Nem Che, nem Pinochet. Nem Orbán, nem Erdogan. Nem Salvini, nem Salvatti. Nem Jonas Manoel, nem Beatrix von Storch. Com a filiação de Sergio Moro ao Podemos, nasce a terceira via para 2022. Se você tem dúvida se é competitivo ou não, basta ver o nervosismo da militância dos seus prováveis adversários. Especialmente daqueles que venderam a alma para algum projeto político e temem morrer abraçados a ele.
O campo que vai da centro-direita à centro-esquerda estava sem um candidato aglutinador, uma liderança clara e com potencial real de crescimento. O centro foi rejeitado em 2018, quando os candidatos Geraldo Alckmin, João Amoêdo, Marina Silva e Álvaro Dias não chegaram a 10% dos votos. Somados. Antes de Moro, 2022 caminhava para repetir o mesmo resultado.
Ciro Gomes tenta uma empreitada arriscada, para dizer o mínimo. Ao postular o espaço da esquerda, rivalizando com Lula, repete o caminho do fundador de seu partido, Leonel Brizola. O gaúcho apelidou Lula de sapo barbudo e fez de tudo para superar o adversário, mas sem sucesso. Na eleição de 1989, quase empatou com ele, mas em 1994 amargou um quarto lugar com pouco mais de 3% dos votos. Em 1998, foi candidato a vice-presidente na chapa de Lula e perdeu no primeiro turno para FHC. Em 2000, tentou ser prefeito do Rio e obteve menos de 10% dos votos. Morreu em 2004 no ostracismo e sem fazer sombra a Lula. Difícil imaginar Ciro superando o antecessor na mesma tarefa.
O PSDB vive uma disputa fratricida entre João Dória, um postulante real, e Eduardo Leite que desde o início levanta a suspeita de que só está na disputa para esvaziar o paulista, uma tarefa dada por Aécio Neves para que o tucanato não lance candidato próprio e use todo fundão eleitoral para suas disputas regionais. Mesmo que a candidatura de Leite seja para valer, tanto ele como Dória têm mostrado uma dificuldade quase intransponível de emplacar seus nomes nacionalmente, Como se isso não bastasse, o partido rachou e a base se esfacelou na votação da PEC do Calote, mais uma articulação da lavra do neto de Tancredo Neves.
O União Brasil, futuro partido que unirá PSL e DEM, não se mostrou até agora engajado em qualquer candidatura, mas o presidente do PSL Luciano Bivar já fez acenos públicos a Sérgio Moro. O União Brasil pode dar a estrutura, a força, o dinheiro, o tempo de TV e da capilaridade para a candidatura do ex-juiz que o Podemos nem pode sonhar. Moro é popular, mas para uma campanha presidencial no Brasil é preciso mais que isso.
O Partido Novo está testando o nome do cientista político Luiz Felipe d'Avila que nem pontua nas pesquisas. O Novo vive uma crise de identidade pela identificação da sua bancada federal e do governador mineiro Romeu Zema com o bolsonarismo, a despeito do programa liberal do partido e da posição claramente oposicionista do seu fundador João Amoêdo. O partido laranja começa a piscar o olho para Moro, um nome que poderia reaproximar bolsonaristas e oposicionistas do partido. O tempo dirá.
MDB fala em Simone Tebet e Cidadania em Alessandro Vieira, dois senadores que ganharam projeção nacional durante a CPI da Covid. A candidatura Moro tende a canibalizar a base de ambos, como o próprio Vieira já sugeriu ao dizer que deixaria a disputa para apoiar o ex-juiz. Tebet poderia ser um bom nome para vice, mas se Moro fechar com o União Brasil dificilmente conseguirá escolher o companheiro de chapa.
Com tantos nomes colocados, o que torna Sérgio Moro diferente dos outros? Sua viabilidade eleitoral. Ele é o primeiro candidato que encarna, sem sombra de dúvidas, os ideiais dos brasileiros que foram às ruas em 2015/16 pelo impeachment de Dilma Rousseff. A queda da petista levou à presidência Jair Bolsonaro, um ator irrelevante naquele processo e que venceu mais pela inação dos adversários e por externalidades como a prisão de Lula e o atentado que sofreu do que por simbolizar o lavajatismo ou udenismo.
É cedo para colocar Moro no segundo turno, mas sua entrada na disputa traz uma lufada de ar fresco para um filme cujo roteiro caminhava para um final pouco feliz para quem defende a democracia liberal, o estado de direito, o império das leis e a economia de livre mercado. Como todo político, deve ser recebido com o ceticismo e a prudência recomendáveis, mas sem afetação, esnobismo ou falsas equivalências.
As reações ao nome do ex-juiz são previsíveis e até desejáveis para que ele mostre como se porta ao ser testado. Ele ainda carregará o estigma de ter ficado muito tempo no governo Bolsonaro, mas é uma mancha pequena no currículo quando comparado aos adversários.
A turma da tornozeleira eletrônica já está se articulando para não ver o renascimento da Lava Jato ou qualquer que seja o nome que uma nova força tarefa eficiente contra a corrupção e os crimes que tiram o sono de Brasília. Um homem não se conhece apenas pelos amigos, mas também pelos inimigos. Moro começou incomodando quem merece ser incomodado. Que continue assim.
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