Se me permitem a referência nerd, especialmente depois do lançamento do pior filme da saga Star Wars de todos há poucas semanas, volto ao ótimo Episódio III (“A Vingança do Sith“, 2005), quando a república é dissolvida em nome da segurança. Vivemos a Era dos Eufemismos e todo cuidado com o verdadeiro sentido das palavras é pouco.
No momento mais marcante do roteiro, a futura mãe de Luke Skywalker e Leia Organa, Padmé Amidala (Natalie Portman), diz a frase que resume o filme: “então é assim que a liberdade morre, com aplausos estrondosos”. Como na parábola do sapo, é preciso cozinhar a vítima aos poucos ou ela percebe e pula fora da panela. Os principais inimigos da democracia hoje sabem cozinhar sapos e receber aplausos enquanto matam a liberdade.
Mais uma vez a famigerada Oxfam pauta a imprensa com seu socialismo de butique para denunciar, como se fosse algo ruim, que o número de bilionários no mundo aumentou. Em seus relatórios, a ONG diz que a desigualdade é “um problema em si” e que a culpa seria do sistema tributário e do preconceito.
Se apenas cobrássemos mais impostos, dando aos abnegados burocratas governamentais mais poder e dinheiro, haveria chance de termos o paraíso na Terra, como já disse o inspirador desse pessoal ainda no séc. XIX. Se apenas fossemos menos preconceituosos, poderíamos ter a segunda mulher presidente, já que a primeira, eleita com o discurso das políticas identitárias da esquerda, literalmente quebrou o país, mas não vamos incomodar a narrativa com essas lembranças inconvenientes.
No Brasil, a Oxfam é liderada pelo ultrapetista Oded Grajew, um dos maiores criadores de pautas do jornalismo do país. Entre outras realizações, o amigo e apoiador histórico de Lula foi também o criador do Fórum Social Mundial, evento que tentava ser uma alternativa ainda mais à esquerda que o Fórum Econômico Mundial de Davos. Como os líderes mundiais reunidos em Davos este ano, exceção honrosa para Trump e Netanyahu, repetiram as pautas da Oxfam, o Fórum Social Mundial vai precisar defender a coletivização maoísta da agricultura ou a construção de Gulags para se manter à esquerda do evento suíço.
Quando as maiores fortunas do planeta se reúnem na Suíça para patrocinar pautas tradicionais de esquerda, você deveria prestar atenção com algum ceticismo, para dizer o mínimo. Ou então comprar pelo valor de face o que os despachantes destes bilionários na imprensa repetem, dando a entender que eles estão apenas querendo dar poder para que governos possam dilapidar seus patrimônios coercitivamente, já que ninguém impede que doem parte ou toda sua fortuna hoje para instituições de caridade.
Sem entrar numa digressão infindável sobre o tema, é preciso dizer com todas as letras que o socialismo, especialmente na versão “fabiana” que agrada os bilionários de Davos, é o maior, mais insidioso e dissimulado golpe político já dado por ricos contra pobres. Governos intervencionistas, que regulam, taxam e controlam economias, são os maiores aliados de quem nasceu e quer morrer rico sem ter que colocar seus negócios para enfrentar concorrentes e disputar a preferência do consumidor no livre mercado.
Pense num lutador de MMA que venceu o título mundial na sua categoria de peso. Ao conquistar o cinturão, a luta perde muito do estímulo para ele já que, ao entrar novamente no octagon, sua única certeza é apanhar e seu único prêmio possível é manter o cinturão que já tem. O bilionário “fabiano” é aquele que percebeu que a liberdade econômica coloca seu patrimônio em risco porque obriga que seus negócios se mantenham competitivos. Sendo assim, ele evidentemente prefere uma economia engessada, regulada e moldada para que novos concorrentes não surjam e se atrevam a desafiar sua liderança de mercado e suas margens de lucro.
O livre mercado é o responsável não apenas pelo maior sistema de criação e distribuição de renda da história, é também a mais eficiente e justa ferramenta de mobilidade social que existe. O liberalismo deu mais oportunidades para que pobres deixem a pobreza do que qualquer outro sistema já testado, uma lição da história que só um intelectual engajado pode ignorar.
A própria discussão sobre “desigualdade”, uma abstração estatística que cria categorias arbitrárias de renda congeladas no tempo, traz em si tantos erros e um único artigo seria incapaz de enumerar. O sultão de Brunei, Hassanal Bolkiah, tem mais de 5 mil carros e mora numa mansão de 1.800 quartos e 250 banheiros, muito maior do que as residências de Bill Gates ou Mark Zuckerberg. E daí? Gates e Zuckerberg vão muito bem, obrigado. O que importa é tirar os pobres da pobreza e não se alguém tem dez iates enquanto outro tem trinta. Nada tira pobres da pobreza como o livre mercado numa democracia liberal e é isso que interessa.
Você não precisa acreditar em mim. Consulte os relatórios anuais da The Heritage Foundation, que junto com o The Wall Street Journal faz o mais importante ranking mundial de liberdade econômica e mostra a relação absolutamente inquestionável e inegável entre liberdade econômica e aumento da riqueza, combate à pobreza, melhoria da qualidade de vida e até da preservação do meio ambiente. No relatório de 2017, o Brasil ficou no vergonhoso 140º lugar, mas ninguém parece se importar.
Não há nada de fortuito na pobreza do Brasil e das péssimas condições de vida de grande parte da sua população que não tem acesso a serviços públicos de mínima qualidade e são tratados como animais domésticos que precisam apenas de ração, abrigo e sexo sem compromisso para se manterem comportados e obedientes.
Nada assusta mais uma elite “fabiana” do que um povo com liberdade, dinheiro no bolso e sem as amarras do estado e ela sabe disso, assim como seus intelectuais, publicitários, artistas, jornalistas, ativistas e burocratas de serviços. E é por isso que defendem com tanto entusiasmo o que é aparentemente um contrassenso: mais poder para que a burocracia estatal possa avançar sobre suas riquezas.
Quando ricos e poderosos percebem que não há maior risco para suas fortunas do que um mercado livre, o preço cobrado por uma alta carga tributária e os eventuais incômodos causados por uma economia intervencionista, socialista e regulada, é uma pechincha, especialmente se o aplauso dos trouxas vier de brinde.
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