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Preparem-se, o ano eleitoral de 2022 vai ser cheio de emoções. Se já tivemos três anos com as preliminares que nos deixaram de cabelo em pé, imaginem o que vai ser esta final. Desde a surpreendente eleição do deputado do baixo-clero, está no ar a vontade de uma desforra pelo lado que perdeu, e a vontade de ser confirmado no quarto ano, pelo que ganhou.
Todas as tentativas de tapetão até agora foram vãs. Chegou a haver uma CPI claramente eleitoreira, mas o resultado foi desolador. O esforço da mídia adversária saiu pela culatra - ela acabou perdendo audiência e leitores e só fez repetir o nome do presidente milhares de vezes, marcando ainda mais o seu nome.
Neste ano de reta final para renovar ou não o seu mandato, o desespero tem sido mau conselheiro, porque acabaram consagrando o nome do presidente como centro de todas as discussões. Nem mesmo os que desejam derrotá-lo acreditam nas pesquisas, porque se acreditassem, estariam tranquilos com o resultado da eleição.
Na ausência de notícias ruins sobre o governo, até o tamanho de sapato do presidente virou destaque na cobertura internacional direto do Kremlin. O desespero bloqueou a percepção, e a ingenuidade deu margem à correção de piadas e memes. A checagem e o desmentido ficaram ainda mais divertidos que as montagens, como aconteceu na visita à Rússia.
O inusitado também aconteceu. Ministros da Suprema Corte, juízes do Tribunal Superior Eleitoral, desceram para a política eleitoral ao criticar um dos candidatos a presidente, deixando aflorar sua natureza de advogados. Como se sabe, a vocação do advogado é trabalhar a favor de alguém e contra alguém ou algo. Advogado é sempre parcial, a favor de seu cliente; já o juiz tem que ser sempre imparcial, ao lado da lei e da justiça.
Fiquei pensando se não se deveria alterar a composição do Supremo, para evitar essa novidade de ministros da Corte, advogados profissionais, se manifestarem como advogados. Que o tribunal fosse composto só por juízes de carreira, depois de passarem por todas as instâncias e então, no topo, no Superior Tribunal de Justiça, ser escolhido o mais brilhante, para ser submetido ao Senado como juiz supremo.
Estudantes de Direito certamente estranham, quando não se escandalizam, que juízes do Supremo emitam sem parar opiniões, suposições e pré-julgamentos, justo no ano em que terão que ser juízes de uma eleição. Isso também faz parte das emoções de 2022.
Enfim, preparemos nossos olhos e ouvidos para notícias falsas, sofismas, boatos, fofocas, suposições, insinuações, invenções - escritas, faladas, desenhadas, filmadas, fotografadas, editadas e até carimbadas como checadas e verdadeiras. Preparemo-nos para não comprar a verdade já embrulhada. Aceitar assim é como um ato de fé, mas isso é para as questões espirituais, não para decidir o futuro dos nossos filhos, nossos empregos, nossos empreendimentos, nosso país.
Desembrulhemos o que oferecem para nossos olhos e ouvidos, sem a emoção da fé, mas com o ceticismo da razão e submetamos as novidades ao nosso filtro, nosso escrutínio, porque este é um ano em que vai chover desinformação.