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A benevolência do açougueiro e a pobreza das nações

A edição da revista Época desta semana deu capa para uma, digamos, entrevista com Joesley Batista, o açougueiro do Brasil. Para o criminoso confesso que simboliza a política petista dos campeões nacionais, Temer é o “chefe da quadrilha mais perigosa” do país. Veremos.

Joesley Batista, 44, goiano de Formosa, um dos seis filhos de Zé Mineiro, controla a holding J&F Investimentos, um colosso empresarial com mais de 230 mil funcionários, R$ 170 bilhões de faturamento (2016), dono da JBS/Friboi, Seara, Banco Original, Big Frango, Eldorado Brasil (celulose), Alpargatas (Havaianas, Osklen, Mizuno, Timberland, Dupé, entre outras), Vigor (derivados de leite), Canal Rural (TV), uma lista quase infinita de negócios viabilizados em tempos petistas. É daquelas fortunas tipicamente terceiro-mundistas, anabolizadas com a prestimosa ajuda de governos intervencionistas e do dinheiro suado do contribuinte. Em 2012, este empresário sempre atento às “oportunidades” geradas pelos governos petistas, tentou comprar a Delta, construtora principal do PAC envolvida com escândalos até o pescoço.

Há um mês, em 17 de maio, o país foi surpreendido ao saber do acordo de delação premiada (ênfase no “premiada”) em que Joesley revelava com exclusividade para Lauro Jardim, do jornal O GLOBO, ter feito gravações de conversas que incriminavam Michel Temer e Aécio Neves. A notícia foi publicada no blog do jornalista às 19h30 e apenas meia hora depois, no Jornal Nacional, já havia uma reportagem completa, com videografismos explicativos para o público, sugerindo que o presidente não tinha mais condições de se manter no cargo. Desde então, parte da imprensa namora não apenas com a tese da deposição imediata do presidente como também pisca o olho para a impostura que defende eleições diretas já, um casuísmo inconstitucional para dizer o mínimo.

O convescote de Joesley Batista com o jornalista Diego Escosteguy, editor-chefe da revista Época para sempre lembrado pelo tweet de 2015 em que ridicularizou a possibilidade de Donald Trump ser candidato a presidente dos EUA, é daqueles momentos em que se entende por que as grandes empresas de relações públicas cobram centenas de milhares de reais por mês de seus principais clientes para ter, como já disse o próprio Joesley, “boas relações com a imprensa”. Quem não entende como funciona a engrenagem das notícias no Brasil, recomendo enfaticamente a leitura da matéria “O Sujeito Oculto”, publicada na revista Piauí.

A conversa é um bate-bola amistoso, quase um jogo de frescobol entre amigos num final de tarde na praia. As revelações do entrevistado foram cuidadosamente planejadas para avançar a narrativa de que os governos petistas apenas aprofundaram os erros do “sistema” em que quase todos os partidos e líderes políticos do país são cúmplices e beneficiários desde Pedro Álvares Cabral. Assim como nos tempos do mensalão, há pouco mais de 10 anos, Lula é mais uma vez preservado como um líder que pode ter sido “traído” por companheiros inescrupulosos ou aloprados.

Quando Joesley denuncia os crimes dos governos petistas, Lula nunca é o mandante ou participante direto das negociatas, quem aparece são companheiros de partido que acabam oferecidos como cordeiros para o sacrifício redentor no altar do lulismo, religião pagã que lava os pecados da sua divindade ao imolar seus ajudantes diretos. Os membros do primeiro escalão do petismo acabam servindo de fusíveis que podem ser trocados a cada sobrecarga para preservar o sistema de um curto-circuito. O empresário também preserva, na entrevista, Luciano Coutinho e o BNDES. Sua lealdade com o banco que serviu de vaso comunicante entre o bolso do contribuinte e o seu não deveria surpreender ninguém.

“Eu nunca tive conversa não republicana com o Lula. Zero.”

Joesley Batista

Neste momento, qualquer um minimamente atento sabe que Joesley Batista participa de um movimento para derrubar Michel Temer e criar as condições para eleições diretas e gerais no país. É um agenda cujo maior interessado é, pasmem, Lula.

Temer, que de santo não tem nada, sabe disso e luta com as armas que possui para se manter no cargo, mostrando muito mais resiliência que seus afoitos opositores supunham.

É uma disputa na qual o último a ser lembrado é o cidadão brasileiro que paga a conta de quinze anos de desmandos e roubalheira que causaram a maior recessão da história do país. São 15 milhões de desempregados e 60 milhões de inadimplentes que lutam para sobreviver enquanto o Brasil é saqueado e loteado por quadrilhas e grupos de interesse.

Adam Smith, em “A Riqueza das Nações” (1776), defendeu assim a idéia revolucionária de que o livre mercado é a chave para a prosperidade:  “não é da benevolência do açougueiro, do cervejeiro e do padeiro que esperamos o nosso jantar, mas do cuidado que eles têm pelos próprios interesses.” A obra foi publicada num mundo ainda mercantilista em que corporações protegidas por governos tinham o privilégio de controlar os principais setores da economia para obter lucros pornográficos às custas de consumidores, escravos e colonos.

Alguns países entenderam a lição de Adam Smith e deixaram suas economias livres para que os empreendedores pudessem assumir riscos, inovar e oferecer ao público produtos e serviços que só venceriam no mercado pela opção voluntária dos consumidores e não pelas relações íntimas dos empresários com o governo. Deu certo.

O liberalismo, que muitos até hoje não entendem ser uma resposta e um contraponto ao mercantilismo, foi a mola propulsora para a riqueza das principais nações ocidentais desde então, exatamente como previsto pelo britânico.

Enquanto isso, outros países optaram por fechar suas economias, proteger seus mercados, permitir que burocratas criassem regulações e leis para controlar a relação entre empresas e consumidores. Não satisfeitos, usaram dinheiro público para “fomentar” empresas e setores considerados estratégicos, com resultados normalmente desastrosos. Os políticos destes países, claro, continuam faturando bilhões com o proselitismo antiliberal e anticapitalista, junto com seus empresários-companheiros e doadores de campanha.

Cada país tem o açougueiro que merece.

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