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Alexandre Garcia

Alexandre Garcia

Bolsonaro e os embaixadores

Eleição e segurança

Bolsonaro embaixadores
Presidente Jair Bolsonaro compartilhou sua insegurança com as urnas eletrônicas a representantes de outros países. (Foto: Joédson Alves/EFE)

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Por que Bolsonaro convidou embaixadores para ouvirem, na residência presidencial, um relato sobre questões internas da política brasileira? Porque – muitos embaixadores me dizem – a desinformação sobre o Brasil é muito grande, havendo necessidade de se obter os relatos sem intermediários. As notícias, do jeito que as versões vão sendo divulgadas, com a repetição e sem contestação, viram verdade. A propaganda que se misturou com a verdade durante a pandemia serve de alerta para os menos incautos. E, já que o Brasil é importante para 150 países que recebem nosso principal produto – o combustível para o corpo humano –, Bolsonaro quis contar para eles o que está num inquérito sobre invasão dos computadores do TSE.

Os presidentes do Supremo e do TSE, convidados, explicaram que não poderiam ir, por razões de isenção. Imagino que os ministros do Supremo que emitem opiniões no exterior consideram que a isenção do magistrado só vale dentro das fronteiras do Brasil. Bolsonaro lembrou que o presidente do TSE, ministro Edson Fachin, fez campanha por Dilma, defendia o MST, libertou Lula e o deixou apto a ser candidato, e nem assim considera que sua isenção o impede de ser juiz numa eleição em que estão a esquerda e Lula. Bolsonaro lembrou também da participação de Barroso num evento chamado de “Como derrubar um presidente”. E mostrou, em telão, Moraes ameaçando com cadeia e cassação de registro a quem fizer fake news. “Quem decide o que é fake news? Não é comportamento de magistrado”, observou o presidente.

O eleitor certamente quer que o voto dado seja realmente computado para seu escolhido. E a transparência precisa dar-lhe certeza disso

Os embaixadores certamente não vão opinar, nem externar julgamentos aqui no Brasil, mas vão mandar relatórios para suas chancelarias. Vão contar que o presidente reafirmou que quer eleição limpa e transparente, para que não haja contestação; que os militares foram convidados para a Comissão de Transparência do TSE, mas suas sugestões para segurança, a fim de evitar que um hacker fique oito meses nos computadores do tribunal, não foram aceitas. Em vez disso, segundo o presidente, ministros do tribunal fazem coro com a velha mídia, sugerindo que haverá golpe.

“Ainda há tempo de adotar o que os militares da área cibernética sugeriram”, disse o presidente. Fica estranho mesmo. Não seria mais fácil adotar o comprovante do voto digital acoplando uma impressora ? Foi aprovado e foi usado em Alagoas e Distrito Federal. Há 22 anos. O Supremo derrubou. Dilma vetou, derrubaram o veto. E, recentemente, Barroso foi ao Congresso ajudar a derrubar de novo o projeto. Por quê? Não seria mais fácil ter o comprovante? Todos ficariam satisfeitos e confiantes. E por que não aceitar as sugestões dos militares? Seria dividir com eles a responsabilidade pela segurança da apuração.

O eleitor certamente quer que o voto dado seja realmente computado para seu escolhido. E a transparência precisa dar-lhe certeza disso. Afinal, a eleição não é do TSE; é do eleitor. Essa teimosia de não aceitar sugestões seria arrogância, vaidade ou o quê? Imagino que os embaixadores mais atentos não esquecerão de registrar nos seus relatórios que o presidente, ao fim, repetiu uma frase do ministro da Defesa, dias atrás, em comunicado ao TSE: Eleição é questão de segurança nacional.

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

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