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Downton Abbey
Cartaz de Downton Abbey.| Foto:

Os fãs de Downton Abbey vão certamente se lembrar de como Sir Richard Carlisle (Iain Glen) era recebido nos salões do castelo dos Crawley depois de noivar com Lady Mary (Mary Talbot), a joia da coroa da família. Carlisle, papel inspirado na vida real do magnata das comunicações Lord Beaverbrook, personificava o dinheiro novo do self-made man ambicioso e amoral, dono de um jornal sensacionalista cuja vulgaridade, impetuosidade e ausência de fidalguia chocava, não sem motivo, aristocratas como os Crawley, especialmente a viúva e matriarca Violet (Maggie Smith).

O esnobismo em relação a empreendedores, comerciantes e profissionais liberais é tão antiga quanto o mercado, mas a quantidade inédita de riqueza produzida desde os tempos vitorianos colocaram de vez a burguesia nos salões acarpetados da tradicional elite européia e, com o tempo, do resto do mundo, o que gera todo tipo de tensão e preconceito até hoje.

Desde o início dos tempos, a pobreza era vista como um dado da natureza. Viemos das cavernas pobres e a produção de riqueza das sociedades primitivas, muito limitada, acabava concentrada em poucas mãos. Segundo Deirdre McCloskey, desde início dos tempos até o século XIX, a renda média per capita de nossos antepassados era algo em torno de US$ 3/dia (em valores de hoje). Nada muito impressionante.

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Tudo muda com a revolução industrial britânica, iniciada há pouco mais de duzentos anos, quando o mundo conheceu a maior produção de riqueza já vista. A revolução industrial multiplicou o PIB mundial, a renda per capita média salta de cinco a sete vezes no mundo (muito mais nos países de economia de mercado), a despeito do aumento populacional também inédito no período.

Em geral, terá uma vida melhor e mais longa quem se encontra nas faixas de menor renda da sociedade em 2020 do que os membros da classe média de 1920 ou da nobreza de 1820. Vive-se mais, com mais saúde, mais comida e mais segurança do que nunca, o que os números mostram e muitos intelectuais teimosamente negam.

A retórica marxista, criada no mesmo século XIX da revolução industrial britânica, dizia que o capitalismo tornaria os pobres cada vez mais pobres e, como até seus admiradores sabem hoje, esta foi uma das previsões mais erradas da história da humanidade. Os intelectuais e ativistas admitiram o erro? Não, apenas readaptaram o discurso pessimista e apocalítico, já que o que importa é sempre manter o capitalismo como vilão nesta ficção macabra que tem como herói o estado. Não por coincidência, o ente que costuma subsidiar generosamente muitos destes intelectuais, direta ou indiretamente.

Na infinita criatividade dos inimigos do livre mercado, o combate à pobreza foi dando lugar ao termo “desigualdade” ou a diferença relativa de renda entre o grupo composto por quem está momentaneamente com mais ou menos renda, uma fotografia de ignora a dinâmica da mobilidade social promovida pelo livre mercado.

Todo tipo de pedalada estatística e conceitual foi usada para, novamente, tentar provar que capitalismo é um esquema maquiavélico para manter os ricos cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. Não é o que a história mostra, não é o que as evidências mostram, mas intelectuais engajados não costumam deixar que fatos atrapalhem narrativas.

O tema é discutido há décadas, mas em 2014 o lançamento do livro “O Capital do Século XXI”, do economista e ativista de esquerda francês Thomas Piketty, colocou a desigualdade de renda no centro do debate político mundial. É discutível se suas teses ajudarão os pobres, mas seu livro vendeu milhões de cópias e ao menos aumentou a desigualdade de renda entre Piketty e todos nós, além de garantir a ele uma recepção calorosa nos salões nobres da atual aristocracia antiliberal que tem horror aos burgueses.

Por isso, foi com alegria que recebi o resultado da última “Enquete do Borges” (veja vídeo no fim desta postagem) que mostra como nosso leitor não caiu na esparrela de que a solução para os problemas sociais e econômicos do mundo passa por aumentar impostos e colocar mais poder e dinheiro na mão dos burocratas do estado.

Nada menos que 95% dos respondentes da enquete que, é sempre bom repetir, não tem valor científico, querem menos impostos porque entendem, de alguma forma, que uma economia mais livre, com mais dinheiro no bolso de todos, é também uma economia mais próspera e que gera mais oportunidades e empregos, especialmente para os mais pobres.

Mesmo quem nunca ouviu falar em “Curva de Laffer” (Arthur Laffer) ou no “Grande Enriquecimento” (Deirdre McCloskey) intui que mais dinheiro com o governo e menos na sociedade enriquece, veja só, o governo. A solidariedade não foi inventada pelo progressismo que se agarra na bandeira de “desigualdade”, pelo contrário, ela foi estatizada por ele e com consequências desastrosas para quem mais precisa.

Voltarei outras vezes a esse tema espinhoso e urgente, mas fica aqui o registro da ilha de sanidade que é o público da Gazeta do Povo no combate a uma narrativa que teima em ser tratada como ciência quando é apenas má ideologia com as piores consequências para os mais necessitados.

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