Imagem do presidente Jair Bolsonaro abraçando o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Dias Toffoli, flagrada pela CNN Brasil, no sábado (3).| Foto:
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Eles compraram briga com a família e amigos no zap, colocaram palavras de ordem em cartolinas, zombaram das mortes da pandemia, lançavam “e o PT?” em meio a perdigotos em resposta a qualquer crítica, marcharam e bateram continência até para a loja da Havan, uma simbólica “Marcha Sobre Brasília” que prometia virar uma página da política brasileira.

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Alguns hipotecaram suas reputações publicamente, tudo em nome de um governo patriota e impoluto que deveria parar de ser atrapalhado pelo “establishment”, seja lá o que isso signifique para seus defensores. Era um basta definitivo ao comunismo do trotskista Michel Temer, ou melhor, de sua antecessora, aquela que já havia saído quase dois anos antes do poder.

No último sábado, após a indicação de Kassio Nunes Marques ao STF por praticamente todo mundo com algum poder e influência na capital federal, o presidente eleito para lutar por “mais Brasil e menos Brasília” deu um simbólico, afetuoso e público abraço em José Antonio Dias Toffoli na porta da casa do ex-presidente da corte. Ele esteve lá para se encontrar com Toffoli, Davi Alcolumbre e o próprio Kassio Nunes Marques.

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Aquele abraço não foi como qualquer outro. Como diria Gilberto Gil, ex-ministro de Lula, foi um recado do presidente ao seu defensor mais fervoroso, com o perdão do pleonasmo: “Meu caminho pelo mundo / Eu mesmo traço / (…) Quem sabe de mim sou eu / Aquele Abraço!”

O ex-presidente da Suprema Corte, tão atacado em manifestações governistas recentes, aquele tratado como “advogado do José Dirceu” e responsável por inquéritos que perseguiam outros patriotas, aquele intimidado por reações de neoconservadores com frases nada sutis como “a toga não é mais forte que o fuzil”, recebia o abraço que selava uma harmonia entre os poderes, o que costuma ser boa notícia em teoria mas, como tudo na vida, o diabo está nos detalhes.

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As reações àquele abraço, vindas desse tipo bem particular de patriota nas redes sociais e na imprensa governista, ainda estão surgindo e formam um conjunto que pode, um dia, merecer um estudo sociológico. Ao menos enquanto a sociologia, uma disciplina vista por muitos patriotas como comunista, não for banida das universidades.

Para separar as reações, pedimos licença a Gilberto Gil para lembrar de outro comunista e companheiro seu de jornada, o também comunista Francisco Buarque. Algumas de suas músicas podem dar dicas de como separar cada tipo de reação que acompanhamos durante os últimos dias.

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O primeiro tipo é o que quer se afastar, simulando independência e ensaiando algum tipo de identidade política própria que poderia render frutos em 2022. Estes estão cantando “afasta de mim esse cálice” por não aceitar “beber dessa bebida amarga / Tragar a dor, engolir a labuta”. Não chegam a chorar por “tanta mentira, tanta força bruta” porque é sempre importante deixar uma porta aberta, mesmo que a dos fundos.

O segundo tipo é o das “Carolinas”, aquelas que estão, desde sábado, olhando para o outro lado. Sabem que “todo mundo sambou / Uma estrela caiu / Eu bem que mostrei sorrindo / Pela janela, ói que lindo”, mas Carolina insiste que não viu. Ela tem “olhos tristes” e “guarda tanta dor”, sabe que “o tempo passou na janela”, mas torce para que o Brasil mude de samba. Vai passar?

Por último, temos as “mulheres de Atenas”, aquelas que “sofrem pros seus maridos, poder e força de Atenas” mas continuam e continuarão fiéis até a banda passar. Fazem “Carícias plenas / Obscenas”, “não têm gosto ou vontade / Nem defeito nem qualidade / Têm medo apenas”.

Nós, aqueles teimosos que insistem em manter a independência, ficamos a avisar aos “caros amigos” que “a coisa aqui tá preta”. Como brasileiros e teimosos, “a gente vai levando de teimoso e de pirraça / E a gente vai tomando, que também, sem a cachaça / Ninguém segura esse rojão”.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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