A eleição de Donald Trump e o resultado do Brexit, junto com a queda de Matteo Renzi na Itália, a ascensão de Marine Le Pen na França e Geert Wilders na Holanda, eventos que se somaram à vitória de Maurício Macri na Argentina, a queda de Dilma Rousseff no Brasil e até a derrota do “acordo de paz” colombiano em plebiscito, deram aos mais apressados a impressão de que uma nova e radical mudança da ordem mundial estava à caminho. Não tão rápido.
Com a queda do Muro de Berlim em 1989 e o fim da União Soviética dois anos depois, a maior vitória geopolítica do ocidente depois do fim da Segunda Guerra, vendeu-se para a opinião pública a idéia de que a democracia liberal havia vencido definitivamente o comunismo. Em 1992, o hegeliano Francis Fukuyama lança “O fim da história e o último homem”, registrando para a posteridade a ilusão em que vivia parte do movimento conservador americano que, naquele mesmo ano, perderia a Casa Branca para Bill Clinton.
Enquanto a direita ocidental dançava sobre os escombros do Muro de Berlim, os principais organismos monetários internacionais se reuniam na capital americana para criar as bases do que ficou conhecido como o nome de “Consenso de Washington”. A política consistia basicamente no oferecimento massivo de empréstimos vinculados à aceitação, pelos países recebedores dos recursos, de um conjunto de regras e metas econômicas estabelecidas pelos credores.
Vários organismos globais e acordos com o autodeclarado objetivo de fomento do “livre comércio” surgem também neste período: Mercosul (1991), União Européia (1993), Nafta (1994), entre outros. O termo “globalismo”, definidor de um projeto político antidemocrático que busca, a partir da criação de instituições de governança global comandadas por tecnocratas não eleitos e sem vínculos com o cidadão comum, começa assim a ser confundido com “globalização”, ou incentivo ao comércio internacional, o que é defendido por qualquer liberal desde que Adam Smith lançou “Uma Investigação sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações” em 1776.
É neste período que governos socialdemocratas, a autoproclamada “terceira via” entre a “direita” e “esquerda”, ganham força em alguns dos principais países do mundo. Bill Clinton governa os EUA por oito anos (1992-2000), Tony Blair é o primeiro-ministro britânico por dez anos (1997-2007) e até no Brasil temos o PSDB na presidência (1994-2002) alinhado com boa parte do ideário globalista que começava a tomar forma durante os anos 90.
Em 2005, o colunista do The New York Times Thomas Friedman lança “O Mundo É Plano”, best-seller que resume parte do que pensam e defendem os globalistas: na teoria, um mundo mais tolerante, integrado, aberto e plural, como cantado em “Imagine” de John Lennon. Na prática, as fronteiras e identidades nacionais, começando por suas moedas e chegando à soberania de seus governos, deixam gradualmente de existir, sendo substituídos por um grande mercado em que as principais corporações multinacionais podem transferir livremente capitais, fechar ou abrir unidades fabris, a despeito dos impactos imediatos nas comunidades locais.
Estas corporações, auxiliadas pelos lobistas, marqueteiros, jornalistas e “especialistas” mais caros do mundo, constróem relações com políticos que patrocinam legislações e regulações que asfixiam os pequenos e médios empresários nacionais enquanto inundam o mercado de trabalho de países desenvolvidos com trabalhadores (ou “refugiados”) de nações falidas, reduzindo drasticamente o valor da mão-de-obra. Acredite se quiser, isso é tudo menos liberalismo, regime de empreendedores e do incentivo à inovação, livre competição e associação, em que o papel dos governos locais é de garantidor das leis, da ordem pública e da segurança dos cidadãos e não de agente econômico interventor.
O “governo mundial” sonhado pelos globalistas que anualmente se reúnem em Davos, na Suíça, é uma ideia de raízes kantianas e com adeptos entre as principais fortunas do planeta com aspirações dinásticas. O discurso de integração econômica internacional, que nenhum liberal evidentemente se opõe, serve de pretexto para a implementação de políticas globais em todas as áreas de governo por órgãos não-eleitos e sem qualquer representatividade ou prestação de contas para o eleitor nacional, numa subversão inaceitável do ideal democrático liberal.
A ONU e suas subdivisões passam a exercer um papel estratégico no globalismo. Pensada inicialmente como um grande fórum de discussão para evitar conflitos e organizar esforços humanitários conjuntos, seu corpo burocrático com o tempo assume a função de elaborar políticas globais em praticamente todas as áreas relevantes de governo como imigração, educação, segurança pública, saúde, alimentação, energia, desconsiderando as realidades locais e a autonomia de cada povo elaborar, discutir e implementar suas próprias idéias e se responsabilizar pelos seus erros e acertos.
A vitória do “homem esquecido” do cinturão da ferrugem na eleição de Donald Trump ou do operário inglês de Manchester no Brexit pegaram os globalistas de surpresa, mas a reação não tardou e neste momento, enquanto tentam impedir que Trump governe e que o Reino Unido consiga efetivamente sair da União Européia, ganham vida nova e um novo rosto com Emmanuel Macron, segundo as pesquisas o próximo presidente da França, uma eleição na qual você deveria prestar atenção.
No próximo post, um pouco mais sobre quem é e o que representa uma vitória de Macron para o globalismo.
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