Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Alexandre Borges

Alexandre Borges

Institutos de pesquisa, os vencedores do Sete de Setembro

Bolsonaro em brasília 7 de setembro
O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro (PL), participa de ato político após desfile de comemoração do Bicentenário da Independência do Brasil (Foto: EFE/Joedson Alves)

Ouça este conteúdo

Vinte e três dias nos separam do primeiro turno das eleições. Mais de cem milhões de brasileiros são chamados a dizer se querem cloroquina, tubaína ou se preferem manter a própria sanidade. Com a proximidade do pleito, os ânimos se acirram e temos cada vez mais dúvidas que certezas, mas nem tudo é mistério. Ao menos você tem os institutos de pesquisas para balizar seus pensamentos, como ficou provado no último 7 de Setembro.

Segundo todos os institutos sérios e tradicionais, o eleitorado de Jair Bolsonaro hoje é majoritariamente composto de homens brancos, moradores do sul/sudeste, meia-idade, classe média e alta. Foi exatamente o que vimos nas ruas de três cidades do Brasil (São Paulo, Rio e Brasília), com exceções de praxe, como funcionários de empresas constrangidos a comparecer e aplaudir.

É inegável que Jair Bolsonaro é um político popular, o que todo instituto de pesquisa confirma, dando a ele algo como um terço do eleitorado. Convenhamos que, depois de quatro anos deste governo, é um feito nada desprezível.

Não se sabe quantos empresários agiram como Roseli Vitória Martelli D'Agostini Lins, a ruralista baiana que se define como "aposentada conservadora" (que surpresa) e agora é investigada pelo Ministério Público do Trabalho por gravar um vídeo nada sutil em que disse, como se vivesse na República Velha: “Façam um levantamento. Quem for votar no Lula, demitam, e demitam sem dó, porque não é uma questão de política, é uma questão de sobrevivência. E você que trabalha com o agro e que defende o Lula, faça o favor, saia também”."

Mesmo que muitos empresários tenham aceitado a convocação da ruralista, é inegável que Jair Bolsonaro é um político popular, o que todo instituto de pesquisa confirma, dando a ele algo como um terço do eleitorado. Convenhamos que, depois de quatro anos deste governo, é um feito nada desprezível. É bastante gente, só não é a maioria.

Em 2018, Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo que sequer conseguiu se reeleger dois anos antes, foi alçado a adversário do atual presidente na última hora por conta da prisão de Lula, líder das pesquisas tanto naquela época como agora. Haddad conseguiu surpreendentes 47.040.906 votos, ou 44,87% dos votos válidos. De novo, muita gente, só não é mais da metade.

Quem coloca cem mil pessoas na rua num comício, o que dá mais do que um Maracanã lotado, é claro que consegue fabricar imagens impressionantes e com altíssimo apelo popular. Se todos os eleitores de Haddad de 2018 saíssem às ruas ao mesmo tempo, teríamos a impressão que era o político mais amado da história, mesmo que, na verdade, não fosse alguém sequer capaz de conseguir um segundo mandato como prefeito. A realidade, como um camaleão que mimetiza a textura da superfície, pode ser traiçoeira.

Há divergências entre os resultados dos institutos, mesmo entre os sérios. Como explicar? Simples, metodologia. Existem institutos que pesquisam por telefone, outros presencialmente. A maior divergência vem, na verdade, de tantos anos sem um censo no Brasil, o que gera confusões quanto à parcela da população que se encontra em cada faixa de renda.

Quantos brasileiros ganham até 2 salários mínimos? Cada instituto tem seu próprio número: FSB (44%), Futura (61%), Ipespe (46%), Datafolha (51%), Ipec (55%), Quaest (38%) e PoderData (46%) divergem de maneira trivial neste quesito, o que impacta diretamente no desenho da amostra. Quantos brasileiros ganham entre 2 e 5 salários mínimos? Novamente, mudanças nada desprezíveis: FSB (39%), Futura (20%), Ipespe (35%), Datafolha (33%), Ipec (25%), Quaest (40%) e PoderData (33%).

São diferenças metodológicas entre empresas sérias, que buscam a verdade, mas seus resultados finais serão evidentemente distintos, especialmente num país em que os votos variam tanto por faixa de renda.

Temos, segundo os institutos, dois Brasis. Um país branco e rico que vota em Bolsonaro, um país preto, pardo e pobre que vota em Lula. Qual dos dois vencerá? Impossível prever, mesmo a menos de um mês do pleito, mas basta ver qualquer foto das manifestações de anteontem para saber que as pesquisas, tão demonizadas pelo terraplanismo político atual, estão mais certas do que nunca.

Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.