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Alexandre Garcia

Alexandre Garcia

Guerra da Ucrânia

Brasil mantém neutralidade porque tem negócios com Ucrânia e Rússia

Aplicação de herbicida, fertilizante, em Chapadão do Céu (GO) (Foto: Wenderson Araujo/CNA)

O encarregado de negócios da Ucrânia no Brasil, que é o chefe da representação da Ucrânia, pois está no lugar do embaixador, disse que o presidente Jair Bolsonaro deveria se informar melhor sobre o conflito, e que deveria conversar com o presidente da Ucrânia.

Ao mesmo tempo, o representante do Brasil nas Nações Unidas pediu um cessar-fogo, pediu paz, e ponderou que os dois lados não respeitaram o acordo de Minsk. É um acordo de setembro de 2014, feito sob a égide da Associação de Cooperação Econômica e Segurança Europeia, com diplomatas suíços assistindo. Foi assinado pela Rússia, pela Ucrânia e pelas duas repúblicas populares Donetsk e Lugansk, que estão em litígio, que estavam rebeladas da Ucrânia e queriam se tornar independentes em governos pró-Rússia. Um dos líderes de lá já tinha sido morto num atentado terrorista a bomba e muita gente já tinha morrido.

O acordo de 2014 é uma guerra que já vem de tempo. Pedia cessar-fogo, que fossem libertados os prisioneiros e reféns ilegais na Ucrânia. Pedia que os mercenários se retirassem do país, provavelmente russos. Pedia que os grupos armados milicianos entregassem as armas. E que a paz voltasse a reinar. E falava em descentralização do poder, ou seja, mais autonomia para essas duas regiões, que englobam uma região só, que é Donbass. Mas ninguém obedeceu, tudo continuou, por seis anos, numa brigalhada, até que agora o presidente da Rússia, Vladimir Putin, decidiu declarar que as duas são independentes e dar-lhes apoio militar. E foi o que aconteceu.

O Brasil mantém a neutralidade, porque tem negócios com os dois. Tem a promessa de garantia de fertilizantes, que a gente vai precisar. Afinal, a gente está alimentando também o mundo e dando segurança alimentar para o Brasil e cada vez mais o agro está crescendo. Neste ano, o agro vai significar no mínimo uma terça parte do PIB brasileiro; e já garantiu o crescimento do PIB no ano passado. Então, precisa dar toda a atenção aos fertilizantes, que a gente não tem, embora tenha, porque a legislação e a Justiça brasileira não permitem a exploração do que está faltando, porque seria área indígena, lá na Amazônia, ou área de proteção ambiental, e aí não pode. E aí a gente tem que trazer lá de Belarus, ou da Ucrânia, ou da Rússia, o cloreto de potássio. São coisas malucas que tem contra o Brasil.

Outra coisa que a gente tem que pensar é que ano eleitoral não é ano de brincar com voto não. Não é ano de votar em qualquer um.  Vejam só: o presidente da Ucrânia era um comediante, sem nenhuma experiência na política, nas grandes questões políticas, e foi eleito porque era popular. Ele teve 73%, porque aparecia na televisão, fazendo lá um professor que sem querer chegou à Presidência da Ucrânia. Foi a realidade da vida imitando a arte. Então, a gente tem que pensar muito antes de votar. Fica essa lição.

Uma outra questão que as imagens da guerra mostram, para a gente ter cuidado. Todo mundo que assiste televisão viu os ucranianos jogando coquetéis molotov em dois tanques russos. Só que isso foi em janeiro, lá no Cazaquistão, e não eram tanques russos. Não tinha nada a ver. E saiu como notícia. Todo mundo noticiou que um míssil atingiu um apartamento. O que eu vi foi um foguete. E um foguete é burro, um míssil é inteligente. Faz diferença dizer o nome. Se o míssil atingiu o apartamento, é que nesse apartamento tinha alguém que precisava ser morto. Agora, se o foguete atingiu, foi porque jogaram a esmo e atingiu um prédio com civis, que não têm nada a ver com a guerra.

Então, a gente tem que ter muito cuidado neste ano eleitoral, porque nós vamos ser alvo de muita notícia falsa nesse ano eleitoral. Então, é para a gente receber a notícia como eu já falei aqui: não receber a notícia embrulhada, desembrulhar bem para ver o que existe por trás dela.

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