A quinta-feira (13) foi um dia de ganhos e perdas para o presidente da República. Aliás, ele estava eufórico: fez um discurso em Belém sorrindo o tempo todo. Foi recebido pela população, parecia aquelas afluências de campanha eleitoral.
Bolsonaro saiu do carro, cumprimentou todo mundo e depois, no discurso, falou da vida dele, de quando chegou aos 35 anos e os pais conseguiram comprar uma casa, que viveu de casa alugada, que o pai mexia em garimpo também. Foi quando se dirigiu aos paraenses que não tem casa e aos que fazem garimpo, enquanto fazia entregas do Minha Casa, Minha vida, ao lado do presidente da Caixa Econômica, Pedro Duarte Guimarães, e falando em regularizar os garimpos do Pará.
Essa euforia toda começou na véspera, ainda no estádio Mané Garrincha, em Brasília, no jogo do Flamengo, que ganhou por 2 a 0 do CSA. E lá ele levou o ministro Sergio Moro, só para mostrar para a elite intelectualizada que ela está falando sozinha e está longe do povo brasileiro.
Essa mesma elite dizia: “Moro está preocupando o Palácio, Moro vai cair...”. Aí o presidente entra com Moro no estádio Mané Garrincha e a torcida do Flamengo vibrando – que a gente costuma dizer “vou dizer para você e para a torcida do Flamengo”, que significa o povão. A torcida gritava: “Mito, mito, Moro, Moro”. Sem contar a linha de frente sensacional que entrou com ele: Moro, Mourão e Paulo Guedes.
Até o Paulo Guedes estava lá de paletó e gravata, levantando os braços para o povo. Jogaram a camisa do Flamengo, Mourão e Bolsonaro já estavam com ela, e Sergio Moro vestiu também.
Saída de Santos Cruz
Mas essa euforia terminou depois que foi anunciada a saída do general Santos Cruz. É uma grande perda para o governo, mas não estava dando certo entre ele e o presidente. Toda hora tinha um choque. Ele me falou certa vez sobre o secretário de comunicação, Fábio Wajngarten, e parece que estava havendo atritos.
Santos Cruz e Bolsonaro se dão muito bem, e o presidente sentiu muito com a saída: se dão bem no privado, mas na hora de funcionar começaram a bater cabeça e, é claro, fica o presidente e sai o ministro.
Foi nomeado um grande amigo do presidente. Inclusive, ele já vinha insistindo com esse amigo: o general Ramos, comandante militar do Sudeste. Só que o comandante assumiu em maio do ano passado, então, era questão de oportunidade, e o ministro da Defesa entrou nessa e o comandante do Exército, Edson Pujol, disse que iria encontrar um substituto, e o general Ramos aceitou como missão.
Na véspera, eu tinha almoçado com o ministro da Defesa, e ele tinha me dado uma dica: “Olha, o general Ramos é muito amigo do presidente e gosta muito dele e vai acabar trazendo ele para Brasília”. E acabou acontecendo.
O general Ramos prestou serviços em Israel, na antiga Iugoslávia, no comando das tropas do Haiti e é paraquedista como Bolsonaro e, sobretudo, são amigos muito próximos. Então, ele perdeu um general muito competente, de caráter irrepreensível, e recebeu um amigo.
E foi também um dia de leitura do relatório da reforma da Previdência, que deixou de fora a previdência dos estados. Isso significa que os governadores vão pressionar por emendas no Plenário, e – aprovando, claro, a reforma – incluindo estados e municípios.
Hoje cinco estados têm folhas de pagamento com maior valor em inativos do que os ativos, e logo outros estados entrarão nessa.
Ficou de fora a capitalização, mas ela não precisará de mudança na Constituição. Basta Lei Ordinária. E já existem o fundo de garantia (FGTS), os fundos de previdência das estatais, os fundos privados de previdência. Não é uma questão que vá fazer falta nisso tudo.
Outro assunto...
É uma crueldade usar como massa de manobra pessoas desinformadas sobre reforma da Previdência. Os brasileiros de segunda classe ganham em média de R$ 1.974 da previdência, e os de primeira classe ganham R$ 18.343. É o pessoal de alta categoria: do Judiciário, do Legislativo. Esses todos estão manobrando para tapear os outros que sustentam suas aposentadorias.
Os outros, aliás, não vão perder nada. Vão ganhar porque vai sobreviver a Previdência: não vai morrer. Agora, aqueles que são os privilegiados não querem perder o que tem, e usam como massa de manobra os demais.
Eu já disse que é o lobo usando os cordeiros.