Quase cinquenta anos depois da FIESP e dos militares darem Lula de presente para os intelectuais da USP no nascimento do PT, os bilionários do país têm um novo nome “do povo” para a presidência: Tábata Amaral. Pequenas idéias, grandes planos.
A Menina do Acredito já tem mais horas de TV do que muito artista de novela, a despeito da quase irrelevância do seu “movimento”. Uma rápida comparação com o espaço dado na imprensa a Fernando Holiday, o vereador paulistano de apenas 20 anos, negro e gay, que tem mandato e lidera um dos movimentos de jovens mais importantes do país, já bastaria para levantar suspeitas. Em tempos de pós-verdade, mentiras sinceras interessam.
Tábata, evidentemente, tem todo direito de entrar para a política, assim como nossos bilionários de patrocinar seu novo ex-pobre de estimação, mas é preciso cautela antes de embarcar no iate. O principal argumento contra as idéias políticas de Tábata, poucas mas bastante reveladoras, é Tábata.
O principal argumento contra as idéias políticas de Tábata, poucas mas bastante reveladoras, é Tábata.
No vídeo abaixo em que conversa com Fernando, irmão de Luciano Huck e um dos criadores do Quebrando o Tabu, Tábata conta emocionada sua história de vida. Se o que ela conta lá é verdade, poucas vezes vi tamanha ingratidão e incompreensão de alguém com o esforço admirável da própria família, amigos, professores, patrocinadores privados e com a sociedade que ajudou a pavimentar seu caminho.
A vida de Tábata e seus primeiros sucessos não têm absolutamente nada a ver com o estado, este ente abstrato que agora ela trata como panacéia para os problemas dos pobres brasileiros. E ingratidão normalmente não é um bom indicador de personalidade.
A menina pode ser um prodígio de matemática, mas suas idéias políticas, expressadas de forma ginasiana e inocente nas entrevistas, não fazem diferença das que atrasam o Brasil há um século.
Na entrevista que aparece no vídeo, a menina prodígio relata como sua mãe, seu pai adotivo e pessoas que viram nela talento e potencial trabalharam duro e investiram seus poucos recursos para que ela pudesse ter condições de estudar e desenvolver suas potencialidades, o que é exatamente o que acontece quando as pessoas são livres para isso.
A Tábata de Harvard é, segundo seu próprio testemunho, fruto de uma família amorosa e dedicada, professores e amigos altruístas, escolas e patrocinadores que deram a ela as oportunidades que ela soube aproveitar para chegar onde está hoje.
A vida da líder do Acredito é uma importante narrativa a favor da sociedade civil, da família e da solidariedade privada. Ela é a prova de como o desenvolvimento humano começa nas tradicionais instituições sociais e não no estado ou na burocracia governamental. Tábata é de esquerda, mas sua vida é de direita.
Tábata é de esquerda, mas sua vida é de direita.
Depois de subir cada degrau auxiliada por indivíduos, pela sua comunidade e investidores privados, Tábata dá as costas para todos, compra o discurso socialista e pede mais estado. O Brasil é um dos países com mais intervenção estatal na sociedade no mundo há décadas e mostra, sem qualquer margem de dúvida, como o estatismo não é apenas ineficiente, ele é um câncer que faz com que os antigos vizinhos de Tábata na periferia de São Paulo tenham tão poucas oportunidades de crescimento social e profissional.
Tábata diz que fica incomodada quando sua história é “usada” para defender a meritocracia, conceito que aparentemente não entende, porque ela quer que sua narrativa política esconda os fatos que deveriam explicar por si o valor do esforço individual.
Se os brasileiros não têm vagas em boas escolas, são atendidos em péssimos hospitais ou assassinados imperiosamente nas ruas diariamente, não é por falta de estado mas por excesso. Dizer que falta estado no Brasil não é apenas errado, é criminoso.
Brasileiros como a mãe de Tábata, seus antigos professores de colégio e vizinhos, trabalham metade do ano apenas para pagar impostos e sustentar a burocracia que Tábata quer aumentar e valorizar, acreditando que basta trocar os burocratas atuais por gente como ela que o estado funcionará tão bem quanto as empresas de Jorge Paulo Lemann. Talvez ele mesmo, infelizmente, acredite nisso. Trocar petistas por nerds não muda a natureza do estado e sua capacidade de destruir um país e as vidas de seus cidadãos.
Trocar petistas por nerds não muda a natureza do estado
Todos que ajudaram Tábata a chegar onde chegou fizeram isso por laços de afeto, admiração por seus talentos e a despeito de tudo que o estado brasileiro rouba deles diariamente. São cidadãos completamente sufocados pela carga tributária, pelo intervencionismo que afugenta investidores e corrói o valor da moeda, por regulações que destróem a inovação, a produtividade e a competitividade, sendo acorrentados na pobreza. Tábata infelizmente defende idéias que vão eternizar esse ciclo.
Há no argumento de Tábata uma vaidade implícita, algo como “eu consegui vencer porque sou diferenciada, mas pessoas comuns não conseguiriam porque não têm a minha inteligência e é por isso que precisamos do estado para cuidar delas”. Mesmo aos 23 anos e tendo estudado ciência política em Harvard, ela não entende ou não quer entender que é exatamente o excesso de estado que impede que pessoas “normais” possam se desenvolver e vencer, como se vê em qualquer país que deu certo.
A ingratidão contida nas idéias políticas de Tábata se reflete na sua recusa em admitir que sua mãe, assim como todos os outros brasileiros, precisa de mais dinheiro no bolso e não mais impostos e achaque governamental. O que seus antigos vizinhos da periferia poderiam conseguir sem o estado pilhar a riqueza nacional? É só ver como os pobres progridem nos EUA, país em que ela morou mas aparentemente não conheceu como deveria, ficando restrita às teorias de professores que vivem em bolhas ideológicas de esquerda.
Conservadores e liberais clássicos querem mais dinheiro no bolso da mãe de Tábata, mas Tábata quer dinheiro na caixa preta e sem fundo do estado, na mão de burocratas esclarecidos e geniais como acredita que existam ou possam existir um dia. Talvez imagine que essa é uma idéia nova e não o velho positivismo cientificista que desconfia do povo e defende um estado “eficiente” para levar a massa ao paraíso acima das ideologias e crenças religiosas. Esta é a definição do pensamento progressista, uma ideologia com mais de cem anos e tão perniciosa e autoritária na raiz quanto o comunismo e o fascismo. A “ciência política” em Harvard aparentemente não é tão científica quanto deveria.
Com suas idéias políticas tortas, Tábata é também uma prova e uma importante lembrança de como habilidades específicas, como seu talento para matemática, não credenciam ninguém para a política necessariamente. A matemática e a física já deram ao mundo diversos gênios, mas alguém sinceramente gostaria de ter John Nash, Alan Turing ou Stephen Hawkin como presidente da república? Ou Sheldon Cooper, o misantropo do seriado The Big Bang Theory?
Pense no nerd que só tirava dez em matemática na sua escola. Você acha que ele daria necessariamente um bom político? Sua capacidade de resolver equações é um indício de que poderia se tornar um Winston Churchill ou um Ronald Reagan? Você não precisa ter estudado em Harvard para saber a resposta.
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS
Deixe sua opinião