Para fugir da cafonice de falar Xadrez 3D em seu sentido metafórico usual, vamos assumir que Gilberto Kassab joga com 3Ds: Dissimular, Desistir e Dominar. Ele sabe exatamente o que está fazendo e não é à toa que algumas das raposas mais felpudas de Brasília estão acompanhando de perto seus movimentos.
Kassab é fundador e presidente do novo PSD, partido que não guarda qualquer ligação com o histórico partido fundado em 1945 por egressos do varguismo, um MDB da época que abrigava um leque multifacetado de políticos de todos os espectros ideológicos e que costumava acompanhar os ventos do poder. O PSD de Kassab, nascido em 2011, na aurora do primeiro governo Dilma, era uma dissidência “lulista” do DEM, um agrupamento pouco usual de políticos centristas que queriam um naco no governo recém-eleito e precisavam se livrar das amarras oposicionistas do ex-PFL.
O PSD de Kassab, é bom que se diga, já nasceu próximo do petismo. O próprio Kassab foi agraciado com o cobiçadíssimo Ministério da Cidadania do governo Dilma, uma invejável torneira de dinheiro público que todo político do centrão sonha em ter acesso. Desde então, a relação entre ambos só se estreitou e Kassab fez de tudo para evitar que seu partido aderisse oficialmente ao processo de impeachment de Dilma Rousseff, o que só aconteceu nos estertores do governo, quando já não havia mais nada a fazer para ressuscitar o desastrado e moribundo segundo mandato da ex-guerrilheira que literalmente quebrou o país.
Nos arranjos de uma candidatura própria para presidente em 2022, Kassab chegou a cogitar vários nomes, mas fez sua primeira grande aposta em Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, um político anódino que nunca mostrou qualquer interesse real na disputa. Kassab manteve sua pré-candidatura viva por aparelhos enquanto buscava alternativas, como atrair Geraldo Alckmin para formar uma chapa com Lula. Outra decepção, já que o ex-governador fechou com o PSB.
Como líder maior do PSD, Kassab tem mostrado dificuldade em manter as principais lideranças do partido unidas pela ideia de uma candidatura própria no primeiro turno. Nomes importantes do partido, como o prefeito Alexandre Kalil e os senadores Omar Aziz e Otto Alencar são publicamente apoiadores de Lula, enquanto o prefeito carioca Eduardo Paes aproximou-se de Ciro Gomes. Não há qualquer intenção destes e de outros políticos pessedistas de destaque em seguir com seu presidente na arriscada e muito dispendiosa aventura de lançar um nome próprio para a disputa.
A mais recente aposta de Kassab é no jovem governador gaúcho Eduardo Leite, derrotado nas prévias internas do PSDB e que poderia ser seduzido por disputar a presidência, mesmo com chances reduzidas, ao menos para aproveitar a oportunidade de participar dos principais debater e tornar seu nome nacional. Leite foi prefeito de Pelotas e, mesmo bem avaliado, preferiu eleger a sucessora e disputar o governo do estado. Vitorioso novamente, parece pouco tentado a buscar a reeleição ao governo gaúcho, assim como fez em Pelotas. Seria um movimento coerente com sua disposição e personalidade.
Seja qual for o caminho adotado por Kassab e pelo PSD, volto a afirmar, como num artigo recente, que a opção dele foi, é e será por Lula. O resto é cortina de fumaça de um político experiente que sabe que enfraquece muito sua posição entregando os pontos e jogando a toalha com tanta antecedência. Ele sabe que, mantendo um candidato nanico até o fim, pode ser o fio da balança entre uma vitória no primeiro turno para Lula. É um jogo arriscado, mas que faz todo sentido.
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