Fiuk, Camilla e Juliette, finalistas do BBB 21.| Foto:
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"O bom é mau e o mau é bom;
Voa no ar sujo e marrom."
Macbeth

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Todo mundo que você conhece, sem exceção, conhece alguém que vê, torce, ri, chora e comenta sem parar o onipresente Big Brother. Minha mãe e minha filha adoram. Para estas pessoas, hoje é como uma final de Copa do Mundo que só termina durante a madrugada.

Talvez você mesmo não consiga se desligar do zoológico humano global e, neste 4 de maio, dia em que conservadores comemoram a primeira eleição que deu à Margaret Thatcher o cargo de primeira-ministra britânica e os nerds lembram Star Wars, estará com os olhos fixados na TV para saber se Camilla de Lucas, Fiuk ou Juliette vencerá a disputa.

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Se é o caso, divirta-se. Longe de mim querer patrulhar seu divertimento. O resultado do programa é, confesso, absolutamente irrelevante para mim, mesmo que tenha uma antipatia gratuita pelo filho do Fábio Jr. Se é para torcer por alguém, vá lá, que o prêmio fique com a carismática Camilla, representante legítima de Nova Iguaçu e do jeito carioca de ser. Pronto, já estou escolhendo alguém, é irresistível.

O que faz do Big Brother tão sedutor e cativante? Tenho a impressão de que é a mesma motivação que atrai os brasileiros ao carnaval: a experiência catártica, a inversão de valores, a o momento em que o nada é tudo, que o irrelevante vira épico, a fantasia sai do armário e a banalidade é alçada ao patamar de sublime. É o esvaziamento total do ego, da identidade, da aspereza do real em troca da sacralização do supérfluo, do descartável, do mais frívolo dos passatempos.

A libertação do ego não é, em si, condenável. No catolicismo, a kenosis é um dos rituais mais veneráveis, como dito por São Paulo: "Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus, que, embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens" (Filipenses 2,5-7). O ato de amor mais extremo do filho de Criador é tornar-se como sua criatura, com todas as suas limitações, dores e chagas, e ao menos tempo divino e salvo pelo Espírito Santo. O esvaziamento causado pelo entretenimento televisivo é, evidentemente, de outra natureza.

O Big Brother, de todas as suas inversões, tem na meritocracia seu alvo mais direto. O programa, um "reality show" que de realidade não tem nada, subverte a ideia de que o mérito, o talento e o trabalho duro precedem a fama. Nele, a fama é arbitrariamente concedida a pessoas comuns, sem qualquer atrativo, qualificação ou distinção notável, como querem crer os críticos da sociedade ocidental que vêem na democracia liberal uma fachada para um jogo dissimulado e discricionário de poder em que a ideia do mérito serve apenas como pretexto e embuste para a ascensão imerecida de quem se submete e tem a "sorte" de cativar a atenção dos donos do poder.

A presunção de que a mobilidade social é apenas fruto do acaso aliado à humilhante submissão aos caprichos da elite, como os pobres diabos que divertiam os imperadores romanos mais pervertidos na Roma antiga, está na essência do programa que promete fama e fortuna a, literalmente, qualquer um que esqueça os caminhos tradicionais de ascensão e sucesso como estudo, trabalho e empreendedorismo para se entregar a um espetáculo grotesco como a dança de Salomé para Herodes Antipas em troca da cabeça de João Batista.

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Nesta noite de terça (4/5), Camilla, Fiuk e Juliette dançam para o Herodes bêbado e hedonista que há em cada um de nós, em nossos sofás, oferecendo sem pestanejar a vida do santo que anunciou a vinda de Jesus em pagamento por alguns instantes de diversão. O pedido de Salomé, instado por sua mãe Herodias, causa um desconforto imediato no imperador, mas já não há nada que possa fazer para evitar a tragédia sem quebrar a própria promessa dada no entorpecimento hipnótico da dança da jovem. Se não há almoço grátis, muito menos a dança da bela sobrinha e enteada de Herodes que, a despeito de seu poder quase ilimitado, se vê preso à palavra empenhada em meio a embriaguez dos sentidos.

A piada demoníaca da fama sem mérito é chamar a atração de "show da realidade", quando na verdade é seu total oposto. A missa negra da meritocracia não é descolada da realidade, evidentemente, como toda mentira que traz, em si, meias-verdades. É claro que existe todo tipo de atalho para o sucesso e o ambiente muitas vezes promíscuo, com tantos casos de assédio e chantagens em troca de papéis e oportunidades nos bastidores da TV, é um dos exemplos mais claros de que nem sempre se faz justiça na escolha dos vencedores.

O problema não é reconhecer, legitimamente, a existência da subversão do mérito na vida, mas a sua glorificação niilista, um caminho sem saída para qualquer sociedade. O Big Brother, se visto como mero entretenimento, não é melhor ou pior do que qualquer outra banalidade televisiva. Se encarado como uma metáfora da luta pelo sucesso na vida, é uma mensagem tão perigosa quanto o aviso das bruxas de Macbeth e não termina bem.

Se você for acompanhar a final, divirta-se. Faça a sua própria catarse, esvazie seu ego e se entregue à diversão sem culpa ou remorso, você tem todo direito a um escapismo de vez em quando. Minha dica é apenas que você, secretamente, torça para o avesso do avesso, para que o mais dedicado, carismático e virtuoso se destaque a ponto de levar o prêmio máximo. A vitória contra a inversão demoníaca do sucesso aleatório é o mérito. Por isso, que vença o melhor.

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