"Primeiro ganhe a discussão, depois ganhe o voto."
Margaret Thatcher
Todas as sextas, como hoje, costumo abrir um canal de perguntas e respostas no Instagram e mais da metade dos questionamentos, há várias semanas, é sobre a "terceira via", uma candidatura que rompa a polarização binária Lula x Bolsonaro que sequestrou o imaginário político do país desde a queda de Dilma Rousseff em 2016.
Quem sairá candidato? Quem tem chance? Vai haver divisão ou união? O Novo já decidiu se é oposição ou governista? O PSDB vai continuar rachado entre Doria, Leite, Jereissati e ninguém, como quer Aécio Neves? O DEM de ACM Neto foi mesmo engolido pelo bolsonarismo ou Mandetta ainda tem chances? Existe espaço para Ciro Gomes no "centro democrático", como sugere Rodrigo Maia? Moro pode rever sua decisão de não participar da eleição? O apoio de Luciano Huck transfere votos? O que, afinal, pode esperar o eleitor sufocado entre lulistas e bolsonaristas para 2022?
É claro que não tenho (ninguém tem) respostas definitivas para estas perguntas mais de 450 dias antes da eleição, mas a questão política mais importante para quem deseja uma novidade viável na urna em outubro do próximo ano parece estar em segundo plano: o que, afinal, defende e representa a tal "terceira via"? Qual conjunto de ideias será oferecido ao eleitor que não foi mentalmente aprisionado pelo populismo? Enquanto partidos se reúnem, analistas fazem conjecturas e nomes são cogitados, quem está preocupado com o que pensa e deseja este eleitor? Quem está falando o que ele quer ou precisa ouvir? Sem uma boa conversa, qualquer sedução não passa de uma aventura frívola.
Muitos dos que levantam questões sobre a terceira via não eram nascidos em 1973, quando o país vivia o auge da repressão política durante o governo Médici (1969-1974), de triste memória. Um momento histórico em que um regime autoritário era também popular pelo enganoso "milagre econômico" e a uma oposição acuada, minoritária e, na prática, inofensiva. Médici conduzia pessoalmente sua sucessão naquele ano, contando com a maioria absoluta no Colégio Eleitoral, o que fazia da disputa um mero formalismo com final mais que conhecido.
Foi neste contexto que Ulysses Guimarães conseguiu unir o MDB, rachado até então entre moderados e radicais, combalido pela censura e pela mão de ferro do regime, em nome de sua "anticandidatura", uma ideia corajosa, inspiradora e brilhante que representou o primeiro movimento real de enfrentamento político de uma candidatura situacionista desde 1964.
Contando com Barbosa Lima Sobrinho (ABI) como vice na chapa, Ulysses Guimarães entendeu que, apesar de não ter chances reais de vitória eleitoral em 1973, uma campanha presidencial, mesmo que simbólica, seria uma oportunidade única de percorrer o país e ao menos mostrar ao eleitor que era possível um novo Brasil, com um regime democrático, direitos civis garantidos, eleições livres e alternância de poder.
A ideia de "anticandidatura" vem do reconhecimento explícito de que Ulysses Guimarães não tinha qualquer possibilidade de vencer aquela eleição e, mesmo assim, não fugiria de seu papel político, cívico e moral de abrir o diálogo com o país e explicar a todo cidadão disposto a ouvir como desenvolvimento social e crescimento econômico são perfeitamente compatíveis com liberdade e democracia, um debate que voltou em tempos atuais com a ascensão da China, controlada por um regime de partido único e antiliberal. Algumas ideias nunca morrem e, como disse Ronald Reagan, a liberdade está sempre a uma geração da extinção.
Ao parar de se preocupar com a viabilidade da vitória, que naquele momento não existia, Ulysses Guimarães começa a mudar as regras do jogo político brasileiro. Assumindo uma postura de estadista, mirando "na próxima geração e não na próxima eleição", o líder do MDB, que viria a ser conhecido como "Sr. Diretas" e, depois, o patrono da Constituição de 1988, tira da oposição o caráter mesquinho, oportunista e imediatista de só se mostrar interessado no Brasil e no seu povo com a garantia de chances reais de vitória num pleito de araque.
Com o ideário popular atual do país acorrentado entre Lula e Bolsonaro, uma "anticandidatura" começa do reconhecimento de que é preciso, antes da dança das cadeiras de centro e da discussão sobre nomes, abrir um espaço no imaginário popular para a mudança. É só depois da avenida aberta, é possível cruzar o deserto de ideias que assola o Brasil. Quando um político se mostra mais preocupado em avançar uma agenda do que apenas vencer a qualquer custo, ele passa a ser, na prática, uma opção viável.
Lula perdeu três eleições presidenciais antes de 2002, Bolsonaro passou a liderar a corrida de 2018 após a prisão do principal adversário e sofrer um atentado. Os dois políticos mais próximos da vitória na próxima eleição já foram, eles mesmos, anticandidatos.
Se o Brasil quer uma alternativa eleitoral, que ofereça antes uma nova proposta política e conquiste quantos corações e mentes for possível, acreditando no valor da jornada em si e deixando o resultado, seja qual for, nas mãos do eleitor.
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