No evento de filiação (ou "casamento") ao Partido Liberal ontem, o presidente Jair Bolsonaro disse que se sentia "em casa" e que era "motivo de orgulho e satisfação" estar lá, como se alguém duvidasse. Ele também desejou "cada vez mais termos menos diferenças entre nós", prometeu "compor" com os presentes (a cúpula do centrão) e que teria uma "família" com Valdemar Costa Neto. Significa.
Dos mais de 57 milhões de eleitores da chapa presidencial vencedora em 2018, quantos assinaram embaixo da "composição" com o que há de mais arcaico e fisiológico na política brasileira? O chavão "foi por isso mesmo que eu votei nele", tantas vezes repetido nos momentos mais absurdos do bolsonarismo, parece ter desaparecido das redes sociais e da infame mídia governista.
Nem os perfis falsos, os robôs, os derrubadores de cruzes na praia de Copacabana ou os coreógrafos de dança com caixões na Av. Paulista, muito menos os abjetos microfones de aluguel, conseguiram relativizar o que foi sacramentado ontem: é um governo com a marca indelével do centrão mensaleiro, de ex-presidiários e investigados por todo tipo de escândalo de corrupção, amealhados com as piores práticas da velha política como o famigerado orçamento secreto.
A verdade, aquela que liberta, é que Jair Bolsonaro sempre foi um político do baixo clero do Congresso. Seus 28 anos no Parlamento tiveram uma produtividade que não preenche um rodapé de página num anexo empoeirado da história do legislativo brasileiro. Mesmo no recente e decisivo movimento que levou ao impeachment de Dilma Rousseff em 2016, sua participação foi de um figurante, um apagado coadjuvante apoiado por uma casta ideológica que pedia intervenção militar e demonizava as forças democráticas que queriam uma deposição legal da ex-presidente.
A "Aliança pelo Centrão", a essência do que foi consolidado ontem, é um escárnio com todas as almas crédulas que embarcaram no canto desafinado de Augusto Heleno na convenção do PSL há apenas 3 anos no Rio de Janeiro. No mesmo evento em q ue o ex-ajudante do general aloprado Sylvio Frota quanto o filho zero-três do presidente atacavam os atuais "noivos" de Bolsonaro, a atual deputada Janaína Paschoal (PSL-SP) previa, com rara acuidade, que aqueles militantes poderiam se tornar novos petistas, emulando os apoiadores de Lula nos seus piores expedientes. Bingo!
Pelo que se ouve em Brasília, o sonho do noivo é fazer uma grande bancada de deputados e senadores no espólio do que sobrou do bolsonarismo enquanto se prepara para formar a base parlamentar de um terceiro governo Lula. Se isso acontecer, teremos um time de deputados ex-militares, pastores evangélicos e outros tipos afins apoiando uma gestão petista a partir de 2023, o que, convenhamos, tem lá sua ironia.
Em julho desde ano, Bolsonaro já havia reclamado que havia um tratamento injusto dos companheiros (e agora correligionários) mensaleiros, concluindo com uma das frases mais lapidares de sua trajetória política: "eu sou do Centrão". O noivado com Valdemar Costa Neto está consumado e desejamos felicidades aos nubentes.
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