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Nascemos num país que não sofre terremotos, furacões, erupções vulcânicas; desfrutamos de um saudável clima variado, temos terra suficiente para alimentar o mundo, belezas naturais de todos os tipos; não temos atentados terroristas que volta e meia abalam outros países, nem tínhamos ódios raciais, ideológicos ou luta de classes.
Nos últimos anos, esses ódios foram se institucionalizando e agora se expressam nas ruas e noticiários. Parece masoquismo, em que podemos ser felizes mas nos submetemos à penitênciado sofrimento.
Como se não bastassem a crise sanitária, que já leva 44 mil vidas e a consequente crise econômica, que vai matando milhares de empresas e milhões de empregos, alimentamos uma crise institucional entre a Suprema Corte e a Presidência da República. O disse-me-disse entre uns e outros é seguido pelas torcidas da mídia e das ruas, quase com tanta fúria quanto certas torcidas organizadas do futebol - que, aliás, entraram também nesse campo.
A Saúde e a Economia sofrem crises reais, fora do controle e da vontade dos que operam esses setores. A crise político-institucional não está fora de controle. Acabaria no momento em que a sensatez imperasse de ambos os lados e em ambas as torcidas. Egos e vaidades cedendo passagem para o bem comum.
No inçado terreno da insensatez, inventaram do nada, do éter, do vazio, o fator militar. No masoquismo reinante, estão procurando, com o fósforo aceso, se há pólvora no barril. Em 1964, na lembrança de meus 23 anos, começou com a Igreja assustada com o comunismo; seguiram-se os grandes jornais - a TV ainda engatinhava - e o povo foi às ruas, exigir que os quartéis dessem um contragolpe no governo que estaria preparando a revolução marxista.
Na época, o presidente era o vice e não tinha representação de quase 58 milhões de eleitores. Agora mudaram os personagens, mas o libreto da ópera mostra uma reprise de argumentos.
E já que lembramos do período militar, recordemos que o Supremo não fechou um dia sequer e que até o Superior Tribunal Militar absolvia enquadrados na Lei de Segurança Nacional. Hoje já se enquadram pessoas na LSN. E a crise fabricada começa a andar por conta própria, com manifestos, foguetórios, vivandeiras de costume - e o povo fardado, formado para defesa da Pátria, da lei e da ordem, assiste preocupado a esse desperdício inútil de energia, num tempo em que todo poder nacional deveria se concentrar no combate a uma doença atinge a vida de pessoas físicas e jurídicas.
É insano alimentar mais uma crise, se estamos sob a mesma bandeira.