Depois da carnificina da última terça numa ciclovia próxima do memorial do 11 de setembro em Manhattan, quando o usbeque Sayfullo Saipov, 29 anos, matou oito inocentes e feriu outros doze gritando “Alá é maior”, uma narrativa literalmente suicida ganhou força na imprensa ocidental: o terrorismo veio para ficar é preciso se acostumar com ele. Sem colaboracionismo, os radicais islâmicos não teriam qualquer chance de sucesso.
O califado instituído pelo Estado Islâmico em áreas da Síria e do Iraque representa hoje menos da metade do território que já foi no auge do grupo. O território controlado por esta dissidência ainda mais violenta da Al Qaeda, bárbaros que assombraram o mundo a partir de 2013, tem hoje o tamanho do estado de Alagoas e, segundo especialistas, será integralmente retomado até o final de 2018. O fim do califado na região não significa, evidentemente, o fim do grupo ou do radicalismo islâmico.
A mudança das táticas guerrilheiras dos jihadistas não foi por acaso. Em 22 de setembro de 2014, o segundo homem da hierarquia do ISIS, Abu Mohammed al-Adnani (morto em Aleppo no ano passado), convocou muçulmanos do mundo todo para vingar as mortes de islâmicos na região: “se você puder matar um infiel americano ou europeu, especialmente os pervertidos e imundos franceses, ou australianos, ou canadenses, ou qualquer descrente dos países em guerra contra o Estado Islâmico, confie em Alá e mate de qualquer jeito ou maneira, como for. Esmague a cabeça dele com uma pedra, trucide com uma faca ou atropele com um carro, arremesse de um local alto, sufoque ou envenene.” É com esse tipo de diplomata que querem conversar ou negociar?
Muitos comentaristas e especialistas selecionados a dedo pela imprensa estão agora fazendo a sua parte para facilitar a vida dos radicais. A política do apaziguamento, desmoralizada após o famigerado Acordo de Munique de 1938, está de volta. Na época, um dos maiores erros político-militares da história gerou uma reação de Winston Churchill que serve como alerta para os Chamberlains de hoje: “entre a desonra e a guerra, escolheram a desonra e terão a guerra”. Pacifismo unilateral é a forma mais covarde e insidiosa de rendição.
“Se você puder matar um infiel americano ou europeu, confie em Alá e mate.”
Os colaboracionistas ocidentais podem ser divididos em dois grupos: os que atribuem causas ao jihadismo que vão até as “mudanças climáticas” para mitigar as ligações do movimento com uma versão radical e fundamentalista da religião islâmica, e os que estão dispostos a ceder às demandas dos terroristas desfigurando o modo de vida Ocidental e aceitando alegremente a transformação gradual das democracias liberais, os regimes mais avançados, livres e prósperos da história da humanidade, em cópias piratas dos estados falidos que originaram os movimentos terroristas. Sem combater os inimigos internos, a guerra será inevitavelmente perdida.
Sadiq Khan, prefeito muçulmano de Londres, declarou há um ano que “estar preparado para um ataque terrorista faz parte da vida de uma grande cidade”, profecia auto-realizável que se concretizou em dois atentados na ponte de Londres este ano. Justin Trudeau e Emmanuel Macron, dois esquerdistas apaziguadores que governam países que já foram e continuam sendo alvo do terror islâmico, deram repetidas declarações demonstrando mais empatia pela agenda político-ideológica colaboracionista que relativiza o terrorismo do que pelas vítimas e suas famílias.
Frank Figliuzzi, escrevendo para a NBC, disse que a América deveria se preparar para um futuro em que o terror será “rotina”. Jessie Singer, colunista do BuzzFeed, pediu ontem que os carros sejam banidos das grandes cidades ocidentais. O Google admite manipular os resultados das buscas relacionadas a palavras como “jihad”, “sharia” e “taqiyya“, o “engano sagrado”, para diminuir a relevância de conteúdos considerados ofensivos ao islã, o que coloca o proselitismo político acima da busca da verdade. Durante o governo Obama, de triste memória, a mudança radical de procedimentos dos serviços de inteligência americanos para que entrassem em conformidade com uma visão pervertida e entreguista da política externa e de segurança interna do pais ainda levará anos para ser revertida. O quinta-colunismo tem várias faces mas uma agenda comum que vai da acomodação covarde à traição da pátria.
Sayfullo Saipov, autor do ataque da última terça, desmoraliza os clichês ideológicos tradicionais que associam o terrorismo à pobreza e falta de acesso à educação. Morador dos EUA há 7 anos, Saipov é filho de um casal muçulmano moderado e secular, estudou em boas escolas particulares no Usbequistão e tinha uma renda de classe média como caminhoneiro e transportador. Seu radicalismo é puramente ideológico e cultural, inflado por um temperamento explosivo e sem qualquer relação com as desgastadas explicações econômicas e sociais.
O atentado não foi produto de um acesso de fúria, mas fruto de um cuidadoso planejamento de mais de um ano e que contou com um ensaio dias antes, quando Saipov fez o circuito com outra van. No hospital, onde se recupera do tiro que levou das forças policiais que impediram que causasse mais mortes, revelou que pensou em colocar uma bandeira do Estado Islâmico no veículo mas depois desistiu para não chamar atenção. A intenção do assassino era atender o chamado de Abu Mohammed al-Adnani e causar tantas mortes de infiéis quanto possível.
As forças de segurança do Ocidente possuem recursos, treinamento, experiência, inteligência e tecnologia para um combate efetivo ao terrorismo. A maior fraqueza das democracias ocidentais não está nas suas forças armadas ou polícias mas na política e nos colaboracionistas que tiram a autoridade moral do estado para conter a violência.
Especialistas concordam que evidentemente não é “impossível” combater o terrorismo em sua forma atual, mesmo quando assume táticas como a de “lobos solitários” usando carros particulares para atropelar inocentes nas ruas. Terroristas costumam deixar pistas e rastros identificáveis de seus intentos com parentes, vizinhos, amigos, colegas de trabalho e frequentadoras dos mesmos locais como mesquitas. Há muito o que avançar neste campo para evitar novos atentados.
A participação da sociedade na identificação de ameaças potenciais é fundamental na identificação de candidatos a terrorista. Para isso, é preciso um esforço sério de educação e conscientização da população sobre como perceber e denunciar indícios de atividades suspeitas para as autoridades policiais. Com uma comunidade ativamente engajada no combate ao terrorismo, muitas vidas serão salvas.
No Brasil, país que nos costuma oferecer bons exemplos para quase nada, especialmente em segurança pública, conta desde 1995 com uma experiência de sucesso no combate à criminalidade: o “Disque Denúncia”, serviço patrocinado em grande parte da sociedade civil e que garante o anonimato dos denunciantes.
Sem uma população que confie nas instituições e no governo, que conceda às forças de combate ao terrorismo a autonomia para que façam o que for preciso para garantir a segurança dos cidadãos, sem políticos, intelectuais e formadores de opinião comprometidos com a defesa do Ocidente, o terrorismo vencerá. Mas não será por falta de opção.
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