Duzentos dias nos separam do primeiro turno das próximas eleições. O que pode acontecer? Tudo, mas é preciso que conversemos, com urgência, sobre como o cenário está se desenhando. E o que fazer a respeito.
O retrato do momento atual, acredito que qualquer observador intelectualmente honesto concorde, é que Lula tem uma vantagem muito folgada e relativamente sólida, seguido de longe por Bolsonaro que luta, com tudo que sua caneta pode fazer junto com a criatividade de Valdemar Costa Neto, Arthur Lira e Ciro Nogueira, para conseguir que haja ao menos um segundo turno.
As candidaturas da terceira via hoje são um sonho de verão, até agora meras distrações. Ciro Gomes continua circunscrito a um dígito nas pesquisas, uma situação mais que constrangedora para um político com uma carreira tão extensa e com o marqueteiro mais caro e polêmico do país. Sua tentativa de rejuvenescimento de imagem nas redes sociais, até agora, é um fiasco.
A coleção de má notícias que Sergio Moro coleciona semanalmente é tamanha que parece ter montado seu comitê de campanha em cima de uma cabeça de burro. O ex-ministro não precisa agora de apoiadores, doadores e marqueteiros, mas de um banho de descarrego e sal grosso. Pouca experiência, uma coleção inédita de inimigos de todos os lados do sistema político atingidos pela extinta Lava Jato e um dedo pouco abençoado para alianças está tirando as esperanças de seus apoiadores mais aguerridos.
Não vai aqui, é bom que se diga, uma crítica ao que o centro democrático representa politicamente para o país, mas o resultado de suas estratégias de campanha até agora nas pesquisas. Se nem entre os eleitores que colocam o combate à corrupção como prioridade Sérgio Moro lidera, o que dizer de suas reais chances de vencer a eleição geral? Com o STF usando tecnicalidades para anular as condenações de Lula, a Praça dos Três Poderes parece cada vez mais unida por sua volta.
Estaremos presos a um ex-condenado da justiça, custodiado por 580 dias, com os maiores escândalos de corrupção da história do país sendo apagados da memória nacional como os líderes soviéticos faziam com desafetos em fotos? É hora de tirar as crianças da sala e tratar essa possibilidade como real. E colocar os adultos na mesa para conversar sobre o que fazer em relação a isso.
Todo democrata liberal tem o direito ou até o dever de lutar até o último dia para que o segundo turno, se houver, não seja uma disputa entre o que chamei de “Che x Pinochet”. Colocar todas as fichas em candidaturas que não decolam e sequer atingem dois dígitos nas pesquisas é, diga-se com todas as letras, irresponsável.
Políticos experientes de partidos como União Brasil, MDB, PSDB e PSD já dão sinais claros de que começam a admitir que se deve trabalhar com a possibilidade de um terceiro mandato de Lula na presidência, tirando o pé do acelerador de seus respectivos pré-candidatos a presidente. E qual o objetivo prático disso? Investir pesado nas campanhas viáveis para o legislativo e governos estaduais na tentativa de não serem arrastados por um tsunami petista em outubro e ficarem submersos, no mínimo, por quatro intermináveis anos.
É neste ponto que se deve refletir, ainda com muita calma e ponderação: vale mesmo a pena para a chamada terceira via queimar nomes como Sérgio Moro e Simone Tebet, já considerando a desistência de Alessandro Vieira, entre outros, em aventuras presidenciais?
Há uma necessidade clara e evidente, para o campo político que vai da centro-direita à centro-esquerda, de bancadas significativas no legislativo e a vitória de um número considerável de governadores para, ao menos, conter parte do ímpeto com que o ex-presidiário pode chegar de mudança no Palácio do Planalto em menos de um ano.
Lula já fala no protagonismo do MTST em seu futuro governo, em regulação da mídia e em outras “pedaladas democráticas” de fazer Hugo Chávez aplaudir da sua eterna e flamejante morada. Lembre, nossa Carta Magna foi assinada pelo PT com narizes tapados na época da promulgação e seus quadros nunca se mostraram grandes entusiastas do texto.
A posição do analista não é formular caminhos ou sequer sugerir escolhas, mas apontar cenários verossímeis e conjecturar sobre eles. Neste sentido, é hora do centro democrático respirar fundo e passar a considerar que talvez a prioridade este ano seja montar uma oposição forte a um terceiro governo Lula e preparar nomes competitivos para disputar a presidência com chances de vitória em 2026, já que a escolha entre “Che” e “Pinochet” parece intragável.
Alguém tinha que dizer isso e podem espernear à vontade, mas a realidade é teimosa. Que os democratas conservadores e liberais do país pensem muito, com serenidade, sobre como montar as respectivas nominatas para as eleições de outubro. Há muito mais que a cadeira presidencial em jogo.
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