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Alexandre Garcia

Alexandre Garcia

Saúde pública

Dengue e Covid

O Aedes Aegypti, mosquito transmissor da dengue, zika e chikungunya.
O Aedes Aegypti, mosquito transmissor da dengue, zika e chikungunya. (Foto: Ag. Pará/Divulgação)

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Por que a dengue não tem o “ibope” da Covid? A Covid contou com o alarmismo da mídia, que afastou as pessoas de seus semelhantes, fechou lojas, escolas e fábricas, esvaziou as ruas, fez todo mundo andar de máscara, inocular-se de um experimento sem teste conclusivo, e ainda tentaram impedir as pessoas de se tratarem com medicamentos baratos e eficazes. Teve até uma CPI. Não custa manter a memória daqueles tempos. Agora temos a dengue, uma dolorosa doença que já matou 4 mil brasileiros – no mínimo – e fez sofrer 6 milhões. Outras 3 mil mortes ainda podem ser atribuídas à dengue, elevando a perda a 7 mil vidas. Os números atuais são recordistas na história da dengue no Brasil.

Enquanto a dengue é nossa velha conhecida, a Covid chegou envolta em mistério e foi fácil gerar pânico. A dengue, de prevenção relativamente óbvia, e com vacina pronta e testada, parece não receber a atenção daqueles que usaram de todos os meios para apavorar a população contra o vírus que seria de morcego. O morcego assustou mais que o mosquito. O bom e velho fumacê expulsa o mosquito da dengue. Mas se evaporou. As equipes de saúde que combatiam a febre amarela de casa em casa, na minha infância, sumiram. Campanhas sobre água parada nos quintais e vasos de apartamento foram esquecidas. E a vacina, disponível e eficaz, foi comprada em quantidade insuficiente.

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A cada ano fica pior; basta olhar o gráfico de mortes, que vêm subindo, inclusive no Distrito Federal, que é o campeão, vindo depois estados como Minas Gerais, Espírito Santo, Goiás, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Santa Catarina. E diz o Índice de Progresso Social que Brasília é o melhor lugar do Brasil. Pelo jeito, também para o mosquito. Que progresso social é esse em que somos incapazes de impedir a perigosíssima dengue hemorrágica? O pior é que a pouca vacina que está disponível não tem sido procurada, depois da frustração da picada da Pfizer que, além de não ser eficaz na imunização, ainda vem com consequências que assustam. A vacina do Instituto Butantan contra a dengue, que está na última fase de teste, se mostra eficaz e segura, em dose única. Ainda completa neste mês os cinco anos de testes com 17 mil voluntários. Por enquanto, temos uma tetravalente aprovada pela Indonésia, pela União Europeia e pela Anvisa, em duas doses.

Então cabe a pergunta: por que tratamos a dengue com obsequioso recato, e cometemos tanto exagero para apavorar as pessoas com o coronavírus? Ao se comparar o que se fez no governo Bolsonaro e o que se faz no governo Lula, parece evidente que, também nas epidemias, há as diferenças de tratamento que temos observado no Judiciário. Não se trata de uma enfermidade desimportante. Os que tiveram dengue nos fazem relatos terríveis; a dengue hemorrágica é ainda pior. Mas não é justo para a população – que é a razão da existência da mídia – que ela seja usada em campanhas e depois em omissão de campanhas.

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Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

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