O acidente doméstico do presidente Lula o livra de estar em Kazan ao lado de aiatolás e talibãs, além de um conjunto majoritário de dirigentes autoritários que agora se reúnem no Brics ampliado, para fustigar os Estados Unidos. O ministro dos Relações Exteriores, Mauro Vieira, que chefia a delegação brasileira, adiantou que não se vai falar em Ucrânia. Claro que não; na terra do agressor, vão falar do agredido? Nem vão falar das intenções da China sobre Taiwan, nem da decisão do Irã de extinguir o Estado de Israel, tampouco das proibições dos talibãs que impedem as mulheres de falar em público e de ir além do sexto ano escolar no Afeganistão. Ninguém lá vai se queixar do regime cubano, nem pedir que Maduro aceite o resultado da eleição e entregue o poder na Venezuela.
Na pauta, sim, substituir o dólar como moeda internacional de troca e revogar o acordo de Bretton Woods, em que a maioria das nações do mundo criou o Banco de Reconstrução e Desenvolvimento, também chamado Banco Mundial; o FMI, para socorrer as economias dos países signatários e exigir sanidade nas contas públicas; e o Acordo Geral de Tarifas e Comércio (Gatt), regulando o comércio internacional. Sugerem os anti-Ocidente outros rumos, sob a condução da China e Rússia, com financiamento do banco comandado por Dilma Rousseff. Enquanto isso, o Irã deseja impor o islamismo no mundo, e já trata disso em relação à Europa.
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E o Brasil está lá, participando de tudo isso. A política externa de um país é o prolongamento da vontade nacional. E a vontade nacional não é nada disso. Se olharmos a expressão disso no voto, podemos dizer que o país está dividido pela metade, a valer a eleição de dois anos atrás; mas está majoritariamente ao lado do ocidente e dos valores judaico-cristãos, na eleição mais recente. E a política externa brasileira atual contraria essa expressão nacional. Além disso, a Constituição, no artigo 4.º, diz que nossas relações internacionais devem ser regidas pelo princípio (entre outros) do “repúdio ao terrorismo e ao racismo”. É oposto da nossa posição em relação a Israel.
O Brasil era conhecido por uma cautelosa posição de equilíbrio em sua política externa. Agora parece que estamos com Maduro, o Hamas, o Irã. Brasileiros deram sangue numa guerra contra ditadores e agora somos associados a ditadores. Nosso vizinho argentino percebeu a vaga no protagonismo ocidental e já instruiu todo o seu corpo diplomático a não apoiar, no planeta, nenhum projeto, documento, resolução ou declaração que contrarie os valores fundamentais da vida, liberdade e propriedade; nada que desestimule o crescimento e renda, nos exatos termos da Declaração dos Direitos do Homem que é base da ONU. Vamos abrir mão desses direitos em troca do absolutismo de Estado socialista?
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