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Dorothy e Totó.
Dorothy e Totó.| Foto: Reprodução

Num ano como 2020, um tornado levar pelos ares uma criança de 12 anos com sua casa inteira, seu Cairn Terrier e até uma vaca não deveria espantar ninguém, mas em 1939 foi um choque. Especialmente para a própria Dorothy Gale que, chegando no reino de Oz, diz: “Totó, acho que não estamos mais no Kansas”. Nós também não e chegou a hora de todo Totó aceitar.

No início do governo Bolsonaro, havia um “Kansas” idílico com um ministério considerado, em parte, técnico. Nomes como Sérgio Moro, Luiz Henrique Mandetta, Paulo Guedes, Tarcísio Gomes de Freitas e Tereza Cristina serviam para tirar o temor de algumas apostas surpreendentes ou nomes inexplicáveis como Ernesto Araújo no MRE ou Marcelo Álvaro Antônio no Turismo.

Como é normal em governos que rompem com grupos políticos desgastados, como foi o interminável período petista de quatro mandatos consecutivos e só interrompidos pela participação ativa das instituições democráticas do país em 2016 e 2018, havia uma considerável boa vontade do eleitor com os “outsiders”, os “fora do sistema” que chegavam para, ao menos, oferecer uma alternativa a um país mergulhado em sua pior crise econômica e escândalos de corrupção sem precedentes no mundo.

Mesmo sendo um governo com muitos políticos inexperientes em seus cargos, alguns radicalmente ideológicos e membros importantes do primeiro e segundo escalões da máquina estatal com pouca ou nenhuma experiência profissional, com destaque para os ministérios “ideológicos”, o brasileiro ainda estava esperançoso com o lugar qualquer depois do arco-íris prometido por Dorothy.

O tal “ministério técnico” (bocejos) serviu como desculpa para muito “governista gourmet”, daqueles que diziam que não eram governistas, apenas apoiavam Moro, Mandetta, Guedes, entre outros, “apesar” do presidente. Nunca comprei esse argumento, claro, e deixei isso claro publicamente diversas vezes, mas ano passado o eleitor ainda estava em lua-de-mel com o novo governo e não era hora de tirar a cortina do Mágico de Oz.

Passado o tornado e com a casa de Dorothy já devidamente aterrissada na oposição, que não se recuperou até hoje, era só colocar as “boas bruxas” para tomar conta de Oz, deixar os munchkins trabalharem e seguir cantando e dançando na estrada dos tijolos amarelos. Só faltou combinar com 2020.

Chega o novo ano e com ele uma praga de proporções bíblicas que fez o mundo sentir saudade das turbulências de 2019. As “boas bruxas” acabaram não apenas colocadas para fora como todo um exército de símios alados virtuais foi colocado para perseguir os “traidores” das bruxas más do Oeste em sua sede de vingança contra seus inimigos reais, imaginários ou inofensivos, como leões sem coragem, homens de lata e espantalhos.

O Brasil não é Kansas, nunca foi, e Dorothy está cada vez mais articulada com a Bruxa do Oeste e com o próprio Mágico de Oz. Os munchkins estão sem emprego mas não sabem a quem culpar, vivendo de programas sociais do reino. Totó continua no colo de Dorothy e com medo de bruxas.

O cenário hoje é que o Reino de Oz está mais próximo do que sempre foi e Dorothy cada vez mais acostumada e, em vez de sonhar com “voltar para casa”, já anda de olho em morar permanentemente no castelo do Mágico de Oz, que pode ser descortinado a qualquer momento, deixando Dorothy como a única rainha.

Quem poderia desconfiar das boas intenções de Dorothy, afinal? Era só uma interiorana simples, de origem humilde e ligada às raízes da sua terra, que só queria explorar as riquezas naturais de seu sítio, cuidar da família e viver uma vida ordeira enquanto cuidava dos seus totós contra vizinhas mal humoradas.

Dorothy não tem planos de voltar, pelo contrário, é perfeitamente possível que encontre um marido em Oz e fique por lá por tempo indefinido. Sobrou para o Tio Henry e para a Tia Em ficar falando mal de bruxas mortas no Whatsapp.

Conteúdo editado por:Rodrigo Fernandes
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