Surpreendentemente, no mesmo dia os presidentes da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), discordaram do presidente Lula, que fez pouco da necessidade de déficit zero. Na última reunião com ministros, na semana passada, Lula disse: “Déficit zero para quê? Tem de gastar!” Chegou a dizer que dinheiro bom é dinheiro em obra. Sim, mas dinheiro em obra não é apenas dinheiro bom: é dinheiro sagrado, porque é dinheiro do contribuinte. E, proporcionalmente, quem mais é sacrificado é o que tem menos renda. Então, é sacrifício da maioria, da maciça maioria brasileira que tem renda baixa e paga imposto para sustentar governo.
Isso é importante: o dinheiro do imposto não vai para obra, não. O investimento é muito pouco; a grande maioria dos impostos vai para custeio, para bancar governo inchado, lento. Mas o presidente tem a mania do gasto. Gasto para ele é popularidade. E é fácil falar, porque falar é propaganda, e Lula está sempre fazendo propaganda. O presidente defende gasto mesmo sabendo que, do dinheiro para a obra, como dizia o ex-ministro da Fazenda Delfim Neto, só um terço vai de fato para a obra. Um terço vai para a propina – como a Lava Jato mostrou – e outro terço vai para a má administração da obra. Quando não se fiscaliza, a obra pública sempre é mais cara e mais demorada que a obra particular. Quando se fiscaliza, a obra é bem-feita, como fazem empreiteiras brasileiras nos Estados Unidos.
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Em dois eventos separados na segunda-feira, Lira e Pacheco disseram a mesma coisa: que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem razão. E o Legislativo votou o compromisso de buscar o déficit zero. Isso não foi brincadeira: os parlamentares se reuniram, derrubaram o teto de gastos e votaram o arcabouço para tornar viável a economia do país.
Mas o que estamos vendo com essas declarações do presidente? Lula andou até dizendo que a culpa é do mercado, porque o mercado é ganancioso, Como assim? Não foi o mercado que inventou o arcabouço, nem as votações. Mas Lula é estatizante, antimercado. É gastador e populista. Acha que o dinheiro público é da Mãe Joana. Mas não é: foi tirado do trabalhador, assim como os sindicatos agora querem também botar a mão no bolso do trabalhador.
Investimento estrangeiro no Brasil caiu 40%
Estamos vendo a consequência desse discurso. Os investimentos estrangeiros no Brasil caíram 40%: até setembro deste ano foram US$ 41,6 bilhões, contra US$ 68,8 bilhões no mesmo período do ano passado. A propaganda diz que o atual governo está “reconstruindo”, mas os números negam isso.
Onde é que Haddad está vendo espaço para mais queda de juros?
O ministro Haddad, que deve estar assistindo a esse bate-boca meio preocupado, disse na segunda-feira que há espaço para queda de juros, que há uma “gordura monetária”. Não entendi bem o que seja “gordura monetária”; ele deve ter encontrado este termo na prova do Enem. Mas não há espaço. Se o governo está gastando além do que arrecada, e está arrecadando menos, o déficit sobe. Como o governo vai cobrir o déficit e pagar as contas? Tirando dinheiro do mercado, botando papel no mercado. Como o governo tem de pagar juros da dívida, rolar a dívida e jogar papéis novos no mercado, ele tem de oferecer remuneração para isso. E a remuneração se chama juro. Onde é que está a gordura, então?
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