Lula já pode se orgulhar: depois da primeira condenação, seu lugar está garantido para sempre no Muro da Vergonha dos presidentes mais aclamados pela esquerda brasileira. Não por coincidência, os três que tomaram as decisões mais destrutivas para o país.
Depois que um vergonhoso golpe militar interrompeu mais de meio século de estabilidade, liberdade e desenvolvimento promovidos por Pedro II, o maior brasileiro de todos os tempos, uma sucessão de presidentes ditadores, corruptos ou ineptos, com raras exceções, mergulhou o país numa espiral de atrasos e retrocessos ainda longe do fim.
Os três destacados neste Muro da Vergonha foram escolhidos não apenas pelos erros e “malfeitos” cometidos mas também porque se transformaram em figuras mitológicas no ideário nacional, nos livros didáticos e na ficção. Seus legados, símbolos do atraso para brasileiros que lutam por um país mais livre, próspero e justo, precisam ser desconstruídos com urgência. As amarras ideológicas que deixaram, desfeitas.
Getúlio Dornelles Vargas, o primeiro dos três presidentes do Muro da Vergonha, foi um ditador sanguinário de inspiração fascista que ocupou a presidência por quinze anos consecutivos (1930-1945) promovendo dois golpes de estado (1930 e 1937) e esmagando com violência incomparável adversários políticos e movimentos oposicionistas, censurando a imprensa, proibindo partidos e fechando o Congresso. Considerando sua volta em 1950, foram 19 anos no comando do país.
A prova inescapável do dolo de Getúlio na montagem da máquina de repressão do seu governo foi a colocação como chefe de polícia da capital federal entre 1933 e 1942 ninguém menos que Filinto Müller. Ex-tenentista, este facínora e notório torturador dificilmente será um dia superado como comandante da maior e mais abjeta corja de assassinos a serviço de um governo brasileiro. Numa visita oficial à Alemanha nazista em 1937, Filinto Müller foi recebido pessoalmente por Heinrich Himmler, o chefão da Gestapo e inspirador dos métodos da sua polícia política no Brasil.
O caudilho gaúcho tomou o poder num golpe de estado em 3 de novembro de 1930, após perder as eleições para Júlio Prestes, e governou com mão de ferro. Para dizer logo a que veio, três meses depois de assumir a presidência recebeu em clima de festa no Palácio do Catete o primeiro escalão do governo de Benito Mussolini. A comitiva era liderada por ninguém menos que Italo Balbo, o temido ex-comandante geral das milícias fascistas e ministro da aeronáutica que vendeu para Getúlio onze aviões em troca de café.
Em 1932, Getúlio reprimiu violentamente o levante que teve São Paulo como epicentro e que pedia o fim da ditadura e a promulgação de uma Constituição, pré-requisito de qualquer regime republicano e democrático. A Carta Magna veio dois anos depois e durou apenas até o famigerado golpe do Estado Novo, nome roubado do regime fascista português de Antonio Salazar, em 1937.
O novo golpe getulista, realizado sob o pretexto forjado da iminência de uma revolução comunista, outorgou a Constituição “polaca”, apelido nada elogioso dado pela sua evidente semelhança com a carta polonesa criada pelo ditador Józef Piłsudski pouco tempo antes e por ser uma gíria da época para prostituta.
O Brasil dos anos 30 abrigava um movimento abertamente inspirado no fascismo italiano, o Integralismo. Os mais importantes integralistas do país participaram ativamente do governo Vargas até 1938 e foi por influência direta deles que houve a importação da legislação trabalhista de Mussolini que levou à criação da CLT. Foram também os integralistas que forjaram junto com o governo o Plano Cohen, a “false flag” que serviu de pretexto para a implantação do Estado Novo.
A nova Constituição dava poderes ao chefe do executivo de causar inveja a Nicolás Maduro. Getúlio fechou o Congresso, proibiu os partidos políticos e colocou interventores nos estados que tiveram suas bandeiras proibidas e queimadas em praça pública, banindo oficialmente o federalismo do país.
Em 1939, Getúlio instituiu o DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda) que censurou o teatro, o cinema e a literatura, controlou o jornalismo, fomentou todo tipo de patriotada ufanista e criou as bases para as relações promíscuas entre governos e as atividades culturais e artísticas que intoxicam e desvirtuam o debate político brasileiro até hoje.
O Estado Novo era um regime fascista no sentido técnico do termo, contemporâneo e admirador da Alemanha de Adolf Hitler e da Itália de Benito Mussolini. Num episódio particularmente simbólico e com participação direta de Filinto Müller, o governo Vargas enviou Olga Benário, a esposa de Luís Carlos Prestes e grávida, para a Gestapo. Depois de sete anos presa, Olga foi morta numa câmara de gás no campo de Bernburg.
Getúlio só deixou o poder quinze anos depois do seu primeiro golpe, voltando à presidência eleito, pela primeira vez, em 1950. Mesmo não podendo ressuscitar o DIP, seu governo montou uma nova máquina de propaganda, desta vez capitaneada por Samuel Wainer e o jornal Última Hora. Incapaz de liderar o país numa democracia, acabou cometendo suicídio ao perceber que as ligações diretas de familiares e colabores diretos seus com grandes esquemas de corrupção e o atentado a Carlos Lacerda não poderiam mais ser negados.
Os alegados “avanços sociais” promovidos por Getúlio, copiados diretamente do fascismo europeu, não são nada além de amarras ao desenvolvimento e à mobilidade social
Os alegados “avanços sociais” promovidos por Getúlio, copiados diretamente do fascismo europeu, não são nada além de amarras ao desenvolvimento e à mobilidade social, impedindo que o empreendedorismo e a liberdade de mercado possam promover mais oportunidades e a elevação do padrão de vida de todos. Basta comparar as condições gerais de vida da população em países com leis trabalhistas como as do Brasil com a de países mais livres para se entender a dimensão nefasta da herança maldita do varguismo.
Meses após a morte de Getúlio, quem assume o país é Juscelino Kubitschek de Oliveira, o “presidente bossa nova” eleito com apenas 35,6% dos votos num tempo anterior ao sistema de dois turnos, vencendo Juarez Távora (30,2%) e Adhemar de Barros (25,7%). Compare com o primeiro turno de 2014 quando Dilma Rousseff obteve 41,6% dos votos contra 33,5% de Aécio Neves e 21,3% de Marina Silva para ter uma idéia de como a votação de JK foi pouco representativa da vontade do eleitor e uma prova da importância dos dois turnos.
O médico mineiro não se constrangeu com a votação de apenas um em cada três eleitores e junto com seu vice João Goulart cometeu o provável maior erro de um governo brasileiro em todos os tempos, a construção de Brasília. É impossível saber quanto o Lego mais caro do mundo custou, mas o devaneio irresponsável de JK não saiu por menos que US$ 100 bilhões em valores atuais.
Se você está impressionado, como deveria, com os escândalos revelados pela Lava Jato que mostram as relações promíscuas entre o lulismo e as grandes empreiteiras do país, tente imaginar o que foi para um governo amplamente apoiado e aparelhado pela esquerda, reverenciado por ela até hoje, construir uma nova capital federal em quatro anos num tempo com muito menos controle e transparência dos gastos públicos.
As obras de Brasília praticamente inauguraram a república das empreiteiras que tanto se fala hoje, mas os escândalos vão além. A cia. aérea Panair do Brasil, controlada por amigos de JK, era acusada de ter o monopólio do transporte de pessoas e cargas para a nova capital, superfaturando o quanto podia os custos das viagens para o governo. Como não havia estradas federais para Brasília, uma parte importante dos materiais da construção viajou confortavelmente de avião para lá. Independente de ter ou não se beneficiado pessoalmente da bandalheira, não há dúvidas de que foi no mínimo leniente com a maior farra com dinheiro público da história do Brasil até então.
Não por acaso, o sucessor de JK, Jânio Quadros, usou como mote principal de campanha “varrer” a corrupção do governo para se eleger, batendo o recorde de 48% dos votos em 1960. Eleito senador por Goiás em 1962, JK votou no general Castelo Branco para presidente do Brasil na eleição indireta de 11 de abril de 1964 que escolheu o primeiro militar após a queda de João Goulart. Esta é uma parte de sua biografia que seus simpatizantes costumam pular.
O legado de Getúlio Vargas como ditador brutal e totalitário, líder de dois golpes de estado e de um regime que perseguiu adversários, censurou e controlou a informação, usou o legado político-ideológico do fascismo para fomentar o discurso populista e antiliberal, é incomparável como o pior da história do país. Sua posição de liderança no Muro da Vergonha dos ex-presidentes é praticamente inalcançável.
Juscelino Kubitschek, com seu “desenvolvimentismo” e o “50 anos 5”, consolidou na mente nacional a idéia estúpida e autoritária de que o crescimento da nação depende do voluntarismo do governo federal que não deve ter limites para seus delírios ou responsabilidade por seus atos desde que “faça alguma coisa” e “pense grande”. A popularidade do lulismo se deve, em parte, a essa excrescência ideológica.
JK é o presidente que simboliza a tendência nefasta de se acreditar que o grande estadista é aquele que toma para si a tarefa “progressista” de encurtar o caminho do país para o seleto clube das nações ricas tirando da própria sociedade, dos seus empreendedores e trabalhadores, o papel e a iniciativa de tomar suas próprias decisões e riscos para criar riqueza. Ele ainda colocou os políticos a uma distância segura do escrutínio da população nas ruas numa cidade “sem esquinas”, projetada por um arquiteto stalinista que sabia exatamente o que estava fazendo.
Com a condenação por corrupção de ontem, a primeira de muitas que virão, Lula pode olhar para o país que seu grupo político saqueou e quebrou, deixando uma terra arrasada com 15 milhões de desempregados, a maior recessão da história e 60 milhões de inadimplentes, bater no peito de dizer que finalmente merece, com pompa e circunstância, um lugar eterno ao lado de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek.