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Alexandre Garcia

Alexandre Garcia

15 de março

A urna e a rua

Manifestantes pró-Bolsonaro com faixa contra o presidente da Câmara, Rodrigo Maia.
O presidente Jair Bolsonaro e manifestantes em Brasília. (Foto: Sergio Lima/AFP)

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O presidente pediu para repensar; governadores proibiram; a mídia ameaçou com contágio. Mas nem o presidente, os governadores e o coronavírus impediram que multidões ganhassem as ruas do 15 de março - de carro, moto ou a pé.

O que levou tanta gente a esse desafio, essa rebeldia? Antes de xingar de irresponsáveis os que deixaram suas casas no domingo, seria bom pensar sobre os motivos que levaram milhões a correr riscos de saúde, a se contrapor a governos e a supostos condutores de opinião.

Não são causas geradas do dia para a noite. Vêm de longe. Nos outros tempos, os políticos sabiam que o eleitor  exercia sua cidadania na urna e depois deixava nas mãos dos eleitos a condução dos assuntos públicos. Pois na era digital, em que as redes sociais elegeram o presidente, isso mudou.

O povo que depositou o voto majoritário na urna de outubro de 2018, não esqueceu em que votou. Também não esqueceu em quem votou para que executasse aquilo em que votou. E foi para as ruas cobrar daqueles que estão atrapalhando as mudanças na legislação e no combate à corrupção. Simples de perceber.

Simples de perceber também que agora está em prática a divisão de poderes arquitetada por Montesquieu e estabelecida na Constituição. O presidencialismo de coalisão - eufemismo para um sistema frankenstein de governo - foi abolido pelas urnas e posto em prática pelo ex-integrante do Legislativo que foi eleito chefe do Executivo. Partidos e lideranças políticas já não são donos de ministérios de estatais.

A mudança doeu nos fisiológicos de sempre e eles ainda tentam dobrar o presidente, para que ele ceda. E se não recebem ministérios, estatais, tentam grossas fatias do orçamento, que é do Poder Executivo. Simples de perceber.

O 15 de março demonstrou que não é um homem - são milhões - que não é uma facção, um partido; são ideias, é a vontade da maioria que não quer mais protelação no cumprimento do que foi aprovado nas urnas. Quer reformas, não quer destruição de valores, não quer corrupção, quer segurança, quer uma economia que possa gerar emprego e riqueza.

O presidente sabe que essa vontade é que manda. Afinal, a Constituição começa afirmando que todo poder emana do povo. Assim, ele não vai fazer o que nós, jornalistas, queremos que ele faça. Vai fazer o que as urnas mandam, ou será apenas mais um da lista dos que esqueceram dos compromissos com seus eleitores. E no domingo, o povo físico na rua exigiu de seus representantes que façam a sua parte na realização da vontade que foi posta nas urnas.

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