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Caros amigos e assinantes da Gazeta do Povo, comentarei o resultado da enquete que promovemos sobre as perspectivas da economia brasileira em meio à crise do coronavírus.

Quando a enquete foi elaborada, o mercado e o próprio governo falavam numa queda de 5% do PIB do país em 2020, mas no boletim Focus publicado nesta segunda-feira (1º) a projeção média foi reduzida para uma queda recorde de 6,25%, a décima sexta queda seguida no índice. A pesquisa foi feita na semana passada com mais de 100 instituições representativas do mercado financeiro.

A enquete deu ao leitor três opções:

  • A primeira é que as expectativas divulgadas seriam exageradas e o quadro não será tão ruim
  • A segunda opção é que as expectativas do mercado são precisas e espelham o que realmente vai acontecer
  • A terceira opção é que as projeções negativas são tímidas e a realidade será ainda pior do que o previsto

Este tipo de levantamento é importante já que os agentes econômicos trabalham com expectativas e cenários futuros e é preciso estar sempre medindo os humores dos consumidores e empreendedores para que investidores e formuladores da política econômica possam embasar suas decisões.

Vamos aos resultados.

Os otimistas que responderam à enquete estão em minoria. Apenas 11% deles acreditam que o mercado está errando para baixo suas previsões e que 2020 não será tão ruim.

Os que acreditam que o mercado está correto representam 39% dos pesquisados e nada menos que 51% dos que responderam a pesquisa acreditam que a realidade será ainda pior do que a projeção atual do mercado.

Somando os dois últimos, temos 90% dos participantes da pesquisa dizendo que o resultado da economia brasileira será igual ou pior que o previsto pelo mercado financeiro. Esta pesquisa, é sempre bom frisar, não tem caráter científico mas serve como um indicativo de como nossos leitores estão encarando as perspectivas do país para este ano que ainda nem chegou na metade.

O mau desempenho da economia brasileira não começou com a pandemia. O crescimento do PIB em 2019 foi de 1,1%, o pior desempenho em três anos.

A variação do PIB no primeiro trimestre deste ano foi uma queda de 1,5%, uma comparação que é feita com o mesmo período do ano passado.

A medição, que é feita pelo IBGE, pega um período ainda pouco afetado pela pandemia e interrompe uma trajetória de recuperação que vinha acontecendo, timidamente, desde o primeiro trimestre de 2017. E ninguém tem dúvida de que o tombo da economia do país virá mesmo a partir do segundo trimestre.

Os dados enfraquecem o discurso de que o Brasil estava indo bem e a pandemia mudou a trajetória, quando o mais correto seria dizer que a pandemia piorou significativamente uma realidade que já não era animadora, com taxas de crescimento trimestrais inferiores a 1%, o que é muito pouco sob qualquer ponto de vista, mesmo considerando a aprovação da Reforma da Previdência no ano passado.

O PIB brasileiro teve duas quedas históricas em 2015 e 2016, caindo respectivamente 3,5 e 3,3%, fechando melancolicamente o governo Dilma e o período de 13 anos de governos petistas. Nos três anos seguintes, uma leve recuperação com crescimento de 1,3% em 2017 e 2018 e 1,1% em 2019.

Ainda segundo o IBGE, a maior parte da explicação do resultado deste trimestre se deve ao setor de serviços, com uma queda de 1,6%, a pior desde o final de 2008. Os serviços representam 74% do PIB brasileiro. A indústria também caiu e o único setor que teve algum crescimento foi o agropecuário, com crescimento de 0,6%. O consumo das famílias teve uma queda de 2%, a pior em 18 anos.

Este péssimo resultado, repito, não pode ser atribuído à pandemia já que as medidas de isolamento social começaram a ser adotadas em meados de março, que abriu com o índice iBovespa acima dos 100 mil pontos, despencando apenas na segunda metade do mês.

O brasileiro está pessimista com a economia e tem bons motivos para isso, mas a bolsa parece ser uma bolha que ainda resiste às piores perspectivas. O iBovespa que chegou a cair a quase 60 mil pontos em março já se aproxima dos 90 mil pontos neste início de junho.

O mau humor dos brasileiros com a economia também se reflete nos índices de popularidade do governo, que tem respondido com acirramento da retórica política contra adversário e contra a imprensa enquanto se aproxima cada vez mais do centrão e das lideranças do Congresso.

Em meio a provável maior crise econômica da história do país, o governo se divide entre a ala econômica que busca soluções que não comprometam as contas públicas e o equilíbrio fiscal enquanto uma parte da chamada ala militar pede mais intervenção do governo na economia, o que ficou evidente no lançamento do programa Pró-Brasil.

Ainda não é possível saber qual das duas alas sairá vencedora, mas os brasileiros têm motivos de sobra para acreditar que, infelizmente, uma recuperação econômica vigorosa e sustentável não acontecerá tão cedo.

Conteúdo editado por:Rodrigo Fernandes
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