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Soubemos, pela advogada da cabeleireira Débora, que escreveu “perdeu, mané” com o batom na estátua da Justiça em frente do STF, que ela por duas vezes pediu desculpas ao Supremo, e por duas vezes foi negada liminarmente a soltura dela. Ela está presa há quase dois anos, longe dos filhos de 6 e 9 anos. O Código de Processo Penal diz que mães de crianças menores de 12 anos têm direito à prisão domiciliar; aconteceu exatamente isso com a mulher de um ex-governador do Rio de Janeiro, e os filhos dela já tinham mais de 12 anos. E a gravidade dos crimes dela também era bem diferente. Mas o ministro Alexandre de Moraes alega que a soltura de Débora significaria “grave risco à ordem pública”.
Em 2006, no governo Lula, 500 invasores depredaram tudo na Câmara dos Deputados, feriram 24 pessoas, destruíram, viraram um carro. Eram do Movimento de Libertação dos Sem-Terra. Os que foram presos logo foram soltos exatamente sob a alegação de que, sendo réus primários, não ofereciam perigo à ordem pública – mesmo depois de terem bagunçado completamente, destruído, depredado, vandalizado a Câmara dos Deputados. Façam a comparação e tirem suas conclusões.
Ato de Lula pelo 8 de janeiro não tinha povo, só os aduladores de costume
Lula falou no ato dos dois anos do 8 de janeiro, mas o público na Praça dos Três Poderes foi mínimo: 1,2 mil pessoas, segundo o site Poder360. Lula passou recibo, chegou a dizer que seria suficiente mesmo que houvesse uma só pessoa. Disse também que vai ser implacável, que os responsáveis pelo 8 de janeiro estão sendo investigados e punidos. Falou como se fosse o juiz vingador, e os 400 convidados dentro do palácio gritaram “sem anistia, sem anistia”. Eram muitos artistas, ministros, cinco representantes do Supremo (o presidente Luís Roberto Barroso não foi, mas deixou uma carta para Edson Fachin ler), o ministro da Defesa e os três chefes militares, que não desceram a rampa para o palácio (ou pelo menos eu não consegui ver).
O “amante” da democracia está pronto para traí-la com Nicolás Maduro
E aí Lula cometeu aquele ato falho bem típico dele. “Ato falho” é quando o inconsciente, que é a verdade da pessoa, passa por cima do superego, que é a censura, e o inconsciente fala a verdade. Lula disse que era um “amante” da democracia – não marido, mas amante da democracia, porque na maioria das vezes os maridos são mais apaixonados pela amante que pela esposa. Dizem alguns jornalistas ingênuos que Janja fez um olhar de reprovação. Muito pelo contrário, não é? Foi um ato falho, como eu disse.
Será que nesta sexta-feira Lula vai trair a amante democracia, mandando uma representante para avalizar a posse de um ditador na Venezuela? Ou será que vai cancelar a ida da embaixadora? Torço para que cancele, para que não passemos esse vexame. Nove ex-presidentes latino-americanos já foram ameaçados de prisão; eles seriam uma “guarda de honra” do verdadeiro vencedor da eleição, o embaixador Edmundo González, para conduzi-lo para a posse – a posse real, legal, não essa de Nicolás Maduro. Jair Bolsonaro estaria com eles, mas está sem o passaporte. Aliás, neste 8 de janeiro Donald Trump convidou Bolsonaro para sua posse, no próximo dia 20, e a defesa dele vai pedir o passaporte, só para ir a Washington e voltar. Afinal, é o presidente de um país amigo que faz um convite a um ex-presidente, que vai se comprometer a ir e voltar. Minha torcida é para que Lula não envie representante, cancele a presença da embaixadora na posse de Maduro, e que Bolsonaro consiga ver o seu amigo Trump, que o convidou.
Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos