Se o lulopetismo é imbatível em tudo que há de pior num governo, como explicar não apenas o protagonismo de Lula para 2018, um condenado em primeira instância a nove anos e meio de prisão e responsável final pelo desastre brasileiro dos últimos anos?
Se o governo atual reverteu a crise inédita que herdou e seu casamento demoníaco de inflação com recessão, por que é tão impopular? Sem estas respostas, não é possível fazer um diagnóstico preciso e muito menos projeções confiáveis para o novo ciclo do país a partir de 2019.
Os piores inimigos do Congresso e do Judiciário hoje são eles próprios, mas a quem interessa a aniquilação moral de dois dos três poderes da república e das instituições democráticas do país? Todo ceticismo em relação aos políticos é bem vindo, mas quando o país beira o niilismo é preciso acender sinais de alerta.
Diversas pesquisas de opinião e estudos nacionais e internacionais confirmam que o Brasil confia pouco ou nada no Congresso e no Judiciário. Segundo levantamento do Latinobarómetro divulgado há um mês, o índice de insatisfação dos brasileiro com a própria democracia é o mais baixo da região.
O estudo do Latinobarómetro afirma que 62% dos brasileiros vêem a democracia como o melhor sistema. Um em cada três brasileiros não confiar na democracia é um dado que deveria ser mais analisado e discutido, especialmente às vésperas de um processo eleitoral particularmente acirrado como é de se esperar para 2018. O dado é coerente com o índice de 31% dos brasileiros dizendo que a corrupção é o pior problema do país contra a média da América Latina de 10%.
Enquanto 57% dos uruguaios e 38% dos argentinos aprovam a democracia em seus países, aqui ficamos com apenas 13%. Em relação ao Congresso, 11% confiam “muito” ou “razoavelmente”, perdendo de goleada até para Venezuela (37%) e Bolívia (32%). Num estudo da FGV do ano passado, brasileiros disseram confiar prioritariamente nas Forças Armadas (59%) e na Igreja Católica (57%).
Numa pesquisa divulgada pelo Datafolha em junho, 47% dizem ter “vergonha de ser brasileiro”, número recorde segundo o instituto. A popularidade do atual governo não poderia ser baixa, a despeito dos sinais econômicos positivos, oscilando em torno dos 5%, das mais baixas já registradas no país que reelegeu seus três presidentes anteriores (FHC, Lula e Dilma).
A descrença geral no governo Temer e nas instituições democráticas ajuda a explicar não apenas a liderança atual de Lula nas pesquisas, mas a vista grossa que parte do eleitorado parece fazer ao representante máximo dos governos mais corruptos e lesivos da história do país, um projeto de poder que deixou uma terra arrasada em termos econômicos e, como provam as pesquisas, institucionais.
No artigo “Cinco narrativas que vão destruir o país de vez“, publicado em abril, já alertava para a raiz do problema: o lulopetismo é praticamente o único projeto de poder do país com uma narrativa estruturada, repetida sistemática e diligentemente por seus militantes nas ruas, nas redes sociais e principalmente nos grandes jornais, cada vez mais funcionando como assessoria de imprensa de Lula e sua “caravana”.
A popularidade de Michel Temer entrou em queda livre em meados deste ano quando os brasileiros foram bombardeados, 24 horas por dia, com as alegadas revelações do famigerado acordo de delação premiada dos irmãos Batista. O Brasil foi tomado de assalto por uma clara e coordenada tentativa de derrubar o atual governo que, felizmente, terminou com a revogação do acordo no início de setembro e a prisão dos donos da holding J&F e da JBS, maior processadora de carnes do mundo.
Mesmo com a prisão dos irmãos Batista e o cancelamento do acordo, o estrago estava feito. A autoridade moral do governo Temer foi ferida de morte. Todos os dados que mostram que o país está numa surpreendente recuperação, consequência direta de uma política econômica ortodoxa e responsável, não foram suficientes para que o brasileiro recupere a confiança.
Sem popularidade e sem narrativa, o governo atual abdicou o papel de liderança política e de fiel condutor da transição entre o lulopetismo e um novo projeto de país. Já que não há vácuo em política, Lula renasceu das cinzas como em 2006 e está cada vez mais desavergonhado nas aparições públicas e comícios, preenchendo no ideário popular a vaga de cavaleiro da esperança, pai dos pobres e, como se não bastasse, um injustiçado por “golpistas” que derrubaram um governo democraticamente eleito.
O nefasto projeto lulopetista de poder, junto com suas franjas na imprensa, na classe artística, em parte do mercado financeiro e do empresariado antiliberal, todos saudosos de um populista para chamar de seu, tem como fonte de energia a destruição da credibilidade das instituições democráticas do país. Cada meme ou notinha contra a democracia corresponde a uma garrafa de champanhe estourada por um dos companheiros de Lula ou por ele próprio.
Dilma foi afastada da presidência num processo conduzido pelo Congresso e com a supervisão do judiciário em cada etapa. A sessão final foi presidida pelo STF após a observação de todos os preceitos constitucionais e legais existentes e imaginados pelos ministros, o que poderia significar o fim definitivo do lulopetismo. Mas não é o que se vê, muito pelo contrário, como se viu no país pós-mensalão.
Se o Brasil não confia nos poderes que interromperam o mandato de Dilma, como ter certeza de que Lula e seus correligionários não foram vítima de um golpe? Na dúvida, há quem acredite que “ao menos as coisas estavam melhores no tempo dele”. Com adversários titubeantes, inseguros, envergonhados, pouco ou nada interessados na guerra cultural e de narrativas, o caminho está aberto para a volta do lulopetismo ao Planalto. Neste caso, salve-se quem puder.
Como uma infecção hospedeira, o lulopetismo se espalha num organismo frágil e debilitado por ele mesmo e que ainda não mostrou forças para reagir à altura. Sem tratamento, uma doença politica perfeitamente curável como esta pode levar o paciente para o cemitério em poucos meses. Se não é o que você quer para o país, a hora de acordar é agora.
Tanto o Congresso quanto o STF podem e devem ser criticados quando merecem, mas desde que o mesmo rigor seja aplicado a todos os agentes políticos do país. A mesma imprensa que bate diariamente no legislativo e judiciário por seus erros reais ou aparentes não poderia dar um passe livre para Lula, sua pré-campanha e sua narrativa, e depois se surpreender com sua força eleitoral. A militância das redações sabe o que está fazendo.
Quando apenas um dos lados está guerreando, é fácil prever o resultado de um embate. Ou o Brasil assume o combate político-cultural ao lulopetismo seriamente e com, no mínimo, a mesma sanha moralista que usa para vilipendiar a imagem do atual governo, do Congresso e do Judiciário, ou Nicolás Maduro já pode começar a escolher a roupa para a festa dos companheiros em janeiro de 2019.
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