da Petrobras começou a ficar inviável, não sobrando outra alternativa ao governo a não ser a de não reajustar rapidamente o preço da gasolina. Em outras palavras, aquele preço artificialmente barato foi anulado por um reajuste ainda maior do combustível numa pancada só. O brasileiro no final das contas acabou pagando do mesmo jeito. Pior: pagou mais.
Sem contar que a manutenção de preços artificialmente baixos da gasolina quase quebrou o setor sucroalcooleiro. Na prática isso significou perda de empregos e renda para o setor.
Mas não é apenas a política de preços que foi ruim durante a gestão petista. A política de investimentos também foi desastrosa. Compra de Pasadena e os investimentos na refinaria Abreu e Lima foram marcados por obras superfaturadas e inacabadas, desvio de recursos e corrupção.
Infelizmente, o governo Lula aposta novamente na fórmula que levou a Petrobras quase à falência. Quer a volta dos investimentos em refinarias e preços mais baratos para o gás natural e o petróleo a fim de favorecer a indústria nacional (visão desenvolvimentista). Se a nova CEO da Petrobras estiver em sintonia com o presidente da República, o caminho para o desastre estará aberto. Como toda política populista, parte da sociedade poderá até comemorar no curto prazo, mas sabemos as consequências futuras. Depois, não adianta culpar a Lava Jato, os EUA, o mercado internacional de petróleo, o Bolsonaro, etc. Parte da população brasileira já está vacinada a este tipo de demagogia. Até porque já assistimos a esse filme no passado, e o final não foi nada bom.
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