Em quase três décadas na publicidade, uma das lições que aprendi é que pesquisas são como postes, servem de apoio para os bêbados e iluminação para os sóbrios. Um ano antes da eleição, o que não falta é gente agarrada a postes e girando em torno deles. É preciso separar as coisas.
Não estou culpando apenas os alquimistas de pesquisa e palpiteiros em geral, o público costuma ser o primeiro a exigir dos analistas políticos uma previsão exata para 2018 e é realmente difícil para alguns resistir a chance de posar de mago. Neste ponto, as pesquisas dizem pouco, quase nada, mas há ali um ou outro recado do eleitor.
Vistas em conjunto, as últimas pesquisas de opinião sobre os presidenciáveis mostram um eleitor ainda bastante indeciso, metade deles citando preferências frágeis em candidatos pouco expressivos e a outra metade se dividindo entre Lula e Bolsonaro, com o petista apresentando quase o dobro do número do principal adversário no momento. Já podemos trocar o nome do país para Venezuela do Sul?
O que se pode afirmar é que há uma parte do eleitorado, normalmente em torno de 20% a 30%, que historicamente vota no PT e que ainda está disposto, dadas as opções atuais, a permitir o retorno de um candidato lulista ao Planalto. Há uma memória positiva de muitos destes eleitores em relação ao período da bolha de crescimento artificial inflada pela China e pela expansão irresponsável dos gastos públicos e do crédito.
Existe a lembrança da ampliação dos programas assistencialistas iniciados no governo FHC e a consolidação de idéias absurdas como as de que o governo Temer “piorou a situação”, que quer “tirar direitos dos trabalhadores”, “acabar com a aposentadoria”e que a corrupção “aumentou”. São muitos eleitores, mas não elegem sozinhos um presidente.
Outra parte importante do eleitorado, entre 15% e 25%, tem uma rejeição visceral ao lulismo e a tudo que ele representa, expressando essa repulsa em declarações de voto a Bolsonaro, pré-candidato que melhor consegue captar o sentimento anti-Lula que é comum a pelo menos 40% do eleitorado. Se o deputado vai conseguir consolidar o voto anti-Lula é o que veremos nos próximos meses, mas ele larga com boa dianteira e é um herdeiro legítimo destes votos.
Com metade do eleitorado na prática indeciso e a outra metade fazendo um plebiscito em relação ao lulismo, é evidente que ainda há muito pela frente antes de se poder cravar o cenário final. Lula vai conseguir manter os eleitores atuais mesmo com uma enxurrada de denúncias e uma possível condenação em segunda instância? Bolsonaro vai seguir como o candidato anti-Lula e que melhor representa a lei e a ordem contra a corrupção e a bandalheira deixada pelo petismo? O tempo dirá, ainda é cedo para saber porque tudo ainda depende do desempenho das campanhas dos próprios candidatos.
Mais importante é: quem vai conquistar a metade indecisa do país? Que tipo de mensagem, qual perfil de candidato é esperado por essa massa de eleitores que pode decidir a próxima eleição? Ainda há espaço para o surgimento de novidades ou até de um escárnio como Luciano Huck? Por que uma fatia tão grande do eleitorado ainda não se posicionou de forma mais clara, em candidaturas com cores mais nítidas como Lula e Bolsonaro?
Há mais perguntas que respostas neste ponto da disputa, por mais que os prestidigitadores, arrivistas e caçadores de cliques em geral insistam em lustrar a bola de cristal.
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