Por Guilherme Macalossi
A segurança pública virou o terreno dos chavões. Enquanto mais de 60 mil brasileiros são assassinados todos os anos, o debate sobre o tema se polarizou entre quem prega a Lei de "Talião" de um lado e o liberal geral de outro. Há pouco espaço para uma análise mais fria e técnica desse problema social tão gritante e desafiador.
No Centro de Altos Estudos de Segurança (Caes), o Coronel Eduardo de Oliveira Fernandes, da Polícia Militar de São Paulo, prega a necessidade de incorporar a inteligência no combate ao crime: “Hoje em dia não se pode mais pensar no papel das polícias sem o componente da tecnologia. Você ter sistemas inteligentes em que você possa fazer planejamento e ter um resultado na execução. Hoje em dia temos de trabalhar com a ideia de política estratégica", disse.
O coronel usa como exemplo o Estado de São Paulo, que ostenta alguns dos melhores indicadores de segurança do país: “A Polícia Militar trabalha, aqui no Estado de São Paulo, com uma política pública de solução de problemas (…) A necessidade, então, de um planejamento muito rigoroso baseado em sistemas inteligentes. Esses sistemas inteligentes vão desde o Infocrim, que é um banco de dados com todas as ocorrências registradas, Fotocrim, que é um sistema inteligente desenvolvido pela Polícia Militar em que há um banco de dados com um cadastrado de todos os indivíduos, todos os marginais, vamos dizer assim: toda a criminalidade, e a partir disso é feito esse planejamento.”
Segundo Fernandes, até mesmo as ações de segurança mais rotineiras, como patrulhamento, seguem esse procedimento estratégico, de modo que “a viatura policial não está circulando em determinado local se não houver o planejamento”. Para ele, é o “planejamento e a execução com eficiência, com eficácia” que leva a um número cada vez maior de prisões.
Outro apontamento feito pelo Coronel Fernandes é relacionado à necessidade de se analisar a segurança pública também pelos estudos formulados por quem a vive cotidianamente: “Se você começa a analisar a segurança pública só (…) pelo prisma de sociólogos e antropólogos, evidentemente que o pessoal falará de Foucault [Michel Foucault, filósofo francês]o tempo todo. Não que Foucault não seja importante, mas a outra parte, relacionada ao dia a dia e aquela literatura que, de uma certa forma, é produzida também nos bancos escolares dos operadores de segurança pública é muito interessante”, afirma.
Fernandes revela que, apenas no Centro de Altos Estudos de Segurança, há em torno de cinco mil trabalhos produzidos ao longo de trinta anos. Ele observa, com orgulho, que pesquisadores passaram a se interessar pelo material: “Hoje eu vejo que tem pesquisadores de outras universidades que estão vindo aqui, ingressando em nossa biblioteca, para ter esse conhecimento”.
Questionado por Alexandre Borges sobre a abrangência desse interesse por estudos mais técnicos por parte de jornalistas e acadêmicos de centros tradicionais, Fernandes admite que é algo “muito raro”, mas que o Caes está aberto para todos os interessados.
Acompanhe a íntegra da entrevista de Eduardo de Oliveira Fernandes, que falou ao “Imprensa Livre” sobre outros temas como a função da punição, a diferença entre autoridade e autoritarismo e a importância da intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro.
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