O PT acaba de divulgar as "diretrizes para reconstrução do Brasil", um esboço ligeiro e descuidado do que pode vir a ser o programa de governo para o eventual governo Lula 3 (2023-2026). A boutade do Barão de Itararé, reproduzida no título, nunca foi tão atual.
Lula lidera com folga as quase 15 pesquisas de opinião regularmente divulgadas no Brasil, com registro no TSE, nas quais o ex-presidente abre algo como vinte pontos de vantagem sobre seu principal concorrente no segundo turno. Nada ainda está decidido, mas há um favoritismo que não pode ser desprezado, assim como o conjunto retrógrado, anacrônico e negligente de ideias divulgado na segunda-feira (6/6).
O documento é um conjunto desconjuntado de frases, como uma thread (ou fio) de Twitter, em que se vê uma proposta que une atraso ideológico com desprezo pelas experiências passadas e mal sucedidas do país com o intervencionismo estatal na economia, além da sanha autoritária e chavista de controle da imprensa e das redes sociais. Você não precisa acreditar em mim, leia por você e confira.
Não há dúvidas de que o sarrafo está muito baixo e qualquer coisa que se ofereça ao povo brasileiro como alternativa ao que se tem hoje pode parecer melhor, mas o niilismo é sempre mau conselheiro e um pouco de racionalidade e prudência neste momento são recomendáveis. É sempre possível piorar,
O diagnóstico apresentado está baseado numa falácia absurda: o Brasil viveria num regime "neoliberal", seja lá o que isso signifique, quando na realidade ocupa a vergonhosa 133ª posição entre 177 países medidos pelo ranking de 2022 da Heritage Foundation, ficando atrás de potências como Nicarágua, Equador, Paraguai, Sri Lanka, Tonga, Senegal, Uganda, Namíbia e Burkina Faso. A partir deste diagnóstico, o tratamento sugerido tem tudo para matar o paciente.
Do pouco que o documento traz, algumas flechadas certeiras no peito do país como a revogação da tímida reforma trabalhista, com direito à promessa de perseguição aos aplicativos que oferecem renda a milhões de brasileiros que aderiram voluntariamente a eles por absoluta falta de melhores alternativas.
Fala-se também no controle da mídia, como se ele hoje efetivamente já não acontecesse pela manipulação pouco republicana das verbas publicitárias ou da competição predatória de picaretas virtuais que vivem de subsídios cruzados ou explorando o analfabetismo funcional de parte do eleitorado.
Neste trem fantasma de ideias perniciosas, é preciso destacar que Ciro Gomes ao menos, ao oferecer um livro com propostas ao debate, ao menos tentou qualificar o debate com ideias de cem anos atrás, como um aceno ao New Deal e ao Estado Novo varguista, mas ao menos desenvolvidas com mais seriedade, dedicação e rigor do que as constrangedoras diretrizes petistas.
O que foi oferecido ao Brasil é de tirar o sono de qualquer um que sonhe com um país mais próspero, justo e livre. O PT surfa a onda de oposição a um governo impopular, trapalhão, clientelista, patrimonialista e apoiado pelo conjunto mais vulgar e semiletrado de influenciadores e palpiteiros da história, mas isso não pode deixar com que a sociedade civil e suas vozes independentes deixem de apontar com veemência seus acenos para um país ainda mais voltado ao passado.
Lula está visivelmente amargurado e ressentido com o país que apeou Dilma do poder e colocou seu padrinho no xilindró por 580 dias. Se sua proposta de governo for apenas o revisionismo histórico e a tentativa de limpar sua biografia, não é preciso bola de cristal para antever o precipício onde essa estrada termina.
A festa da direita brasileira com a vitória de Trump: o que esperar a partir do resultado nos EUA
Ministros do STF fazem piada sobre vitória de Donald Trump; assista ao Entrelinhas
Com imigração em foco, Trump começa a projetar primeiros decretos como presidente dos EUA
Maduro abranda discurso contra os EUA e defende “novo começo” após vitória de Trump
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS